É possível fazer arte com pouco (ou quase nenhum) dinheiro? Quatro artistas/realizadores ouvidos pelo Estado de Minas mostram, a partir de suas próprias experiências, que não é apenas possível, como também viável.
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Leonardo Amaral, sócio da El Reno Fitas, já realizou quatro longas-metragens coletivos utilizando mecanismos diversos: pode ser ajuda da família, dos amigos e o chamado crowdfunding. Editais públicos de pequeno valor foram usados, até agora, para a finalização de um só dos filmes.
Todos eles avaliam que esse modelo, na base da boa vontade de colegas e de muita colaboração, não é ideal. Mas é a única maneira viável para eles, já que o fazer artístico não pode esperar.
Além de desempenhar os três personagens do texto de Cachorro enterrado vivo, o ator Leonardo Fernandes panfletou na rua, em porta de teatro, pregando cartaz, para divulgar a peça. Se lhe perguntarem sobre sua primeira experiência como produtor, ele responde, sem pensar duas vezes: faria tudo de novo.
Fernandes contabiliza um gasto de R$ 17 mil para a montagem, com texto de Daniela Pereira de Carvalho e direção de Marcelo Fonseca do Vale, seu parceiro em outras encenações. “Consegui a metade por meio de pequenos apoios. Investi o resto pensando que teria que divulgar muito. Agora falta muito pouco para pagar o espetáculo inteiro.”
Pela urgência em montar o texto, ele não pensou em se inscrever em nenhum mecanismo para captação de verba pública. No aprendizado de fazer tudo por conta própria, deparou-se com alguns percalços. “Faltando um mês para a estreia, a gente viu que não ia ter como fazer o cenário que havíamos imaginado. Já estávamos ensaiando havia três meses, não tinha como parar.”
O jeito foi contar com a boa vontade alheia. No caso, a do tio Ronaldo de Deus, que se transformou em cenotécnico. Concebida por Cícero Miranda, a cenografia mistura telas, lona, terra e vários objetos. “Se eu tivesse hoje R$ 1 milhão, ficaria com o mesmo cenário”, conta Fernandes. Seu plano mais imediato é terminar de pagar a montagem, para investir de novo numa nova temporada.
A erudita, espetáculo encenado em BH em 2014, era um projeto pessoal de Priscilla que, além de ser atriz, tem formação em canto lírico e flauta. “Nem pensei em me inscrever em lei, pelo fato de os projetos demorarem para ser aprovados. Já tinha a equipe comigo para trabalhar no sistema de colaboração. Não tinha grana nenhuma. Todo mundo era amigo e não esperava dinheiro em troca.”
Em BH, a peça fez 27 apresentações. Trabalhando com uma equipe de uma dúzia de profissionais, Priscilla levantou, via financiamento coletivo, R$ 3 mil para pagar a produção do cenário e o figurino. O restante ela tirou do próprio bolso. A bilheteria que conseguiu com as apresentações na Campanha de Popularização deu para pagar o elenco (havia outros dois atores em cena) e o diretor, Antonio Hildebrando.
Residindo há um mês em João Pessoa, ela se prepara para estrear a montagem na capital paraibana, em 13 de maio, com elenco local. “Se viver de teatro em BH é difícil, na Paraíba é muito mais. São menos editais, menos recursos. Mas, por outro lado, vejo os artistas daqui trabalhando ‘na tora’. Fazem teatro com dinheiro ou não”, afirma.