Dia do Solteiro existe, mas por que é tão difícil comemorar?

A data, oficialmente celebrada no dia 15 de agosto, não tem o mesmo status do Dia dos Namorados, nem no comércio, nem nas casas noturnas

por Alessandra Alves 15/08/2014 07:00

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Arquivo Pessoal
Se estamos sozinhos, as pessoas acreditam que há algo de errado conosco, critica Lívia Pifano (foto: Arquivo Pessoal)
“Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho?”, questiona a música 'Satisfeito', de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, que diz ainda: "vivo tranquilo, a liberdade é quem me faz carinho". Mesmo que fora do padrão ainda predominante na sociedade brasileira, a vida sem relação conjugal é opção de 42,9% da população, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2011, divulgada pelo IBGE.

 

Assumir a 'solteirice', no entanto, tornou-se tarefa difícil para muita gente. Celebrado no dia 15 de agosto, o Dia dos Solteiros está longe de ser uma data importante para o comércio, tratamento bem diferente ao dado para o Dia dos Namorados, quando há promoções em lojas, bares e restaurantes. Além de não ser um status passível de celebrações, os solteiros convivem com a pressão da sociedade, que não vê a opção de estar sozinho uma escolha, mas a falta dela.

Pesquisa realizada pelo site de relacionamento ParPerfeito revela que 81% dos entrevistados desconhecem a existência do Dia dos Solteiros. No entanto, 82% acreditam que marcas deveriam investir em ações de marketing com esse foco. Apesar de o público ser grande - no Brasil existem 72 milhões de solteiros, 400 mil em Minas Gerais - , o nicho de mercado não é muito explorado. De acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CLD/BH), não existe demanda do comércio para a data já que não há o mote de ter alguém para presentear.

No entanto, a visão dos comerciantes não é compartilhada entre os solteiros. Lívia Pifano, 25 anos, diz que a data é uma ótima oportunidade para celebrar uma opção de vida. “Acharia incrível. Seria uma declaração pública de amor próprio. Uma quebra de paradigmas, a valorização do ser humano como uma pessoa única, a conjugação do verbo na primeira pessoa: eu me amo”. Solteira há um ano, Lívia decidiu que precisava de um tempo para conhecer a si mesma, os próprios gostos e sentir-se livre sem culpas.

 

Apesar de sentir que está no caminho certo, ainda sofre com perguntas indiscretas e muitas vezes bisbilhoteiras que escuta por aí. “As crenças limitantes da maior parte da sociedade fazem com que a solteirice pareça um crime. Sempre escuto coisas do tipo: 'mas como assim você está solteira? Você precisa de um namorado'! Se estamos sozinhos, as pessoas acreditam que há algo de errado conosco. Elas crêem que só pode ser feliz quem tem alguém para chamar de seu”, desabafa.

Para a psicóloga especialista em Sexualidade Humana, Sônia Eustáquia Fonseca, existe sim essa pressão, principalmente quando se trata da mulher. Para ela, a questão está ligada à construção da família - que é ainda um desejo universal -, e não conseguir esse objetivo é visto como sinônimo de fracasso. “Ter uma profissão, dinheiro e família coloca o cidadão em um lugar bom da sociedade, um lugar vitorioso. Ser bem sucedido hoje está atrelado a ter uma família. É estar casado e não solteiro”, diz.

 

É por isso que, para a psicóloga, o Dia do Solteiro ainda está longe de ser celebrado no país. “Muita coisa mudou ao longo dos últimos anos. Se você pensar, por exemplo, há 50 anos a mulher divorciada pagava um preço altíssimo pela sua escolha. Mas não consigo imaginar o mundo ainda com tanta modificação”, explica.

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"A minha liberdade é o que mais prezo nesse status", conta Patrícia Valentim, solteira há 12 anos (foto: Arquivo Pessoal)

Outro solteiro, Marlon Neves, de 25 anos, nunca namorou. Decidiu que não se relacionaria exclusivamente com outra pessoa porque coloca sua liberdade em primeiro lugar. Gosta da vida de solteiro e sente-se independente para realizar o que quer que seja. Ele reconhece, no entanto, que o status é mais fácil de ser assumido para um homem que por uma mulher. Para o homem, segundo ele, a escolha ainda é vista como uma opção, mas para a mulher é mais um sinal de fracasso. A psicóloga Sônia Eustáquia concorda com a constantação e reforça. “Se uma mulher está sozinha em uma casa noturna, homens e até outras mulheres sempre vão achar que ela está procurando alguém. 'Tadinha, não tem ninguém pra sair'... Estar solteira é pagar um preço alto”, afirma.

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Marlon Neves, de 25 anos, nunca namorou por opção. Ele admite preferir a vida de solteiro (foto: Arquivo Pessoal)

Patrícia Valentim, de 43 anos, se vê vítima desse tipo de julgamento. Solteira há 12 anos, desde o último relacionamento sério, conta que sofre com as perguntas frequentes dos amigos. “'Não tá namorando? Tá precisando arrumar um namorado, hein? Nossa, não quer ter filho? Por que??? Essas e outras frases parecidas são as que mais ouço dos amigos, mas imagino que meus pais sofram um preconceito ainda maior", diz. Ela conta que às vezes surge vontade de namorar para ter uma companhia, mas na maioria das vezes prefere ser livre. “A minha liberdade é o que mais prezo nesse status”, afirma.

Mudanças à vista?
Ao contrário do comércio, que se mostra resistente em adotar o Dia dos Solteiros, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel/MG) tem recomendado às casas noturnas da capital e do Estado que passem a divulgar a data, para que ela possa ser consolidada. Segundo Lucas Pêgo, diretor de comunicação da associação, existiam datas que há 10 anos não eram conhecidas no país e hoje estão consolidadas, como o Saint Patrick's Day e o Halloween. Para ele, é uma questão de concentrar esforços.

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