“O consumo de atividades culturais ainda é realidade distante da maior parte dos brasileiros”. Essa é uma das principais conclusões do Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2014. Construída a partir de entrevistas feitas pelo Ibope, a pesquisa mostra que ouvir música é a atividade mais praticada pelos brasileiros (44%), seguida por assistir à TV (39%), ouvir rádio (35%), acessar a internet (30%) e ir ao cinema (25%).
No período entre novembro de 2012 a novembro de 2013, foi perguntado aos entrevistados que tipos de atividades culturais foram realizadas do momento em que estavam sendo questionados até um ano antes. Os resultados mostraram que menos da metade dos consultados praticou alguma ação relacionada à cultura.
Nesse universo, a prática religiosa foi a mais citada, totalizando 42%. O hábito de ir ao cinema foi declarado por 38%. Ir a restaurantes aparece em terceiro lugar (34%), passear no parque ou ao ar livre vem em quarto (30%).
O estudo foi realizado em 75 cidades das cinco regiões do país e apoiado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet. Foram consultadas 1620 pessoas, entre 16 e 75 anos de idade, das classes A, B, C e D. O lançamento nacional do projeto ocorre nesta terça-feira (16). Além do livro impresso, os dados podem ser acessados no site www.panoramadacultura.com.br .
Em geral, é na região Sudeste onde se verifica maior interesse por práticas culturais. O Nordeste e Centro-Oeste aparecem logo em seguida. “Verificamos que o consumidor do Nordeste é o que mais valoriza a opinião de críticos bem como dá mais importância para o local em que a atividade acontece”, informa Gisele Jordão, que dividiu a autoria da pesquisa com Renata Allucci.
Gisele aponta a cultura e o conhecimento como ferramentas fundamentais no processo de posicionamento dos indivíduos frente ao mundo, na superação de dificuldades, conquista de bem estar e boa convivência social. “Em síntese, podemos afirmar, segundo os resultados obtidos, que o praticante cultural tende a ser um indivíduo mais equilibrado entre perspectivas individuais e coletivas”.
ATIVIDADES CULTURAIS MAIS APRECIADAS
Ouvir música - 44%
Assistir à TV (aberta ou por assinatura/ a cabo) - 39%
Ouvir rádio - 35%
Acessar a internet - 30%
Ir ao cinema - 25%
Assistir a filmes em casa - 20%
Frequentar/praticar alguma religião - 20%
Ir a restaurante como atividade de lazer - 17%
Ir a parque/passear ao ar livre - 16%
Ler jornal - 14%
Ir a show de música popular - 12%
Ler livros - 10%
Ir a festas regionais/típicas - 10%
Viajar dentro do Brasil - 10%
Assistir a eventos de esporte - 8%
Ler revista - 7%
Ir à loja de CD/DVD - 7%
RESUMO DE PRÁTICAS REALIZADAS NO ÚLTIMO ANO
Frequentar alguma religião - 42%
Cinema - 38%
Restaurantes - 34%
Passear no parque - 30%
Viajar dentro do Brasil - 25%
Show de música popular - 20%
Festas regionais/típicas/quermesses - 20%
Loja de CD/DVD - 19%
Feira de artesanato - 13%
Livraria - 13%
Carnaval na rua ou no sambódromo - 12%
Eventos de esportes / estádios - 9%
Circo - 9%
Teatro - 9%
Musical - 7%
Igrejas históricas - 6%
Cidades históricas/monumentos arquitetônicos - 6%
Biblioteca pública - 5%
OUTROS DADOS DA PESQUISA
Ir a show de música instrumental/orquestra/clássica/erudita
Apenas 1% dos entrevistados declararam apreciar tal atividade
Cinema
A região Nordeste é onde se vai menos ao cinema: 26%
É no Sul onde se verifica maior interesse em ir ao cinema: 47%
Sudeste vem em segundo, com 38%
Região Norte: 37%
Centro-oeste: 37%
INFLUÊNCIAS NA DECISÃO DE CONSUMO DE PRÁTICAS CULTURAIS
Conhecimento X Emoção
Preferência por atividades que ampliem conhecimentos: 55%
Preferência por atividades que proporcionem fortes emoções: 44%
Preferência por atividades que ampliem conhecimentos (por região)
Nordeste - 68%
Sudeste - 55%
Norte - 54%
Centro-oeste - 48%
Sul - 47%
Fonte: pesquisa PSCB 2013/2014. Base 1620 entrevistados/respostas múltiplas
Entrevista Gisele Jordão
Graduada em comunicação social, mestre em gestão internacional, doutoranda em comunicação e práticas de consumo e professora da ESPM São Paulo
Em linhas gerais, que conceito de cultura permeou o trabalho de pesquisa?
