A convite do Estado de Minas, as fotógrafas mineiras Inês Rabelo, Márcia Charnizon, Mariangela Chiari e Paula Huven “traduzem” em imagens canções antológicas de Fernando Brant. O letrista, que foi um dos fundadores do Clube da Esquina e parceiro de Milton Nascimento desde 1967 (Travessia), morreu no dia 12, aos 68 anos, após sofrer complicações decorrentes de um transplante de fígado.
Canção da América Fernando Brant e Milton Nascimento
(foto: MÁRCIA CHARNIZON
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Amigo é coisa pra se guardar Debaixo de sete chaves Dentro do coração Assim falava a canção que na América ouvi Mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir Mas quem ficou, no pensamento voou Com seu canto que o outro lembrou E quem voou, no pensamento ficou Com a lembrança que o outro cantou Amigo é coisa pra se guardar No lado esquerdo do peito Mesmo que o tempo e a distância digam “não” Mesmo esquecendo a canção O que importa é ouvir A voz que vem do coração Pois seja o que vier, venha o que vier Qualquer dia, amigo, eu volto A te encontrar Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
Saudades dos viões da Panair Fernando Brant e Milton Nascimento
(foto: Inês Rabelo)
Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira E o motorneiro parava a orquestra um minuto Para me contar casos da campanha da Itália E do tiro que ele não levou Levei um susto imenso nas asas da Panair Descobri que as coisas mudam e que tudo é pequeno nas asas da Panair E lá vai menino xingando padre e pedra E lá vai menino lambendo podre delícia E lá vai menino senhor de todo o fruto Sem nenhum pecado sem pavor O medo em minha vida nasceu muito depois Descobri que minha arma é o que a memória guarda dos tempos da Panair Nada de triste existe que não se esqueça Alguém insiste e fala ao coração Tudo de triste existe e não se esquece Alguém insiste e fere o coração Nada de novo existe nesse planeta Que não se fale aqui na mesa de bar E aquela briga e aquela fome de bola E aquele tango e aquela dama da noite E aquela mancha e a fala oculta Que no fundo do quintal morreu Morri a cada dia dos dias que eu vivi Cerveja que tomo hoje é apenas em memória Dos tempos da Panair A primeira Coca-Cola foi me lembro bem agora Nas asas da Panair A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo nas asas da Panair Em volta desta mesa velhos e moços Lembrando o que já foi Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual Em volta dessas mesas existe a rua Vivendo seu normal Em volta dessa rua, uma cidade sonhando seus metais Em volta da cidade
Maria, Maria Fernando Brant e Milton Nascimento
(foto: Paula Huven)
Maria, Maria é um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece viver e amar Como outra qualquer do planeta Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor É a dose mais forte e lenta De uma gente que ri quando deve chorar E não vive, apenas aguenta Mas é preciso ter força, é preciso ter raça É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo essa marca Maria, Maria mistura a dor e a alegria Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça É preciso ter sonho sempre Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida
Travessia Fernando Brant e Milton Nascimento
(foto: Mariangela Chiari)
Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver Forte eu sou, mas não tem jeito Hoje eu tenho que chorar Minha casa não é minha e nem é meu este lugar Estou só e não resisto, muito tenho pra falar Solto a voz nas estradas, já não quero parar Meu caminho é de pedra, como posso sonhar Sonho feito de brisa, vento vem terminar Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar Vou seguindo pela vida me esquecendo de você Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver Vou querer amar de novo, e se não der não vou sofrer Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver Solto a voz nas estradas, já não quero parar Meu caminho é de pedra, como posso sonhar Sonho feito de brisa, vento vem terminar Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar Vou seguindo pela vida me esquecendo de você Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver