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O presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, determinou que a bandeira da Academia seja hasteada a meio mastro. “É uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais . João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência. Estamos todos muito chocados com a notícia”, disse.
A ex-presidenta da ABL Nélida Piñon disse que a morte de João Ubaldo Ribeiro não é uma perda somente para a literatura brasileira, mas também para a língua portuguesa. A escritora ressaltou que João Ubaldo faz parte do grupo de notáveis do Brasil.
"De modo que perder um homem com essa estatura é uma tristeza e, sobretudo, porque era um moço, de 73 anos, em plena campanha criadora e reflexiva, que ainda tinha muito a dar ao Brasil. E sem falar que deixa os amigos, a família, a Berenice, sua mulher formidável, grande amiga de todos nós e a Academia Brasileria de Letras, sem uma pessoa que faz parte do nosso núcleo afetivo", destacou. "É uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais. João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência. Estamos todos muito chocados com a notícia”.
A família do escritor vai aguardar a chegada da filha dele Manuela, que mora na Alemanha, para realizar o enterro do escritor, disse o acadêmico Domício Proença Filho. A chegada dela está prevista para as 5h deste sábado, 19, e possivelmente o sepultamento, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), será ainda pela manhã. Proença contou que Ubaldo não frequentava ativamente a Academia. "Quando vinha, era uma alegria, uma festa. Vamos sentir muita saudade daquela voz de barítono", brincou.
"Ubaldo era um erudito. Tinha uma preocupação muito grande com a justiça social e a realidade do Brasil. Era um escritor voltado para a preocupação com a língua portuguesa do Brasil. Mostrava o que nós somos e como falamos. Todos os seus personagens devem estar se sentindo órfãos hoje", disse.
Já o letrista Abel Silva contou ter estado no domingo com João Ubaldo no bar "Tio Sam", no Leblon, onde o imortal da ABL assistiu à final da Copa do Mundo, torcendo pela Alemanha. "Ele tinha um neto alemão, filho do Bento Ribeiro. No domingo, brincou muito sobre como o neto chorava em português e alemão, estava muito bem e feliz", contou Abel.
Para Abel Silva, não há mais nenhum escritor como João Ubaldo Ribeiro no Brasil. "Ele vem de uma linhagem de escritores brasileiros ligados à tradição e ao conhecimento da fala e da mitologia popular. Herança popular acrescentada de uma cultura sofisticadíssima de um tradutor de Shakespeare, profundo conhecedor da literatura brasileira. E, com tudo isso, era também muito modesto. Era poliglota e jamais o vi usar expressões em inglês ou alemão, por exemplo, línguas nas quais era fluente".
"Foi uma das melhores pessoas que conheci na vida", disse o letrista. "João Ubaldo integrava a famosa turma da Cobal do Leblon, num botequim que se chamava Arataca, que ficou conhecido como o local do Tom Jobim. Mas o João Ubaldo também fazia parte daquela confraria. Seus causos, a alegria e inteligência dele, tudo aparecia muito claramente, o tempo todo". Para Abel Silva, João Ubaldo Ribeiro era um "brasileiro absoluto, inclusive na aparência. Ele dizia que a cara dele era errada em todo lugar que ia. Fosse para os EUA, parecia árabe; fosse para a Palestina parecia brasileiro".
O contista Sérgio Sant'Anna também destacou "Viva o povo brasileiro" entre as principais obras de João Ubaldo. "É realmente um grande livro, que sem dúvida vai ficar para a posteridade. A obra dele toda vai ficar, é inegável", disse. "Era um grande escritor brasileiro. É uma grande perda e surpresa, também. João Ubaldo era uma grande figura, ultimamente andava um pouco recolhido".
Sant'Anna conhecia João Ubaldo há mais de 20 anos. "Convivi com ele numa época em que era muito falante. Além de ser um grande escritor, era engraçado, muito inteligente, todos gostavam dele".