Entendemos que o mundo em que vivemos hoje tem, como central, a lógica cultural, a lógica da abstração. Para ficar um pouco mais claro, absorvemos a noção de cultura de forma não totalizante, em que se pode pensar em cultura no plural e no singular simultaneamente: a cultura e as culturas. Neste sentido, a cultura deixa de ser fim e passa a ser recurso político e econômico. Desde essa perspectiva de cultura, localizamos o conceito de práticas culturais (todas as atividades de produção e recepção cultural: escrever, compor, pintar, dançar, frequentar teatro, cinema, concertos etc..) sem hierarquizar ou classificar, verificando-as como atividades mediadoras e, assim, com potencial dialógico e comunicacional, favorecendo a interação do indivíduo com a sociedade.
Nas considerações finais, chegou-se à conclusão que o consumo de cultura ainda é algo distante para a maior parte dos brasileiros. É possível lançar hipóteses a respeito dessa situação?
O objetivo do estudo foi identificar os motivos que mobilizam os brasileiros a consumirem e não, necessariamente, a não o fazer. De qualquer forma, podemos afirmar com base na pesquisa que a transversalidade de atividades culturais no período de formação do indivíduo é fundamental incentivador para que o consumo ocorra. Falamos em transversalidade tanto em núcleos como família, escola e comunidade que este indivíduo vive como em tempo de experimentação, que deve ser contínua. Assim, podemos traçar como uma hipótese para que o consumo cultural não aconteça justamente a não existência da fruição cultural de maneira contínua e corriqueira na vida do brasileiro. Neste sentido, imaginamos que a ausência de políticas orientadas pela continuidade e que envolva as relações familiares em suas estratégias impliquem nesta distância.
O discurso sobre cultura anda bastante ausente nos debates eleitorais para Presidência da República. Por que isso acontece?
Mesmo na imprensa fala-se muito de arte mas pouco – ou quase nada – de política cultural. A consciência que a cultura pode mudar situações socioeconômicas adversas não parece permear o senso comum e, portanto, não se constitui um valor social coletivamente compartilhado, ou seja, compreendido como importante. No momento em que se compreender coletivamente que a cultura pode diminuir a desigualdade na relação entre diferentes, provavelmente ela se transformará num valor social coletivamente partilhado e o acesso assimétrico a ela deverá ser, inevitavelmente, elemento de discussão. Contudo, num certo sentido, podemos inferir que candidatos que têm dado atenção para este assunto compreenderam com vigor a importância e a força deste pensamento.
No período entre novembro de 2012 a novembro de 2013, foi perguntado aos entrevistados que tipos de atividades culturais foram realizadas do momento em que estavam sendo questionados até um ano antes. Os resultados mostraram que menos da metade dos consultados praticou alguma ação relacionada à cultura.
Nesse universo, a prática religiosa foi a mais citada, totalizando 42%. O hábito de ir ao cinema foi declarado por 38%. Ir a restaurantes aparece em terceiro lugar (34%), passear no parque ou ao ar livre vem em quarto (30%).
O estudo foi realizado em 75 cidades das cinco regiões do país e apoiado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet. Foram consultadas 1620 pessoas, entre 16 e 75 anos de idade, das classes A, B, C e D. O lançamento nacional do projeto ocorre nesta terça-feira (16). Além do livro impresso, os dados podem ser acessados no site www.panoramadacultura.com.br .
Em geral, é na região Sudeste onde se verifica maior interesse por práticas culturais. O Nordeste e Centro-Oeste aparecem logo em seguida. “Verificamos que o consumidor do Nordeste é o que mais valoriza a opinião de críticos bem como dá mais importância para o local em que a atividade acontece”, informa Gisele Jordão, que dividiu a autoria da pesquisa com Renata Allucci.
Gisele aponta a cultura e o conhecimento como ferramentas fundamentais no processo de posicionamento dos indivíduos frente ao mundo, na superação de dificuldades, conquista de bem estar e boa convivência social. “Em síntese, podemos afirmar, segundo os resultados obtidos, que o praticante cultural tende a ser um indivíduo mais equilibrado entre perspectivas individuais e coletivas”.
