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“Primeiro, ela se recusava a comer. Todos aqui já imaginavam que Hilda estava no fim. Era como se desejasse morrer”, contou a assistente social capixaba Marisa Barcellos, que trabalha na instituição e zelava por aquela senhora frágil e doente desde o início do ano passado.
Em julho, o Estado de Minas surpreendeu o Brasil ao localizar Hilda em Buenos Aires. Depois da vida de luxo e glamour na capital argentina na primeira metade da década de 1960, Hilda foi testemunha da derrocada do marido – ainda no Brasil, na década de 1950, ele já se envolvia em bebedeiras e confusões.
Em Buenos Aires, Valentim experimentou o auge e a decadência. Depois da morte do craque, a viúva enfrentou muitas dificuldades na Argentina. Morava com a companheira do filho, Ulisses, já falecido, até sofrer uma queda. No início do ano passado, foi internada – e abandonada – num hospital público portenho.
Coube à assistente social Marisa Barcellos, funcionária do asilo Hogar Guillermo Rawson, recolher os documentos da paciente. Ela se surpreendeu ao descobrir o passado de Hilda: personagem de reportagens em jornais e revistas, chegou a ser tratada como primeira-dama do Boca Juniors.
No asilo, a viúva do craque acordava cedo, era colocada numa cadeira de rodas e passava o dia diante de uma televisão – a sua amiga nos últimos dias de vida. No quarto simples ficava o tesouro, como ela chamava o livro de capa preta contendo recortes e fotos dos bons tempos. Ali, Hilda e Paulo Valentim surgem jovens, paparicados em festas e eventos ligados ao mundo do futebol.
Da zona ao glamour
Hilda e Paulo se conheceram na Belo Horizonte dos anos 1950. A moça chamava a atenção na zona boêmia da cidade. O craque do Atlético, companheiro de Kafunga, Mão de Onça, Murilo e Haroldo, encantou-se pela morena. Parecia não ter ciúmes, sabia que a moça atendia outros homens. Quando jogava no Botafogo, treinado por João Saldanha, Paulo vinha de ônibus para BH só para encontrar a bela prostituta. Várias vezes, dirigentes do time carioca tiveram de viajar à capital mineira para levá-lo de volta. Os dois se casaram em Barra do Piraí (RJ), terra natal de Paulo. João Saldanha era um dos padrinhos.
O escritor Roberto Drummond (1933-2002) era outro craque. Como poucos, sabia mesclar realidade e ficção em seus romances. O best-seller 'Hilda Furacão', lançado há 23 anos, provou isso. A personagem principal, garota linda, elegante e rebelde que trocou a vida de luxo da Zona Sul de BH pela zona boêmia, inspirou-se em várias moças da tradicional BH dos anos 1940/1950. A ex-prostituta Hilda Valentim era uma delas – e emprestou seu próprio nome ao mito.
Outros personagens do livro também vieram do mundo real, como o milionário Antônio Luciano Pereira Filho, dono do Hotel Financial, interpretado por Stênio Garcia na TV. Mas Hilda Valentim nunca foi rica nem frequentou o Minas Tênis Clube, point da alta sociedade belo-horizontina nos anos 1950.
Sensação
Em julho, o furo de reportagem do Estado de Minas sobre a vida de Hilda Valentim em Buenos Aires chamou a atenção do Brasil. Jornais e sites de todo o país contaram a história da mulher do craque Paulo Valentim. Glória Perez, que transformou o romance em minissérie da TV Globo, manifestou-se diversas vezes nas redes sociais. “Roberto Drummond ia adorar isso”, comentou ela. Só em 29 de julho, dois dias depois da publicação da primeira reportagem da série, registraram-se 5 mil compartilhamentos da matéria nas redes sociais.
Reveja a entrevista de Hilda Furacão concedida com exclusividade ao Estado de Minas: