Na semana em que Belo Horizonte completa 117 anos, na sexta-feira, a população tem a oportunidade de conhecer a história de um lugar que faz parte das raízes da cidade, mas que nunca teve o destaque merecido. O trabalho 'Memórias da vila – História dos primeiros moradores do Aglomerado da Serra' é resultado de um projeto de resgate da memória oral e visual das seis vilas e comunidades que integram o maior aglomerado de BH, e que vem sendo desenvolvido desde 2010 pelo artista visual e fotógrafo Guilherme Cunha.
Desenvolvendo um trabalho voluntário numa associação que auxilia pessoas na região do Cafezal, ele decidiu unir as duas pontas de seu trabalho. Durante quatro anos de visitas e encontros, o fotógrafo teve contato com histórias, expectativas e visões de mundo de mais de 40 moradores da região. A partir de registros fotográficos e recolhimento de relatos, o artista decidiu colaborar para o resgate de um patrimônio imaterial da população belo-horizontina.
“Descobri um potencial histórico muito interessante ali. Gente que ajudou a construir a capital. Como você vai entender a cidade sem entender a favela? Isso faz parte da nossa vida como pessoa. Não estamos fazendo nada técnico, nenhum levantamento histórico, mas queremos ampliar esse sentimento de identidade da cidade e incluir essas pessoas que estão lá”, frisa o fotógrafo.
Mesmo frequentando a região há 12 anos, por conta do trabalho social, Guilherme Cunha revela que ficou impressionado com as histórias que ouviu. Para chegar aos personagens retratados, contou com a colaboração de uma moradora local, Kelly Cristina, que se tornou seu braço direito nesse esforço de resgate da memória oral e visual da região.
“A maioria desses indivíduos nunca foi à escola e são analfabetos; outros viveram em situações de semiescravidão, porque vieram do interior e se contentavam em morar e trabalhar em qualquer lugar. Tinha uma senhora que me contou que amassava jornal com água quente e dava para os filhos para enganar a fome. Fora a luta de vários para conseguir o que parece ser trivial, como uma rua calçada, água encanada e saneamento básico. Histórias que estão aqui do nosso lado e que parecem invisíveis ou localizadas apenas no passado distante. Esta é também a nossa história”, destaca.
Voz e imagem
Atualmente em fase de produção, o livro será lançado em 2015. “A foto é a história visual daquela pessoa, é o rosto por trás da palavra. A exposição é uma prévia, para revelar essas pessoas aos milhares de habitantes da cidade que embarcam diariamente nas estações de metrô. Mas no livro o registro será bem mais completo e rico e, possivelmente, teremos material para uma segunda publicação”, planeja.
Guilherme, que é um dos criadores e diretores do Festival Internacional de Fotografia (FIF), revela que maior lição de 'Memórias da vila' é a carga de humanidade e de generosidade que as pessoas do Aglomerado da Serra carregam. Ele espera que seu trabalho possa transmitir o que ele sentiu. “Principalmente nos dias de hoje, quando vivemos esse esvaziamento de sentidos, há ali um reerguer dos valores, uma generosidade oculta e anônima. Isso foi o mais impressionante para mim”, resume.
Memórias da Vila – História dos Primeiros Moradores do Aglomerado da Serra
Fotografias de Guilherme Cunha. De amanhã a 30 de abril de 2015. Diariamente das 5h15 às 23h, nas seguintes estações do metrô:
. Estação Calafate, Rua Extrema, 120, Calafate
. Estação São Gabriel, Av. Cristiano Machado, 5.600, Bairro São Paulo
. Estação Central, Praça Rui Barbosa, s/nº, Centro