Prédio Verde não vira C.E.N.A.: espaços culturais públicos seguem fechados apesar das promessas de reforma

Equipamentos culturais fechados em BH passam por obras que se arrastam há anos; Nova função do Prédio Verde, no Circuito da Praça da Liberdade, está longe de sair do papel

por Carolina Braga 20/07/2014 10:36

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Beto Novaes/EM/D.A Press
Prédio Verde receberia o Museu do Homem Brasileiro, mas projeto foi descartado; agora edificação aguarda licitação para iniciar obras do novo projeto para o espaço, o C.E.N.A, espaço para ensaios (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Tem gente que afasta os móveis da sala e faz dali um palco. Outros optam pelo quintal. Há quem, ainda, conte com a boa vontade dos amigos para empréstimo de espaços para ensaio. Conseguir um canto para fazer nascer uma obra teatral ou de dança nem sempre é tarefa fácil. É por isso que o anúncio de que o Prédio Verde da Praça da Liberdade, a antiga Secretaria de Estado de Transportes, será transformado no Centro de Ensaios Abertos (C.E.N.A) foi recebidoa com satisfação pelos artistas mineiros. A notícia foi oficializada no fim de 2013, mas foi uma alegria que passou rápido. Fica a expectativa.

A desconfiança com a concretização do projeto se justifica. Em março de 2010, foi assinado convênio entre o Governo de Minas Gerais e a Fundação Roberto Marinho para a construção, no mesmo local, do Museu do Homem Brasileiro, que teria a diretora e cenógrafa Bia Lessa como curadora. O projeto contemplava a diversidade cultural e étnica do povo brasileiro, com ambientes virtuais e interativos. A inauguração estava prevista para o primeiro semestre de 2014. O projeto do Museu do Homem Brasileiro foi simplesmente abandonado.

E a nova destinação do Prédio Verde, como centro de ensaios, traz grandes desafios, tanto na preparação do espaço como no modelo de gestão que será implantado. “O prédio é um edifício tombado pelo patrimônio histórico. Não é o ritmo de uma construção. É o ritmo de uma restauração, o que implica em uma série de cuidados”, ressalta Cristiana Kumaira, gerente-executiva do Circuito Cultural Praça da Liberdade. Isso significa que o prazo para que o prédio comece a receber de fato grupos para ensaios ainda está indefinido. O problema é que, no setor cultural, a paciência precisa ser exercitada constantemente. O Prédio Verde não é o único que está a dever à comunidade artística e ao público.

Na lista dos anúncios feitos há tempos estão o Teatro Clara Nunes, a nova sede do Oi Futuro no Palacete Dantas e o Cine Santa Tereza. O Teatro Francisco Nunes e o Teatro Marília recentemente saíram desse grupo, com a conclusão de suas reformas, mas ainda não voltaram efetivamente à agenda de Belo Horizonte e seguem de portas fechadas.

Quem entrar hoje no futuro C.E.N.A verá paredes descascadas e outras interferências na estrutura. Segundo Cristiana Kumaira, a reforma encontra-se na fase final do projeto executivo. “Vai ser feito um estudo da obra para elaboração do termo de referência e, depois disso, será publicado o processo de licitação para as empresas que vão realizar a obra”, explica.

Como se trata de uma construção histórica, ainda não é possível prever o prazo final, já que não se sabe ainda como estão as condições da estrutura. No projeto, o C.E.N.A será equipado com salas de ensaio para grupos de teatro e de dança, espaços para instalação de ateliês de artes plásticas, além de salas multimídia e para depósito de cenários. Outro plano é construir uma midiateca, que funcionará como centro de memória e de documentação.

“Nesse primeiro momento, ficamos ligados em quais são as necessidades dos grupos para a realização de ensaios e, depois, vamos pensar como será a gestão do espaço”, informa Cristiana. É esse ponto que desperta preocupação da classe artística e exigirá transparência e muito debate. Afinal, o C.E.N.A terá que dialogar com diferentes grupos de teatro e dança, com propostas culturais muitos singulares e vários calendários de eventos, festivais e estreias.

