Na década de 1920, o pintor e desenhista russo Dimitri Ismailovitch desembarcou no Brasil. Três anos depois de chegar, ele já estava à vontade no ambiente modernista, participando de exposições que propagavam a nova estética. Por influência de amigos brasileiros, veio a Minas atrás de um artista que eles adoravam: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. O russo viajou por Ouro Preto, Congonhas e outras cidades coloniais para conhecer o legado do mestre do barroco. Admirado, pintou a 'Santa Ceia', em 1945, com figuras de apóstolos inspiradas nas esculturas do mineiro.
Quem for à Sala Manoel da Costa Athaide, no Museu da Inconfidência, verá a Santa Ceia de Ismailovitch, estudos de aspectos de esculturas de Aleijadinho e 13 paisagens de cidades coloniais. O russo perambulou por Minas Gerais durante cerca de 20 anos.
Para Margareth Monteiro, a minúcia com que Ismailovitch desenha e observa as peças de Aleijadinho traduz a admiração vinda de um homem com sólida formação artística, estudioso da arte antiga. “Naquelas imagens está um olhar que analisa com acuidade realista o estilo, o movimento e o sentimento das obras de Aleijadinho. Nesse sentido, é um outro tipo de documentação”, explica. Até a moldura da 'Santa Ceia', feita pelo escultor Kamina Gai, segue a estética barroca e remete às volutas da arquitetura do século 18.
Ano passado, a exposição 'A Santa Ceia de Ismailovitch' foi apresentada no Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Entre as peças está a pintura (um tríptico) que traz o pintor e seu amigo, o compositor Heitor Villa-Lobos, em blocos carnavalescos cariocas.
As peças pertencem ao colecionador carioca Eduardo Cavalcanti, que há uma década vem reunindo obras de Ismailovitch, amigo de seu pai.
Da Ucrânia ao Rio
O russo participou do Salão Revolucionário, realizado em 1931 na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Notabilizou-se como retratista, mas pintou abstrações, paisagens, naturezas-mortas e arte sacra, além de se dedicar a estudos etnográficos e à documentação da flora.
Obras de Ismailovitich estão no Museu Pushkin (em Moscou, na Rússia), no Harvard Art Museum (em Cambridge, nos EUA) e na Bibliothèque Nationale de France (em Paris). No Brasil, há trabalhos dele na Pinacoteca do Estado de São Paulo e nos museus Nacional e de Belas-Artes, ambos no Rio de Janeiro.
Vem aí: Coppola
O Museu da Inconfidência anuncia outra exposição sobre Aleijadinho. Em dezembro, a instituição
ouro-pretana receberá mostra de fotos do argentino Horacio Coppola (1906-2012). O evento vai encerrar as homenagens ao bicentenário de morte do mestre do Barroco.
'A CEIA BRASILEIRA DE ISMAILOVITCH'
Pintura e desenho. Abertura nesta sexta, às 20h30. Sala Manoel da Costa Athaide do Museu da Inconfidência, Praça Tiradentes, 139, Centro Histórico de Ouro Preto, (31) 3551-1121 e 3551-4977. De terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
Entrada franca. Até 23 de novembro.