“O teatro nunca foi para mim uma decisão. Nunca tive que parar para pensar e escolher. Não foi um dilema, mas um fluxo que correspondeu ao meu movimento de vida”, diz Marcio Abreu. Aos 44 anos, o ator, dramaturgo, diretor, fundador da Cia. Brasileira de Teatro e um apaixonado por cidades terá encontros mais frequentes com o cenário cultural de Belo Horizonte.
Tem sido assim desde que Abreu chegou com a família a Curitiba. A mudança para o Paraná foi graças a uma transferência do pai. Ao chegar, já com algumas experiências teatrais, foi-se deixando contaminar pela cena da cidade. “Já fui meio fazendo tudo, escrevendo, dirigindo e atuando”, conta. Entrou no Lusco Fusco, grupo marginal da cena oitentista paranaense. Aprendeu muito com Luiz Carlos Teixeira da Silva. Logo fundou o grupo Resistência, e com ele, foram dez anos de trabalho e formação. O aprendizado do palco despertou ainda mais a necessidade de pesquisa.
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Em 1999, com Giovana Soar, Nadja Naira e Cassia Damasceno, Abreu criou a Cia. Brasileira de Teatro, espaço em que passou a desenvolver suas pesquisas. Aliás, ele se diz um obcecado por elas. Quando viaja, mantém o olhar atento para a observação de tudo que o cerca. Ao ler, abre-se aos campos da filosofia, das artes visuais, das ciências, da história, da antropologia.
ESCOLHAS “O prazer do estudo me leva a determinadas escolhas”, diz. Não que a decisão de fazer ou não determinado espetáculo seja algo totalmente racional. “Quase nunca penso. Um trabalho vai levando a outro, uma pesquisa vai levando a outra, e isso vai criando necessidades artísticas.” O próximo espetáculo da Cia. Brasileira, por exemplo, batizado de 'Projeto Brasil', tem estreia prevista para setembro e começou a ser desenvolvido há pelo menos dois anos.
A origem remonta a 'Taubira' (2013), performance de 15 minutos a partir dos discursos de Christiane 'Taubira' sobre a aprovação da lei para a união de casais de mesmo sexo e a adoção. Taubira foi apresentado em BH, no Festival de Cenas Curtas, e arrebatou seu público. “Foi importante para a gente artisticamente, essa cena faz parte da pesquisa”, conta.
Abreu diz ter necessidade de escrever na mesma medida que deseja conhecer novos textos. Ele compreende a dramaturgia como algo que vai além daquilo que foi pensado e escrito por um autor. “Esse pensamento expandido me coloca em situação de lidar com outros autores. É bastante importante, mas não fico buscando.” Mais uma vez, ele reafirma sua crença no fluxo – agora das ideias. “E eu me sinto estimulado a me relacionar com elas.”
Se em 'Vida' (2010) ele mesmo convoca um diálogo com Paulo Leminski, 'Esta criança' (2013) é resposta ao estímulo provocado pela obra de Joël Pommerat, dramaturgo e diretor francês, hoje uma das principais referências do teatro em seu país. “Convivo com essa dramaturgia desde então e, nesse momento da companhia, da minha vida artística, achei importante me relacionar”, afirma. As questões que procura responder são as “obsessões de sempre”: “Como mais uma vez encontrar com o público e potencializar essa relação? De que maneira falar? Como provocar uma escuta?”.
NOS PALCOS
Confira algumas das principais montagens da carreira de Marcio Abreu
>> 'A vida é cheia de som e fúria', coprodução da com a Sutil Cia de Teatro, trabalho como ator (2000);
>> 'Volta ao dia…', texto e direção (2002);
>> 'Daqui a duzentos anos', textos de Anton Tchekhov, dramaturgia e direção, com ACT e Luis Melo (2004/2005);
>> 'Apenas o fim do mundo', de Jean-Luc Lagarce, direção (2005/2006);
>> 'Polifonias', dramaturgia e direção (2006);
>> 'Oxigênio', de Ivan Viripaev, adaptação e direção (2010);
>> 'Vida', texto e direção (2010);
>> 'Isso te interessa?', de Noëlle Renaude, tradução, adaptação e direção (2011);
>> 'Esta criança', coprodução com a atriz Renata Sorrah, direção (2013);
>> 'Enquanto estamos aqui', solo com a coreógrafa e dançarina Marcia Rubin, direção e roteiro (2012);
>> 'Nômades', com as atrizes Andrea Beltrão, Mariana Lima e Mallu Gali, roteiro e direção (2014);
>> 'Krum', segunda parceria da Cia Brasileira com a atriz Renata Sorrah, direção (2015).