Marina Colasanti lança antologia feita a partir de seus livros de contos de fadas

Escritora fala ao Estado de Minas sobre a carreira, iniciada durante a ditadura militar, e a sedução que tem pelos contos

por Ailton Magioli 09/06/2015 08:59

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Janey Costa
(foto: Janey Costa)
Os verdadeiros contos de fadas, segundo afirma Marina Colasanti, de 77 anos, têm toda a beleza, a crueldade e a dificuldade da vida, com direito a final feliz, dramático e/ou em aberto, além de abordar temas como inveja, ciúme e desamor na trama. “São contos absolutamente enraizados na vida, embora ancorados no espaço do imaginário”, diz a autora, que autografa amanhã em Belo Horizonte a antologia 'Mais de 100 histórias maravilhosas' (Global Editora), que reúne sua produção no gênero, que soma nove livros, incluindo o inédito 'Quando a primavera chegar'.

Dentro do projeto O Autor na Academia, da Academia Mineira de Letras (AML), Marina também conversará com a plateia. Os exemplares do novo livro estarão à venda no local por R$ 10 (cada um). A estreia da autora nos contos de fadas foi por puro acaso. “Nunca pensei em escrever contos de fadas, até começar”, diz ela, que era na época, durante a ditadura militar, cronista do caderno de cultura de um extinto jornal carioca.

“A editora Ana Arruda, ainda não Callado, foi presa, e o (jornalista) Alberto Dines me pediu para substituí-la. Como é difícil editar com o sapato do outro, tive um ‘buraco’ de reportagens. Pensei, vou em casa reescrever um conto clássico infantil, trocando as partes e dando às crianças a tarefa de organizá-las. Só que cheguei tão despreocupada e parti para 'A Bela Adormecida'. Acabei escrevendo um outro conto: 'Sete anos e mais sete'”, recorda.

Quando viu o resultado de seu trabalho, a reação de Marina foi: “Pensei: eu quero fazer isto... Só que, com o medo e a preocupação, só saía porcaria”, admite hoje. É desse período seu primeiro livro de contos de fadas ('Uma ideia toda azul'), que ficou cinco anos sem editor. “Era a época do Wander Pirolli (1931-2006), autor de 'O menino e o pinto do menino', de realismo puro para os meninos”, diz ela, explicando a recusa do mercado editorial pelo gênero então.

A estreia na área, já com direito a prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), no entanto, seria a credencial para Marina escrever mais oito livros de contos de fadas, reunidos agora na antologia. O público atraído pelos livros dela, diz, é o mais variado possível, uma diversidade proporcionada pela adoção de seus livros em escolas. “Como já tenho tempo de estrada, vou ao médico e acabo ouvindo que ele havia lido meus livros no tempo de escola”, comemora Marina, orgulhosa de contabilizar pelo menos três gerações de leitores, além de ter-se tornado alvo de muitas teses universitárias.

Ela afirma não ter ideia do que não pode faltar em um bom livro de contos de fadas. “Nos meus não pode faltar a linguagem literária, com a qual tenho muito cuidado”, afirma, criticando a tendência da linguagem simplificada, que se aproxima da oralidade. “Tenho um trabalho de linguagem literária com muito cuidado. E o que não pode faltar é a intensidade da emoção”, diz.

TRADIÇÃO Sobre a exiguidade de pares na produção desse gênero, Marina observa: “Nossa tradição é mais ligada ao realismo”. Quanto a ela, como leitora, lembra-se de que, ao chegar ao país, aos 10 anos de idade, já não lia literatura infantil. “Era de Julio Verne para cima”, diz, revelando que não se deixou cativar nem mesmo por Monteiro Lobato.

Crianças, professores e contadores de história de toda a América Latina e até de Portugal estão incluídos entre o público da autora, cuja origem remonta a Asmara, capital da Eritreia, então colônia italiana, situada ao Norte da África. A escritora, que passou a infância na Líbia e na Itália, mudou-se para o Brasil em 1948. Artista plástica por formação, Marina Colasanti ingressou no jornalismo em 1962, dando início a uma longa carreira na área, com passagem pelo Estado de Minas, onde foi colunista do caderno Cultura.

Publicitária e tradutora, ela também conseguiu unir as artes plásticas com a literatura, ilustrando muitos de seus livros. A estreia na literatura foi em 1968, com Eu sozinha. Desde então, são mais de 50 títulos, alguns dos quais feitos a quatro mãos com o marido, o mineiro Afonso Romano de Sant’Anna, com quem tem duas filhas. Uma das autoras brasileiras mais premiadas, ela já levou o Grande Prêmio da Crítica da APCA, foi vencedora da categoria Livro do Ano da Câmara Brasileira do Livro, do Prêmio da Biblioteca Nacional para poesia e de sete prêmios Jabuti, o último deles no ano passado, na categoria Livro do Ano de Ficção, com o infantil 'Breve história de um pequeno amor'.

Com o mesmo livro ela também foi premiada durante o FNLIJ 2014 – O Melhor Para Crianças, distinção concedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil aos melhores livros para o público mirim. A escritora foi ainda uma das representantes do Brasil no Salão do Livro de Paris 2015, em março passado, além de ter sido indicada ao Prêmio Portugal Telecom 2014, na categoria conto e crônica, pelo livro 'Hora de alimentar serpentes'. O próximo trabalho, anuncia ela, será um livro de poesia, que já está organizando, seguido de um de ensaios.

'FADA REAL'
MARINA COLASSANTI – O AUTOR NA ACADEMIA
Quarta, às 19h, na Academia Mineira de Letras, Rua da Bahia, 1.466, Centro. Noite de autógrafos e bate-papo com a autora que lança Mais de 100 histórias maravilhosas. O livro será vendido no local a R$ 10. Informações: (31) 3222-5764.

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