O escritor amazonense Milton Hatoum tem um lema: quantidade não é sinônimo de qualidade. Em sua consistente carreira literária, ele publicou até aqui apenas seis livros, sendo quatro romances, um de crônicas e um de contos. Hatoum prepara a sétima obra, 'O lugar mais sombrio', que deve ficar pronta ainda este ano. “Não é bom publicar muito. Às vezes, você publica 20 livros e não escreve nenhum. Claro que existe a pressão do mercado, mas temos exemplos de grandes escritores que nunca se preocuparam com isso, como o Raduan Nassar e o mexicano Juan Rulfo”, afirma.
Haverá palestras, mesas de debate, sessões de autógrafos, exposições, apresentações de teatro, música, cinema, performances, intervenções urbanas, oficinas, entrevistas, saraus e narrações de histórias e a exposição Cidades escritas, que vai reunir fotografias de Daniel Mordzinski e textos de Afonso Borges. Há mais de 30 anos Daniel se dedica a retratar autores. Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, José Saramago e Jorge Luis Borges posaram para ele.
“Acho o FLI - BH não só importante para a cidade, mas para Minas também, que é um estado de grandes escritores, poetas e narradores. Acredito que tem tudo para dar certo e certamente vai haver um envolvimento grande dos leitores e das pessoas que estão acostumadas com esse tipo de evento”, comenta Hatoum. A mesa do escritor terá a mediação da escritora mineira Maria Esther Maciel e a participação dos premiados gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, que adaptaram Dois irmãos para os quadrinhos.
Com o tema “Imagina o mundo, imagina a cidade”, o FLI-BH homenageia nesta edição Carlos Drummond de Andrade. Hatoum diz que tanto o poeta itabirano quanto Guimarães Rosa foram dois autores essenciais em sua formação e estão sempre presentes em suas obras. “É raro o dia em que eu não leia Drummond. É quase um vício”, revela. O amazonense acrescenta que se considera um poeta frustrado e que começou sua trajetória na literatura justamente escrevendo livrinhos de poesia. “Mas eu não tinha vocação. Até porque não existe um médio ou um pequeno poeta. O romance, sim, pode ter falhas, por isso acabei me tornando romancista”, conta.
O escritor, nascido em Manaus, mas que vive há anos em São Paulo, acredita que eventos como o Festival Literário Internacional de Belo Horizonte contribuam para a formação de novos leitores, mas, em sua opinião, nada substitui o papel da escola. “A formação do bom leitor está na escola. Claro que existe o leitor espontâneo, mas é bem mais raro. A nossa grande possibilidade está no ensino ainda.”
ADAPTAÇÕES Em 2015, duas das obras mais importantes de Milton Hatoum romperam as barreiras da literatura e ganharam versões interessantes para o cinema, teatro, quadrinhos e televisão. Órfãos do Eldorado, dirigido por Guilherme Coelho, abriu em janeiro a Mostra de Cinema de Tiradentes. “O roteiro do filme não segue o livro, mas gostei bastante e até fiz uma ponta no filme como um pescador. Infelizmente, não cortaram a cena”, brinca. Dois irmãos, que já havia sido levado para os palcos, ganhou a elogiada adaptação para quadrinhos dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e em breve vai estrear na tela da TV Globo, numa minissérie do diretor Luiz Fernando Carvalho. “Já vi algumas fotos de cenas e está ficando maravilhoso. A Maria Camargo, roteirista da série, sonha com isso há oito anos e tenho certeza de que vai ser um trabalho fantástico”, aposta.
Há algum tempo, o escritor trabalha no projeto do seu novo livro, O lugar mais sombrio. Ele explica que serão dois volumes, mas que a leitura de um independe do outro, apesar de haver personagens de um que retornam no outro. A ideia é lançar o livro neste ano, mas, como Hatoum se diz um ‘pouco lento’, evita confirmar. “Sem falar que sou um dinossauro, ainda escrevo à mão e a caneta. Com a mão sou mais rápido e consigo transmitir meu pensamento melhor.”