ATIVIDADES CULTURAIS MAIS APRECIADAS
Ouvir música - 44%
Assistir à TV (aberta ou por assinatura/ a cabo) - 39%
Ouvir rádio - 35%
Acessar a internet - 30%
Ir ao cinema - 25%
Assistir a filmes em casa - 20%
Frequentar/praticar alguma religião - 20%
Ir a restaurante como atividade de lazer - 17%
Ir a parque/passear ao ar livre - 16%
Ler jornal - 14%
Ir a show de música popular - 12%
Ler livros - 10%
Ir a festas regionais/típicas - 10%
Viajar dentro do Brasil - 10%
Assistir a eventos de esporte - 8%
Ler revista - 7%
Ir à loja de CD/DVD - 7%
RESUMO DE PRÁTICAS REALIZADAS NO ÚLTIMO ANO
Frequentar alguma religião - 42%
Cinema - 38%
Restaurantes - 34%
Passear no parque - 30%
Viajar dentro do Brasil - 25%
Show de música popular - 20%
Festas regionais/típicas/quermesses - 20%
Loja de CD/DVD - 19%
Feira de artesanato - 13%
Livraria - 13%
Carnaval na rua ou no sambódromo - 12%
Eventos de esportes / estádios - 9%
Circo - 9%
Teatro - 9%
Musical - 7%
Igrejas históricas - 6%
Cidades históricas/monumentos arquitetônicos - 6%
Biblioteca pública - 5%
OUTROS DADOS DA PESQUISA
Ir a show de música instrumental/orquestra/clássica/erudita
Apenas 1% dos entrevistados declararam apreciar tal atividade
Cinema
A região Nordeste é onde se vai menos ao cinema: 26%
É no Sul onde se verifica maior interesse em ir ao cinema: 47%
Sudeste vem em segundo, com 38%
Região Norte: 37%
Centro-oeste: 37%
INFLUÊNCIAS NA DECISÃO DE CONSUMO DE PRÁTICAS CULTURAIS
Conhecimento X Emoção
Preferência por atividades que ampliem conhecimentos: 55%
Preferência por atividades que proporcionem fortes emoções: 44%
Preferência por atividades que ampliem conhecimentos (por região)
Nordeste - 68%
Sudeste - 55%
Norte - 54%
Centro-oeste - 48%
Sul - 47%
Fonte: pesquisa PSCB 2013/2014. Base 1620 entrevistados/respostas múltiplas
Entrevista Gisele Jordão
Graduada em comunicação social, mestre em gestão internacional, doutoranda em comunicação e práticas de consumo e professora da ESPM São Paulo
Em linhas gerais, que conceito de cultura permeou o trabalho de pesquisa?
Entendemos que o mundo em que vivemos hoje tem, como central, a lógica cultural, a lógica da abstração. Para ficar um pouco mais claro, absorvemos a noção de cultura de forma não totalizante, em que se pode pensar em cultura no plural e no singular simultaneamente: a cultura e as culturas. Neste sentido, a cultura deixa de ser fim e passa a ser recurso político e econômico. Desde essa perspectiva de cultura, localizamos o conceito de práticas culturais (todas as atividades de produção e recepção cultural: escrever, compor, pintar, dançar, frequentar teatro, cinema, concertos etc..) sem hierarquizar ou classificar, verificando-as como atividades mediadoras e, assim, com potencial dialógico e comunicacional, favorecendo a interação do indivíduo com a sociedade.
Nas considerações finais, chegou-se à conclusão que o consumo de cultura ainda é algo distante para a maior parte dos brasileiros. É possível lançar hipóteses a respeito dessa situação?
O objetivo do estudo foi identificar os motivos que mobilizam os brasileiros a consumirem e não, necessariamente, a não o fazer. De qualquer forma, podemos afirmar com base na pesquisa que a transversalidade de atividades culturais no período de formação do indivíduo é fundamental incentivador para que o consumo ocorra. Falamos em transversalidade tanto em núcleos como família, escola e comunidade que este indivíduo vive como em tempo de experimentação, que deve ser contínua. Assim, podemos traçar como uma hipótese para que o consumo cultural não aconteça justamente a não existência da fruição cultural de maneira contínua e corriqueira na vida do brasileiro. Neste sentido, imaginamos que a ausência de políticas orientadas pela continuidade e que envolva as relações familiares em suas estratégias impliquem nesta distância.
O discurso sobre cultura anda bastante ausente nos debates eleitorais para Presidência da República. Por que isso acontece?
Mesmo na imprensa fala-se muito de arte mas pouco – ou quase nada – de política cultural. A consciência que a cultura pode mudar situações socioeconômicas adversas não parece permear o senso comum e, portanto, não se constitui um valor social coletivamente compartilhado, ou seja, compreendido como importante. No momento em que se compreender coletivamente que a cultura pode diminuir a desigualdade na relação entre diferentes, provavelmente ela se transformará num valor social coletivamente partilhado e o acesso assimétrico a ela deverá ser, inevitavelmente, elemento de discussão. Contudo, num certo sentido, podemos inferir que candidatos que têm dado atenção para este assunto compreenderam com vigor a importância e a força deste pensamento.