Ao mergulhar de forma extensiva nessa vertente do trabalho de Glauco, a obra oferece também visão esclarecedora do raciocínio criativo do artista. É interessante que, a cada mudança de governo, há um compilado no mínimo irônico sobre cada presidente.
Com relação ao governo Sarney, o resumo é este: “Em 1986, quando começou a publicar charges políticas, o cenário era animador (para o cartunista): hiperinflacão, planos econômicos mirabolantes, congelamento de preços, ágio, democracia recém-nascida, aprendendo a engatinhar... e ele logo mostrou com seu humor debochado que estava mais do que à vontade para retratar aquela realidade insana”.
Já em Itamar Franco (1992-1994): “Itamar foi um presidente improvável. Titubeante, teimoso, explosivo. Ótimo personagem. Pelas charges de Glauco, o ‘pão de queijo’ foi alçado a um ícone nacional da galhofa”.
Percebe-se também que, ao longo da publicação, a linguagem gráfica vai mudando no decorrer dos anos, inclusive com caracterizacões distintas dos mesmos personagens; os truques que ele usava para retomar as piadas ou repisar as gozações, construindo leituras que iam além do tiro diário; as infinitas variações sobre o mesmo tema. E o mais interessante é que muitos dos cartoons, mesmo sendo dos anos 1980 ou 1990, por exemplo, se mantêm bem atuais e sempre com a incrível capacidade de nunca perder a graça.
Sapos, cobras e lagartos A charge política de Glauco
Autor Glauco Villas Boas
Editora Olhares
Páginas: 240
Preço: R$ 45