Letícia Sabatella volta a BH com o espetáculo 'Trágica.3'

Ao lado de Miwa Yanagizawa e Denise Del Vecchio, atrizes dão vida a Electra, Medeia e Antígona, ícones femininos das tragédias gregas

por Carolina Braga 03/10/2014 09:28

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Victor Hugo Ceccato/Divulgação
(foto: Victor Hugo Ceccato/Divulgação)
“O trabalho em teatro é mais autoral e performático”. É assim que a atriz Letícia Sabatella define sua participação em 'Trágica.3', espetáculo que a partir desta sexta faz temporada no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, e fica em cartaz até o dia 26. Na montagem dirigida por Guilherme Leme Garcia, ela é Antígona, uma das três heroínas gregas revisitadas na peça. As outras, Electra e Medeia, são papéis respectivamente de Miwa Yanagizawan e Denise Del Vecchio. Fernando Alvez Pinto e Marcello H completam o elenco.


Reunir as três personagens femininas mais fortes das tragédias gregas em um mesmo espetáculo foi ideia de Guilherme, para quem o texto soa como poesia. “Ao assistir essas três performances femininas, eu me pergunto se esses autores não eram mulheres”, questiona Letícia Sabatella. Segundo ela, os textos foram escritos em uma época em que as mulheres tinham status inferior ao de escravos e, no entanto, nessas obras, como a atriz salienta, “é dado a elas o protagonismo de manifestos nefastos que questionam o poder da forma como estabelecido na civilização greco-romana. Berço desta estrutura de civilização tão adoecida de alma em que vivemos hoje”.

Embora tenham sido criadas por autores diferentes (Sófocles e Eurípedes), para Letícia Sabatella, Antígona, Electra e Medeia são forças da natureza em colapso total. “Chegam a um ponto impossível de contenção. Forças da ordem de uma avalanche, que poderia ter sido evitada no começo, mas, a essa altura, a catástrofe atingiu o patamar do inevitável. Nutrem em nós um olhar de mais atenção ao presente, de cuidado com os limites sagrados da existência”, diz.

Fragmentos das personagens foram amalgamados a partir de releituras feitas pelo dramaturgo alemão Heiner Müller e os brasileiros Caio de Andrade e Francisco Carlos. No caso do fragmento de Antígona, a versão de Caio de Andrade, segundo Letícia, foi responsável por trazer muita musicalidade para a cena. A atriz, então, foi responsável pela criação da trilha sonora em parceria com Fernando Alves Pinto e Marcello H.

“É um clássico, eterno, atemporal. Daí veio o som, o vozeirão contrário a toda a opressão. Os lamentos contra a guerra. Contra a desumanização da civilização. Respeitei sempre esse sentimento primordial, essa emoção que gerava o ritmo, o som, a música no piano, na voz, a fala nascendo da música, o gesto da fala”, detalha a atriz. Pelo trabalho, Letícia Sabatella e seus parceiros musicais estão indicados ao 27º Prêmio Shell de Teatro, por São Paulo. A peça também comparece nas categorias direção (Guilherme Leme Garcia), atriz (Denise Del Vecchio), figurino (Glória Coelho) e iluminação (Tomás Ribas).

AMIGOS EM BH

Letícia Sabatella morou em Belo Horizonte na década de 1990, mas andava sumida dos palcos mineiros. Embora tenha visitado recentemente a exposição do painel 'Guerra e paz', de Portinari, montada no ano passado no Cine Theatro Brasil Vallourec, a última vez que esteve em cartaz na cidade foi com a peça 'O memorial do convento', quando o Teatro Dom Silvério ainda estava em atividade. “Adoro BH, tenho verdadeiros irmãos aqui. A família do dr. Salvador, que nos amparou no nascimento da minha filha, o dr. Orleans, Virgílio, a dra Marisa Braga, o Breno e a Eliane, irmãos do Frei Beto. E tantos artistas maravilhosos, os integrantes do Galpão, Paulo Santos do Uakti, Marcus Vianna, e muitas pessoas maravilhosas que se tornaram amigas quando morei em BH com a minha filha”, elogia.

'Trágica.3'
De sexta a domingo, às 20h. CCBB Belo Horizonte, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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