Aluno do oitavo ano da Escola Municipal Itamar Franco, o jovem Vitor Yan chegou ao CCBB para visitar a exposição Kandinsky: Tudo começa num ponto com olhar curioso. Conhecer mais sobre a cultura russa e estar cara a cara com o mestre da abstração eram expectativas básicas. A surpresa veio por outro lado: a maneira como foi convidado a refletir sobre a obra dos artistas reunidos na mostra, não apenas os quadros de Kandinsky.
Desde que o Centro Cultural Banco do Brasil foi inaugurado, a instituição reforçou em Belo Horizonte a agenda – às vezes pouco explorada – das ações educativas em museus e espaços culturais. “A proposta é quebrar o gelo, o medo que um espaço como esse impõe e pensar sobre como as pessoas podem experimentar o conteúdo que está sendo ofertado”, afirma Mariana Vitale, coordenadora do setor em Minas Gerais.
Aquela falação dos guias de museu saiu de moda e o negócio agora é bem divertido, aberto à participação, com oferta ampla e gratuita. Vai visitar pela primeira vez um museu da cidade? Pode procurar saber, vai ter um setor de trabalho educativo com uma proposta de percurso temático, seja para grupos pequenos ou maiores.
No CCBB, as ações culturais são desenvolvidas pela Sapoti Produções, também responsável por essa área no Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo. É esse o departamento incumbido de pensar atividades para seus diversos públicos, sempre em diálogo com o objeto da exposição. Pouco a pouco os mineiros vão adotando essa prática. Em suas duas primeiras semanas, a mostra dedicada a Kandisnky recebeu 4.541 visitantes, sendo 1.067 participantes dos grupos.
O desafio dos responsáveis pelo programa educativo é não cair na armadilha do didatismo. Há dinâmicas com olhos vendados, com cubos mágicos, com recortes de jornais, quebra-cabeças coloridos e até pincéis com fitas coloridas nas pontas. Enfim, por lá a decoreba não tem vez. As atividades são pensadas segundo seu potencial interativo.
O Laboratório Aberto, preparado especialmente para a aproximação com a obra de Kandinsky, tem feito a alegria da garotada. Montado no andar térreo do prédio histórico da Praça da Liberdade, inclui brincadeiras pensadas para despertar diversas relações sensoriais com os quadros. Em um dos jogos, inspirado nos parangolés de Hélio Oiticica, os participantes literalmente vestem cores e encenam as composições. “Dentro desse quadro vivo, estamos conversando sobre diversos aspectos da exposição”, ressalta Mariana Vitale.
“Acho interessante, porque os alunos chegam retraídos e logo percebem que não é algo assim tão fora da realidade deles. Facilita muito o entendimento de que a arte é bem mais próxima deles do que imaginam”, afirma a professora Camila Ramos. Responsável pelas aulas de arte na Escola Municipal Itamar Franco, que fica no Barreiro, ela conta que as visitas ao Circuito Cultural Praça da Liberdade são sempre um acontecimento. “Demoramos uma hora para chegar e, no caminho, vamos adiantando algumas informações sobre os museus e a história da praça”, conta.
Por mais que existam modelos de visitas diferentes para a exploração das exposições em cartaz no espaço, as regras não são rígidas. O professor de cenografia da Universidade Fumec Flávio Vignoli Cordeiro decidiu levar os alunos do curso de design para uma aula diferente. Optou por destacar alguns aspectos técnicos da exposição que são importantes para a disciplina e deixar a turma livre para fazer o percurso que cada aluno quisesse.
“É interessante a pessoa ter uma visita onde ela vá percebendo as coisas. Se viu algo nesta sala, vai tentar relacionar com a outra e, depois, quem tiver interesse procura informações complementares”, afirma o professor. “Cada um tem seu tempo. Tem gente que fica duas horas vendo um quadro e outros não. Cada um se encontra com a exposição de uma maneira diferente e isso é divertido”, afirma.
Visitas guiadas perdem a vez para as dialogadas
A oferta de programas educativos em museus e centros culturais é comum, mas muita gente ainda tem preconceito em relação a eles. “Tem quem ainda pense que vai ser explicativo demais, que um educador vai só ficar falando. Mas isso tem mudado demais”, afirma Fabíola Rodrigues, coordenadora do Programa Educativo em Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado.