FLI-BH
Desta quinta até domingo, das 9h às 22h.
Parque Municipal Américo Renné Giannetti.
Entrada franca. As palestras e conferências terão tradução em libras.
Informações: (31) 3277-9833. Inscrições para oficinas: www.flibh.com.br/oficinas
Campanha de arrecadação de livros
“Compartilhe a leitura. Doe um livro”. Este é o mote da campanha de arrecadação de livros que a Fundação Municipal de Cultura promove até o próximo dia 28, nos centros culturais e de referência, bibliotecas, Museu Histórico Abílio Barreto e na sede da própria fundação, na Rua da Bahia. No Parque Municipal, durante o festival, também haverá arrecadação. O objetivo é mobilizar a cidade em torno da importância da literatura e da circulação de livros. O destino dos livros arrecadados na campanha serão as bibliotecas comunitárias de BH, além de pontos de ônibus da cidade, para integrar o Projeto Ponto do Livro.
Oficinas
A programação de oficinas vai de temáticas voltadas para profissionais que lidam com a formação de leitores ao incentivo à criação literária e artística. Para a oferta dessas atividades, estarão presentes Aline Cântia, Joca Reiners Terron, Fábio Moon e Gabriel Bá, Ana Elisa Ribeiro, Luiz Percival Leme Britto e Léo Cunha, entre outros. As inscrições para as oficinas são gratuitas e podem ser feitas pelo site flibh.com.br/oficinas.
O FESTIVAL EM NÚMEROS
» 118 convidados
» 60 lançamentos de livros
» 34 mesas/palestras
» 40 rodas de leitura e narrações de histórias
» 14 espetáculos/performances/saraus
» 14 filmes na mostra Interseções: cinema e literatura
» 11 oficinas especializadas
» 17 oficinas de sensibilização
» 3 exposições
» 2 feiras de livros
» 2praças e 1 feira de alimentação
AGENDA
Quinta-feira
Narração de histórias: Beatriz Myrrha em “Obrigada pela arte que me conta”/Parceria Sesc, no Palco de Histórias
Cortejo literário com Grupo Trampolim. Às 17h. Local de saída: Praça sete em direção ao Parque Municipal.
Conferência “Imagina o mundo, imagina a cidade”, de Milton Hatoum. Às 19h30, no Teatro Francisco Nunes
Exposição Cidades escritas, com 30 fotografias de Daniel Mordzinski. Abertura, hoje, dia 25, às 9h, no hall do Teatro Francisco Nunes, com a presença do fotógrafo.a
Dia 26
Mesa “Leitura e literatura na primeira infância”, com Yolanda Reyes (Colômbia), Sueli Baliza (BH), Patricia Pereira Leite (SP) e Mônica Correia (BH). Às 10h, no Teatro Francisco Nunes
Dia 27
Mesa “A vida dos outros: Sobre escrever biografias”, com Nádia Batella Gotlib (SP), Regina Echeverria (SP) e João Paulo Cunha (BH). Às 11h30, no Teatro Francisco Nunes
Mesa “O cotidiano escrito”, com Ana Martins Marques (BH), Inês Pedrosa (Portugal), Beatriz Hernanz (Espanha) e Francisco de Moraes Mendes (BH). Às 20h, Teatro Francisco Nunes
Dia 28
Mesa “Literatura: expansão da realidade”, com Ana Miranda (CE), José Eduardo Gonçalves (BH) e Luis Giffoni (BH). Às 10h30, Teatro Francisco Nunes
Mesa “A literatura e a cidade”, com Juan Pablo Villalobos (Espanha), Luiz Ruffato (SP) e Leida Reis (mediadora - BH). Às 15h30, Teatro Francisco Nunes
Show de José Miguel Wisnik e Ná Ozetti. Às 20h, Teatro Francisco Nunes