Reunir as três personagens femininas mais fortes das tragédias gregas em um mesmo espetáculo foi ideia de Guilherme, para quem o texto soa como poesia. “Ao assistir essas três performances femininas, eu me pergunto se esses autores não eram mulheres”, questiona Letícia Sabatella. Segundo ela, os textos foram escritos em uma época em que as mulheres tinham status inferior ao de escravos e, no entanto, nessas obras, como a atriz salienta, “é dado a elas o protagonismo de manifestos nefastos que questionam o poder da forma como estabelecido na civilização greco-romana. Berço desta estrutura de civilização tão adoecida de alma em que vivemos hoje”.
Fragmentos das personagens foram amalgamados a partir de releituras feitas pelo dramaturgo alemão Heiner Müller e os brasileiros Caio de Andrade e Francisco Carlos. No caso do fragmento de Antígona, a versão de Caio de Andrade, segundo Letícia, foi responsável por trazer muita musicalidade para a cena. A atriz, então, foi responsável pela criação da trilha sonora em parceria com Fernando Alves Pinto e Marcello H.
“É um clássico, eterno, atemporal. Daí veio o som, o vozeirão contrário a toda a opressão. Os lamentos contra a guerra. Contra a desumanização da civilização. Respeitei sempre esse sentimento primordial, essa emoção que gerava o ritmo, o som, a música no piano, na voz, a fala nascendo da música, o gesto da fala”, detalha a atriz. Pelo trabalho, Letícia Sabatella e seus parceiros musicais estão indicados ao 27º Prêmio Shell de Teatro, por São Paulo. A peça também comparece nas categorias direção (Guilherme Leme Garcia), atriz (Denise Del Vecchio), figurino (Glória Coelho) e iluminação (Tomás Ribas).
AMIGOS EM BH
Letícia Sabatella morou em Belo Horizonte na década de 1990, mas andava sumida dos palcos mineiros. Embora tenha visitado recentemente a exposição do painel 'Guerra e paz', de Portinari, montada no ano passado no Cine Theatro Brasil Vallourec, a última vez que esteve em cartaz na cidade foi com a peça 'O memorial do convento', quando o Teatro Dom Silvério ainda estava em atividade. “Adoro BH, tenho verdadeiros irmãos aqui. A família do dr. Salvador, que nos amparou no nascimento da minha filha, o dr. Orleans, Virgílio, a dra Marisa Braga, o Breno e a Eliane, irmãos do Frei Beto. E tantos artistas maravilhosos, os integrantes do Galpão, Paulo Santos do Uakti, Marcus Vianna, e muitas pessoas maravilhosas que se tornaram amigas quando morei em BH com a minha filha”, elogia.
'Trágica.3'
De sexta a domingo, às 20h. CCBB Belo Horizonte, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).