No tradicional espaço das artes do estado, apenas em 2011 foi montada a equipe própria do programa educativo. Antes, as atividades eram programadas – e contratadas – de acordo com as exposições. Agora permanente, procura desenvolver uma política de formação de público. Seguindo tendência mundial em temas ligados à arte-educação, no Palácio das Artes as visitas também não são guiadas, mas dialogadas.
Isso para permitir que “o público faça a sua própria significação das obras, auxiliado pela linguagem dos jogos e de outras experiências despertadas na galeria”, comenta Fabíola. No caso da exposição Assis Horta: retratos, uma das “brincadeiras” que têm ouriçado principalmente o público de 6 a 10 anos trabalha a percepção de olhares.
Palavras e recortes de imagens são distribuídos, junto com a missão de identificá-los na exposição. “Entendemos que, hoje, o público convive com uma massificação das imagens. Então, nós convidamos para que, dentro da galeria, tenha-se um contato um pouco mais contemplativo”, diz a coordenadora do programa educativo da Fundação.
Há oito anos, os programas educativos do Centro de Arte Contemporânea Inhotim são planejados nessa perspectiva e há, inclusive, trocas internacionais. “Representantes da Tate Modern estiveram aqui e, para a nossa surpresa, ficaram impressionados com a nossa metodologia e o projeto foi para Londres”, conta Raquel Novais, diretora- executiva adjunta da entidade.
Como ela ressalta, o negócio não é apenas dar informação, mas construir conjuntamente. “É sempre um processo, único. Nunca tem pré-roteiro. A gente mobiliza o nosso acervo de arte e de botânica, procurando despertar os temas mais diversos nos indivíduos, de acordo com seus próprios repertórios”, conclui.
DEIXE-SE GUIAR
Confira opções de visitas guiadas
CCBB
(Praça da Liberdade, 450, Funcionários)
No cardápio do CCBB há sete diferentes tipos de visitas. Os projetos Laboratório aberto, Musicando, Digital em Libras e as visitas mediadas, em geral, têm a principal exposição da casa como protagonista. Já Cantos e contos, Estação Bohemia e visitas teatralizadas abordam aspectos da história da cidade e do prédio. Agendamento de grupos e escolas: (31) 3431-9441.
MEMORIAL MINAS GERAIS VALE
(Praça da Liberdade)
Oferece sete percursos temáticos explorando o acervo do museu. Entre eles estão Mineiridades; Infância e memória; Africanidades e memórias. Agendamento de grupos: (31) 3343-7317.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
(Av. Afonso Pena, 1.537, Centro)
Visitas mediadas à exposição Assis Horta: Retratos, de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 16h às 21h, até 7 de junho. As visitas têm duração aproximada de 90 minutos.
Já os percursos temáticos são realizados nos fins de semana. Sábados, às 10h30 e às18h30, e domingos, às 18h. Informações pelo (31) 3236-7471.
MUSEU BRASILEIRO DO FUTEBOL
(Av. Coronel Oscar Paschoal, portão G2, Mineirão)
Acervo relacionado ao futebol. Grupos acima de 10 pessoas deverão fazer agendamento prévio pelo telefone (31) 3499-4312 ou pelo e-mail educativo@minasarena.com.br. Em dias de jogos e eventos no Mineirão não há visitação.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS
(Praça da Estação, s/nº, Centro)
O educador pode escolher junto com seus alunos diversas trilhas no acervo do Museu de Artes e Ofícios. Todas elas apresentam de forma aprofundada alguns ofícios expostos, em um percurso de aproximadamente uma hora. Agendamento de grupos: início na primeira segunda-feira de cada mês para o mês subsequente pelo telefone (31) 3248-8621.
INHOTIM
São oferecidos três tipos de visita: panorâmica, todos os dias, com saídas às 11h e às 14h, e as temáticas, com foco no meio ambiente (fins de semana, às 10h30) e nas artes (fins de semana, às 14h30). Para as escolas, o roteiro é construído pelos educadores do Inhotim em parceria com os professores. Agendamento pelo telefone (31) 3571-9700.