Jorge Mautner apresenta documentário sobre visita a Cuba em BH

Músico e escritor é convidado especial na abertura do 1º Inverno das Artes da Fundação Clóvis Salgado, nesta segunda-feira

por Carolina Braga 06/07/2015 09:01
DARYAN DORNELES/DIVULGAÇÃO
O músico e escritor Jorge Mautner convidou o diretor uruguaio Guillermo Planel para filmar sua primeira passagem pela ilha do Caribe (foto: DARYAN DORNELES/DIVULGAÇÃO)
No ano passado, 15 dias antes do anúncio da queda do embargo dos Estados Unidos a Cuba, a ilha recebeu a visita de um brasileiro ilustre: Jorge Mautner. “Já que eu estava indo pela primeira vez, resolvi fazer um filme”, conta o músico e escritor que nesta segunda-feira inaugura o 1º Inverno das Artes da Fundação Clóvis Salgado. Mautner convidou o diretor uruguaio radicado no Rio de Janeiro Guillermo Planel para registrar seus passos no país de Fidel Castro.


A câmera de Planel flagrou-o tocando e cantando músicas de Roberto Carlos com cubanos em praça pública; apresentando-se ao lado de Bem Gil, ao violão, em um palco tradicional; travando contato com o ritual da Santeria, assim como visitando sinagogas.

A viagem a Havana é o que também o traz a Belo Horizonte, nesta segunda. 'Mautner em Cuba', que tem duração de 75 minutos e é o segundo documentário sobre Mautner – o primeiro foi 'Jorge Mautner – O filho do holocausto' (2013), de Pedro Bial – abre a programação, prevista para se estender até o próximo dia 27. O músico fará uma breve apresentação do filme e, logo depois, ocupará a Sala Juvenal dias com uma palestra-show.

“Como faço isso 25 horas por dia, é o maior divertimento”, brinca. Falar não é mesmo problema para ele. Aliás, num diálogo com Mautner, é difícil acompanhar a velocidade de sua mente. Para este encontro com o público mineiro, o autor de 'Maracatu atômico' escolheu um tema recorrente em sua obra e em suas reflexões: o Brasil. Mautner exalta sua terra natal sem qualquer pudor ou controle e mistura suas afirmações com referências ao 1livro Kaos, que ele publicou em 1963. “O mais importante é o povo brasileiro, que tem esse amálgama que vai além do multiculturalismo”, afirma.

ONDA Seu discurso passa pela filosofia, antropologia, história, religião, literatura, política e a até neurociência, uma nova paixão. Mautner entende que, em seu 'Manifesto comunista', Karl Marx associa as grandes transformações da humanidade com a comunicação. Para o músico, na velocidade que o mundo caminha hoje, está claro o quanto cada notícia carrega com ela uma carga de emoção. Por isso, ele encara com naturalidade a atual onda de conservadorismo na política brasileira. “Tem que haver uma onda contrária porque, senão, não tem graça.”

Ele classifica como uma grande vitória a aprovação, nos Estados Unidos, do casamento gay em todo o país. “Mas isso tudo faz parte da democracia. O que acho que falta por aqui é instrução pública para todo o mundo”, diz. Para fundamentar a ideia, lembra Tom Jobim e Bertolt Brecht. Se o autor de Águas de março acreditava que o Brasil não era para principiantes, do dramaturgo alemão ele cita uma frase famosa: “O problema daqueles que não querem saber de política é que acabam sendo vítimas daqueles que só querem saber de política”.

Não há como se aproximar das ideias e da arte de Jorge Mautner sem ouvir dele suas convicções – nada rígidas – sobre o mundo. A palestra-show tem mais fala do que música. Nos concertos, apenas a proporção é diferente. No mês que vem, Mautner faz show de lançamento em São Paulo da caixa Zona fantasma, que reúne quatro discos seus lançados na década de 1980. Ele convidou para dividir o palco a cantora Daniela Mercury. “É minha amiga, mas também por causa da posição que ela tem sobre o feminismo. É uma pessoa maravilhosa em todos os sentidos e tem pensamentos convergentes com os meus.”

Integram Zona fantasma os discos Bomba de estrelas (1981), Antimaldito (1985), O poeta e o esfomeado (1987) e Árvore da vida (1988). Todos refletem, de uma maneira ou de outra, os movimentos políticos e culturais daquela época. O repertório tem parcerias com Caetano Veloso, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Gilberto Gil, Robertinho do Recife, Zé Ramalho e Nelson Jacobina.

Atrações desta segunda

» 19h – Exibição do documentário Mautner em Cuba (Guillermo Planel, 2015). Cine Humberto Mauro.  Entrada gratuita, com retirada de ingressos 30 minutos antes da sessão.

» 21h – Palestra-show de Jorge Mautner. Sala Juvenal Dias. R$ 50 e R$ 25 (meia-entrada)

 

Projeto quer esquentar programação de julho

 

Além de Jorge Mautner, nomes como Jards Macalé e Paulinho da Viola, respectivamente nos dias 17/7 e 18/7, também farão parte da programação do Inverno das Artes. O projeto foi criado com o objetivo de ocupar os espaços da Fundação Clóvis Salgado num mês (julho) e num dia da semana (segundas-feiras) que não costumam ser dos mais movimentados.

De acordo com Ray Ribeiro, diretora de programação do Palácio das Artes, as atrações se concentram nas áreas de música, cinema e artes visuais.

Todas as segundas de julho serão ocupadas por uma ação do evento. As crianças também serão contempladas com atividades específicas, aos sábados pela manhã. “É uma carência que nós temos. Precisamos nos aproximar ainda mais das crianças e faremos isso por meio das artes visuais”, afirma a diretora.

Nesta primeira edição, as atrações foram definidas a partir de parcerias. Assim, há programas gratuitos, como as sessões de cinema, e outros pagos. O show de Paulinho da Viola, por exemplo, cobra valores de mercado, com os ingressos variando entre R$ 90 (meia na plateia superior) e R$ 240 (inteira na plateia 1).

Um dos destaques da grade com entrada franca é a maratona de terror marcada para o próximo dia 17. 'A hora do pesadelo' (1984, Wes Craven) e ' Sexta-feira 13' (1980, Sean S. Cunningham) serão exibidos a partir das 21h, num telão instalado no Parque Municipal. Serão distribuídos 500 ingressos, um dia antes, na Fundação Clóvis Salgado.

BIOGRAFIA DO MALDITO

Nascido em 1941, no Rio de Janeiro, Jorge Mautner começou a carreira artística em 1956. A primeira música foi Olhar bestial (1958) e, em 1962, publicou o primeiro livro, Deus da chuva e da morte. Há 50 anos gravou um compacto com as canções Radioatividade e Não, não, não. Durante a ditadura militar, exilou-se nos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, em 1968, assinou o roteiro do filme Jardim de guerra (Neville D’Almeida). Nos anos 1970, conheceu Caetano Veloso e Gilberto Gil, em Londres. Tornaram-se parceiros no movimento Tropicália. Lançou 19 discos e ao menos 13 livros.

1º Inverno das Artes
Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1537, (31) 3236-7400. Detalhes da programação no site da Fundação

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