Era uma vez um bom velhinho, de barba branca e vestes vermelhas, residente nas montanhas de Korvatunturi na Lapônia, Finlândia. Acompanhado da esposa e nove renas voadoras, ele faz uma lista de crianças bem comportadas ao redor do mundo e lhes entrega presentes na época do Natal. Às crianças indisciplinadas, às vezes envia pedaços de carvão, arremessados do trenó. Essa é a história do Papai Noel que todos conhecem, mas não significa que seja a única.
Era uma vez um bom velhinho, de barba branca e vestes vermelhas, residente nas montanhas de Korvatunturi na Lapônia, Finlândia. Acompanhado da esposa e nove renas voadoras, ele faz uma lista de crianças bem comportadas ao redor do mundo e lhes entrega presentes na época do Natal. Às crianças indisciplinadas, às vezes envia pedaços de carvão, arremessados do trenó. Essa é a história do Papai Noel que todos conhecem, mas não significa que seja a única.
À despeito dessa tradição, representações alternativas e até controversas do Papai Noel se tornaram comuns a partir da sua popularização, nos natais do século 19. Personagens considerados símbolos do modelo econômico capitalista foram trajados do bom velhinho – na lista estão Ronald McDonald, o caubói das propagandas da Marlboro, o boneco emborrachado da Michelin e o tigre Tony da Kellog’s. Sua imagem foi usada ainda no recrutamento da 1ª Guerra Mundial e da Guerra de Secessão. Nos anos 1950, distribuiu armamentos às crianças de As crônicas de Nárnia, em versão concebida por Clive Staples Lewis. Mas foi em 1984 que ganhou a alcunha de vilão convicto pela primeira vez: nas telonas, estrelou o longa Natal sangrento como serial killer, provocando a censura da crítica e dos pais das crianças daquela década. Hoje, Noel passeia entre os títulos de bom e mau velhinho na mesma velocidade com que surfa nas telas dos tablets em gráficos dos anos 2000 – quem nunca jogou Subway Surfers? – e se espalha entre os polos Norte e Sul do universo pop sem nenhum resquício de anonimato.
MODA
A tradicional figura do velhinho barbudo de trajes vermelhos, popularizada por comerciais publicitários da Coca-cola na década de 1930, ganhou nova roupagem no estúdio de design Joint London, no Reino Unido. Papai Noel ganhou figurino inspirado em referências da moda, como Yves Saint Laurent, Kenzo e Alexander Wang. As imagens foram disponibilizadas para download no site Designer x Santa, criado este mês pela agência, para serem impressas e usadas como cartão natalino.
CINEMA
Em 1984, o controverso slasher Natal sangrento (do original Silent night, deadly night) estreou nos Estados Unidos na mesma data que o clássico A hora do pesadelo e foi retirado das telonas após seis dias em cartaz. Pela primeira vez, o Papai Noel foi evocado negativamente, como um serial killer sanguinário, o que preocupou críticos e pais da década de 1980. Marteladas, flechadas e empalamento estão entre os métodos do assassino, cuja história rendeu franquia de cinco títulos, com remake em 2012. Na comédia políticamente incorreta Papai Noel às avessas (2003), dos irmãos Coen, trapaceiro se disfarça de Papai Noel para aplicar golpes nos shoppings. Uma noite de fúria (2005), apresenta um Noel que, após mil anos de bondade pagos graças a uma aposta, decide recuperar a fama de mau e volta à vida do crime.
MÚSICA
Representantes do punk nacional, os Garotos Podres lançaram, em 1985, Papai Noel velho batuta, considerada um hino anti-natalino no país. Concebida para o álbum Mais podres do que nunca, a faixa era originalmente intitulada Papai Noel filho da p…, renomeada para driblar a censura. “Eu quero matá-lo, aquele porco capitalista. Presenteia os ricos e cospe nos pobres”, diz a letra. Em entrevista concedida esta semana à Rádio Uol, o vocalista original da banda, José Rodrigues Mao Jr., o Mao, disse considerar a música quase tão popular quanto a cantiga Atirei o pau no gato. “Quis combater o consumo desenfreado do Natal”, explicou.
LITERATURA
Em 1843, ilustrações de John Leech para o épico Um conto de Natal (L&PM Pocket, R$ 15,90), de Charles Dickens, mostram Noel como um homem de meia-idade, barbudo e vestido de verde. Em 1902, Lyman Frank Baum o apresenta como um bebê chamado Nicholas, criado por ninfas, elfos e fadas da floresta, em A vida e as aventuras de Papai Noel (Henry Holt and Co., R$ 23,90). Em O leão, a feiticeira e o guarda-roupa (primeiro volume de As crônicas de Nárnia), o velho Saint German presenteia crianças com armas – adagas, arco e flecha, espada – para prepará-los para a guerra iminente. Em 2012, a ex-secretária de J. R. R. Tolkien é quem organiza antigas cartas na qual o autor de O senhor dos anéis se passava pelo Papai Noel a fim de surpreender os filhos no Natal em Cartas do Papai Noel (WMF Martins Fontes Editora, R$ 38,90). Nos quadrinhos, coube a Calvin, de Bill Watterson, questionar o mito e as qualidades de Santa Claus.
ARTES PLÁSTICAS
Pintado por Pablo Picasso em 1957, no quadro Pere Noel, o velhinho estampou uma polaroid de Andy Warhol em 1981, de modo tradicionalista, com barbas brancas, óculos redondos e vestes vermelhas. Em 1514, Andrea Sabatini já o retratava como São Nicolau, com trajes de arcebispo. E em 1912, Will Crawford o ilustrou com arma de fogo em mãos, intitulado Papai Noel olha para alguns de nós.