Outros espaços do Circuito Cultural vêm mostrando o caminho para conjugar o interesse público com os projetos de grupos e artistas. Desde que foi criado, o Centro Cultural Banco do Brasil lança periodicamente editais para ocupação dos espaços. O projeto Diálogos cênicos é um exemplo. O edital voltado para as artes cênicas seleciona artistas e grupos de BH e do interior de Minas Gerais para apresentações, workshops e vivências.

“Pensar a gestão do C.E.N.A será uma etapa extremamente desafiadora, porque é um modelo que não tem similar no país. Temos que nos aproximar do pessoal dessas áreas para saber qual será a melhor maneira”, diz Cristiana Kumaira.

De portas fechadas

 

• Chico Nunes e Marília
Fechados respectivamente há sete e dois anos, os teatros Francisco Nunes e Marília foram reabertos ao público durante a edição deste ano do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte, o FIT-BH. Em 26 de junho, a Fundação Municipal de Cultura divulgou nota afirmando que no prazo de cerca de 30 dias lançaria edital contemplando a ocupação dos dois espaços. De acordo com o órgão, o documento está em fase final de tramitação. “Estamos trabalhando com o prazo de 30 dias para ser lançado, mas não é um prazo exato”, afirma nota da Assessoria de Comunicação.

• Oi Futuro
Em março, foi anunciado que o Oi Futuro (que funciona na Avenida Afonso Pena, 4.001) passaria a ocupar o Palacete Dantas, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Além de galerias de arte e outras instalações, foi anunciada a construção de um teatro com capacidade para 200 espectadores. O Oi Futuro informa que o projeto do novo centro cultural está dentro do cronograma de planejamento e acrescenta que a entrega do novo espaço ocorrerá em etapas. A primeira será a recuperação do Palacete Dantas e do Solar Narbona. A segunda etapa envolve a construção do Teatro Oi Futuro e do Museu das Telecomunicações. Não há obras no local nem prazo para conclusão do projeto.

Beto Novaes/EM/D.A Press
Cine Santa Tereza, na Região Leste de BH, passa por reforma financiada em parceria público-privada; Fundação Municipal de Cultura garante que as obras já estão em fase de conclusão (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

• Cine Santa Tereza
Inaugurado em 1944, o Cine Santa Tereza foi fechado na década de 1980. Apesar de aprovada no Orçamento Participativo, a reforma e a consequente transformação do local no Centro Cultural Santa Tereza ainda não é realidade. O espaço, que nesse meio tempo passou por várias destinações, vem sendo reformado por meio de parceria público-privada. Segundo a Fundação Municipal de Cultura, as obras já estão em fase de conclusão. “Diante da previsão orçamentária para adquirir recursos de infraestrutura e contratação de pessoal, a inauguração do espaço está prevista para o ano que vem, possivelmente no primeiro semestre”, informa a assessoria.

• Clara Nunes
Fechado desde 2009 para obras de adequação às regras de acessibilidade e segurança, o Teatro Clara Nunes permanece inoperante até hoje. Em março do ano passado, a Secretaria de Estado de Cultura anunciou parceria com o Sesc/MG para a reforma. De acordo com o novo responsável, as principais mudanças previstas envolvem a reforma geral do espaço do teatro existente, compatível com as normas e diretrizes vigentes. Isso inclui o tratamento acústico, sonorização, iluminação, sistema de condicionamento de ar, entre outras. O Teatro Sesc Clara Nunes está previsto para ser reaberto em 2016, uma vez cumpridos os procedimentos licitatórios e demais exigências legais.

Filarmônica no prazo
A realidade da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais com a nova sede é outra. O calendário de concertos para o ano que vem já está sendo planejado para a Sala Minas Gerais, em construção em terreno do Barro Preto. Dos atuais 35 concertos em teatros (Palácio das Artes e Sesc Palladium), a Orquestra salta para 70 concertos no novo equipamento cultural. Com assinatura da arquiteta Jô Vasconcelos, o prédio terá, além da sala para 1,4 mil espectadores, dedicada exclusivamente a concertos sinfônicos, instalações preparadas para atividades musicais.

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