O que mais conta para quem aderiu à moda do financiamento coletivo (pelo lado de quem investe) é o desejo de ver a coisa acontecer. “Eu, pelo menos, apoio muito mais pela causa do que propriamente por causa das recompensas. (Avalio) Se o tema me afeta, se o considero importante”, afirma a jornalista e relações-públicas Sâmia Bachelane. “Nem sei quem são (os autores dos projetos que apoia). Não tenho contato”, conta o músico Maurício Cambraia Sanches. “Leio, dou uma olhada (nos projetos) e contribuo com aqueles que acho mais bacana.”
Conhecido como Zé do Bêlo (diminutivo de cabelo), Maurício vive atualmente em João Pessoa, na Paraíba. Ele é de Porto Alegre e se transferiu para o Nordeste por causa de uma pesquisa que desenvolve a respeito das sonoridades daquela região. Nesse percurso, não fez nenhuma paradinha em Minas. Por isso, não tem ideia do que há de novo na música daqui e desconhece o ressurgimento do carnaval de rua de Belo Horizonte e nomes associados a ele, como Então, brilha.
No entanto, via plataforma Catarse.me, já apoiou a gravação do primeiro disco solo de um dos fundadores do bloco carnavalesco mineiro. Como recompensa, receberá agradecimentos no show de lançamento e a autorização para o download do álbum. “Nunca cuidei disso. Já apoiei sete ou oito projetos, sempre de música, e em alguns casos não recebi a recompensa”, diz.
saiba mais
-
Participação latina cresce no mercado de séries da TV paga
-
Festa dos 150 anos de lançamento de Alice no país das maravilhas vira diversão em BH
-
Substituto de Roberto Saviano, Ioan Grillo participa hoje da Flip em Paraty
-
J.K. Rowling responde fã em português no Twitter: "Eu sinto muito"
-
Escritora argentina diz que sucesso da América Latina depende do Brasil
-
Preço fixo do livro pode democratizar acesso e fortalecer cadeia produtiva
-
Após 12 álbuns solo, Patrícia Marx recorre ao financiamento coletivo para lançar EP
-
Dalai Lama faz 80 anos e é homenageado por músicos jovens e veteranos
-
Jorge Mautner apresenta documentário sobre visita a Cuba em BH
“É muito chato abandonar, sumir. Tenho procurado deixar tudo muito claro. Os apoiadores têm meu contato via Fã Page do Facebook, meu e-mail. Qualquer coisa, estou aqui”, afirma o diretor goiano Tiago Vieira. Foi graças ao financiamento coletivo que ele conseguiu finalizar o curta-metragem Quando parei de me preocupar com canalhas.
O filme, protagonizado por Matheus Nachtergaele, estreou em maio passado, num evento paralelo ao Festival de Cannes. No próximo mês, deve ter sua primeira exibição no Brasil, em competição no Festival de Gramado. Até hoje o diretor ainda não conseguiu se organizar para entregar todas as recompensas prometidas durante a campanha de financiamento.
“Tenho que repassar camisetas e cartazes, que demandam uma grana a mais. Vou fazer com calma, mas não escondo nada. Mantenho meu canal aberto e sempre comunico tudo que está acontecendo”, afirma. Tiago assegura que o compromisso será cumprido ainda este ano. Ainda assim, na pele de apoiador de outras oito campanhas parecidas com a que ele lançou no primeiro semestre deste ano, diz que seu objetivo não é material. “Quando apoio, quero que o projeto aconteça”, frisa.
Sâmia Bachelane já incluiu o crowdfunding no orçamento mensal. Em geral, investe de R$ 20 a R$ 60. Mesmo que a recompensa não seja importante, reconhece que define o valor a partir do “brinde” oferecido. “Às vezes, por R$ 10 a mais você recebe uma lembrança daquilo”, diz.
Ela tem experiências em plataformas como Catarse, Variável 5, Vakinha, Kicante e outras. Pelo que conta, o compromisso e a pontualidade com as recompensas não são o forte deste modelo. Eis uma maturidade que ainda está por ser conquistada no Brasil. O crowdfunding já demonstrou a força que tem para o financiamento de iniciativas independentes no país. No campo da cultura, surge como uma alternativa ao estrangulamento das leis de incentivo. Mas é preciso melhorar a relação da pós-produção. “É claro que a gente apoia como uma forma de fortalecer o miúdo”, diz a profissional de comunicação.
Entre as tantas iniciativas em que embarcou, Sâmia revela nunca ter se decepcionado. “Fiquei triste por alguns não terem conseguido bater a meta”, afirma. Cada projeto listado numa plataforma de financiamento coletivo tem um piso estabelecido (a meta) para atingir. Caso esse valor não seja alcançado, o autor da proposta não recebe nada, e as doações feitas para ele são devolvidas.
Cultura lidera
O crowdfunding no Brasil começou em 2010. Uma das primeiras plataformas a surgir foi dedicada à produção de shows, a Queremos!. Hoje, apesar e o modelo de financiamento coletivo ter-se expandido para diversas áreas, iniciativas culturais são as mais populares e procuradas. Segundo a pesquisa Retrato do financiamento coletivo no Brasil, enquanto 52% dos entrevistados disseram ter interesse em fomentar propostas na área da cultura, 41% preferem as de viés social e 24%, temas ligados a empreendedorismo.