Pedro Bandeira retoma a Coleção Os Karas e autografa 'A droga da amizade' em BH

Escritor sai em defesa de seus jovens leitores e ainda compara literatura a "colinho quente"

por Ângela Faria 22/09/2014 08:00

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Arte/EM
(foto: Arte/EM)
Pedro Bandeira é um fenômeno da literatura brasileira. Autor da 'Coleção Os Karas', cujo primeiro volume saiu há três décadas, ele já vendeu 30 milhões de livros. Aos 72 anos, o “pai” de Miguel, Chumbinho, Calu, Crânio e Magrí – a turma de alunos do Colégio Elite que encantou gerações de meninos e meninas com suas aventuras – passa um pito nos adultos que adoram esculhambar a garotada, tachando-a de desinteressada, alérgica à leitura e viciada em internet. “Muitos velhos adoram dizer ‘no meu tempo era melhor’. Era nada! Meu tempo é hoje, e tem de ser do jeito que os jovens querem que seja. Eles estão ligados, sim. Não gostam do noticiário da TV porque acreditam ser manipulado, não crítico, cheio de não me toques”, afirma Pedro.


Sexta-feira, ele chega a BH para autografar 'A droga da amizade' (Editora Moderna), o sexto volume da coleção infantojuvenil. Bandeira levou 14 anos para lançá-lo. Teve de driblar o desafio da revolução tecnológica para voltar a personagens criados nos anos 1980. Quando o último volume da série saiu, em 1999, o jovem leitor nem sonhava com os WhatsApps da vida. Agora, Pedro tem de atrair a atenção da “meninada cyber”. Foi difícil, mas ele não desistiu de sua turma.
Aliás, é bom avisar: o canal de Pedro com os leitores do século 21 passa longe de Facebook, Instagram ou Twitter. “Não é pela internet que os acompanho. Vivendo é que os acompanho. O trabalho de qualquer artista, seja um compositor, um pintor ou escritor, depende de sua sensibilidade, de sua capacidade de sentir o que vê, o que observa. Sinto o meu leitor. Se sinto errado, ele que me diga”, avisa.

 

Leia a entrevista com Pedro Bandeira na íntegra


A 'Coleção Os Karas' reúne os livros 'A droga da obediência' (1984), 'Pântano de sangue' (1987), 'Anjo da morte' (1988), 'A droga do amor' (1994), 'Droga de americana!' (1999) e, agora, 'A droga da amizade'. Com fortes pitadas de suspense, os estudantes do Elite tentam desvendar crimes e sequestros, lutam contra a eliminação de índios e para preservar animais em extinção. Encaram até o Anjo da Morte, um ex-oficial nazista. Claro, tem romance também: Miguel, Calu e Crânio são caidinhos por Magrí.


No recém-lançado 'A droga da amizade', todo mundo virou adulto. Miguel, aliás, tem missão dificílima. “Por favor, não revele o final do livro”, pede o autor várias vezes. “Concretudes do mundo atual”, como diz ele, estão presentes na trama, devidamente conectada ao jovem contemporâneo. “Adolescentes começam a despontar para a vida e perceber injustiças, fome, miséria e violência à sua volta. Eles sentem irreprimível impulso de atuar na sociedade, de protestar, de transformar. Meus leitores são os verdadeiros Karas, o avesso dos coroas, o contrário dos caretas”, afirma.

Inspiração Em agosto, o escritor emocionou fãs – de todas as idades – na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. É sempre assim. O segredo para conquistar gente de tantas gerações? “A troca de amor”, filosofa ele. “Chegar aos 30 anos depois do lançamento de 'A droga da obediência' só me trouxe alegrias. Literatura é o colo impresso. Pra mim, sempre foi. E é uma delícia descobrir que a minha literatura tenha servido como colinho quente pra tanta gente por tanto tempo”, conta. Pura verdade. O belo-horizontino Pedro Moreira, de 7, ainda é muito jovem para acompanhar os Karas, mas adora – e morre de medo – de 'A mentira cabeluda', livro lançado por Bandeira em 2012.


Aos 72 anos, o escritor diz que seu “oxigênio” é o carinho. “Meus ‘velhos’ leitores, os meus ‘filhinhos’ de 30 vieram me abraçar, enquanto os meus ‘netinhos’ de 10 ou 11 continuam procurando o meu colo e mostrando que meus textos não envelheceram. Como sonhar com emoções mais fortes do que esta?”, derrete-se ele.


Corujices à parte, Bandeira é um “vovô” sagaz. Seu novo livro traz a turma de Miguel na faixa dos 30 anos. Dessa forma, ele “fisga” os meninos do século 21 e os fãs já crescidos. “Levei uns 12 anos tentando criar esse ‘anzol’”, revela. “Como foi difícil! Durante todos os 30 anos da coleção, primeiro muitas cartas e, agora, inúmeros e-mails sempre exigiam mais aventuras com os Karas. Escrevi mais quatro (volumes), mas logo surgiu um grande problema: a série nasceu no início dos anos 1980, quando ainda não havia telefone celular, computador pessoal, internet, Google, correio eletrônico e Facebook. Como criar uma nova aventura em pleno século 21, sem os Karas utilizarem disso tudo que é tão banal para meus jovens leitores?” Solucionar tamanho enigma foi desafiador.


Depois de muitas ideias abandonadas e retomadas, Pedro faz com que Miguel, já adulto, relembre como foi criada sua turma. Os Karas, é certo, vão na contramão dos bruxos e vampiros importados que conquistam os leitores do século 21. “Essas fantasias não compõem o DNA de nossa formação cultural. Para os pequenos, até é possível usar bruxinhas, como faz minha amiga Eva Furnari. Mas como criar um vampiro de calção na Praia de Copacabana ou uma bruxa perseguindo adolescentes na Avenida Paulista? Só se for como recurso de humor”, diverte-se ele.


Nada contra Harry Potter, o fenômeno globalizado. “Não há concorrência. Ele é um arraso que conquista e cria leitores para mim e para todos os autores”, diz Pedro Bandeira. Ao ser perguntado sobre por que, afinal, o ofício tanto o encanta, o chefe d’Os Karas responde: “Essa garotada é o futuro e escrevo para ajudá-los a construir esse futuro. Interesso-me por todos os aspectos dessa juventude, por cada olhar, observo cada lágrima, cada gargalhada, cada bagunça, cada esperança que eles me apontam. Não sou eu que lhes forneço a esperança; são eles que me provam que é gostoso viver”.

 

Reprodução
(foto: Reprodução)
A DROGA DA AMIZADE
De Pedro Bandeira
Editora Moderna,
168 páginas, R$ 41

Lançamento
sexta-feira, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Diamond Mall (Avenida Olegário Maciel, 1.600, Lourdes).

 

 

 

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