"Eu sou escritor. O escritor convencido, além de antipático, é um indecente. Acho que só se pode avaliar o valor de um escritor muito tempo depois da morte dele", disse Ariano Suassuna em entrevista ao Correio Braziliense em 2013. Morto aos 87 anos nesta quarta-feira, 23, vítima de acidente vascular cerebral, o autor paraibano deixa legado digno de um dos mestres de sua época.
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Nascido em Nossa Senhora das Neves, cidade que se tornaria João Pessoa, Ariano viveu no sertão da Paraíba antes de mudar-se com a família para o Rio de Janeiro, ainda na infância, e de lá retornou ao estado natal após o assassinato do pai, motivado por questões políticas. Passou a juventude no Recife, em Pernambuco, onde fundou o Teatro do Estudante e escreveu sua primeira peça, 'Uma mulher vestida de sol' (1947).
Formado em direito na capital pernambucana, dedicou-se à advocacia ao mesmo tempo em que desenvolvia seus trabalhos como dramaturgo, com obra extensa em curto período. 'Auto da compadecida' foi escrito neste período em que Ariano se dividia entre as duas carreiras. Lançada em 1955, a peça tornou-se sua obra mais conhecida e alçou-o à fama entre os entusiastas do teatro no país à época.
Na década seguinte, tornou-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco, onde atuou até aposentar-se, em 1994. Defensor da valorização de elementos regionais na cultura, foi um dos fundadores do Movimento Armorial, que pregava o desenvolvimento de obras eruditas com repertório ligado às características típicas do Nordeste.
O primeiro romance de Suassuna surgiu ainda em 1956, quando 'A história de amor de Fernando e Isaura' foi lançado na esteira da repercussão de 'Auto da Compadecida'. Em prosa, o autor ainda criou 'Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta' (1971) e 'História d’O rei degolado nas caatingas do Sertão/Ao sol da Onça Caetana' (1976). Em poesia, lançou quatro títulos entre as décadas de 1950 e 1980, além de uma antologia publicada em 1999.
Últimos dias
Um novo livro ocupava a rotina de Ariano Suassuna. Ao Correio, o artista antecipou que reuniria "teatro, poesia e romance" na obra. "Sou mais conhecido como dramaturgo, por causa do 'Auto da Compadecida', menos conhecido como romancista e menos ainda como poeta. Mas, dou muita importância à poesia que faço. Ela é a fonte de tudo que escrevo", explicou o escritor, no ano passado. Ariano ainda anunciou o título da criação: 'O jumento sedutor'.
Na última sexta-feira, 18, o escritor concedeu uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no Agreste de Pernambuco. Na manhã do sábado, 19, ainda tirou fotos com fãs que participavam do evento. Segundo Samarone Lima, assessor de Ariano, ele estava ótimo e muito animado. "Ele estava normal, estava bem", contou.