Artistas criam campanha para denunciar fechamento de teatros no Brasil

Movimento iniciado em São Paulo já repercute no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Fim das atividades do Klauss Vianna mobiliza atores em BH

por Carolina Braga 30/06/2014 08:19

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Fotos: Guto Muniz/Divulgação
Na ordem: Marina Viana, da Cia. Primeira Campainha; Assis Benevenuto, ator do grupo Quatroloscinco; coreógrafa e bailarina Dudude Herrmann; o fotógrafo Guto Muniz; Fernanda Vianna, atriz do Grupo Galpão; oator Rodolfo Vaz participando da campanha '#Deixemoespaçodoteatroempaz' (foto: Fotos: Guto Muniz/Divulgação)
As fitas amarelas são as mesmas usadas para áreas interditadas. Atrás delas, no entanto, estão artistas em uma representação de atravessamento e rompimento. O ato simbólico é motriz para a campanha '#Deixemoespaçodoteatroempaz'. O movimento, que começou em São Paulo e ganhou ramificações em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, reúne atores, diretores, produtores, críticos e jornalistas especializados em cultura, em protesto contra a especulação imobiliária que tem levado ao fechamento de espaços artísticos.

O '#Deixemoespaçodoteatroempaz' nasceu por iniciativa da revista de teatro Antro Positivo, com sede em São Paulo. Periodicamente, a publicação procura chamar a atenção para temas importantes para o segmento. Já foi assim, por exemplo, com o uso exagerado do telefone celular em situações impróprias. É a primeira vez que o movimento ganha corpo em outras cidades.

“O que a gente tenta fazer não é solucionar os problemas, mas alertar as pessoas. Falar para quem não frequenta esses espaços, que não têm a menor ideia do que está ocorrendo, e fazer perceber que esses espaços estão ameaçados”, alerta o editor da publicação, Ruy Filho. O movimento de expansão da campanha não foi planejado. Ao mesmo tempo em que a comunidade de São Paulo se indignava com o possível fechamento da sede do Centro Internacional de Teatro (Cit-Ecum), em Belo Horizonte há o caso do Teatro Klauss Vianna.

A casa de espetáculos construída no andar térreo do antigo prédio da sede da Oi, na Avenida Afonso Pena, 4.001, que hoje abriga o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), tem funcionamento garantido até 30 de setembro. Depois disso, as atividades do Oi Futuro – braço cultural da empresa de telefonia que ocupava o endereço, que além do teatro contava com salas de exposição e um pequeno museu – ficam suspensas até a inauguração da nova sede no Palacete Dantas, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade.

O fotógrafo Guto Muniz foi o responsável pelas fotos do projeto '#Deixemoespaçodoteatroempaz' feitas em Belo Horizonte. Ele se surpreendeu com a adesão dos artistas. Fez um convite pelo Facebook e em cerca de três horas clicou 35 artistas, entre eles integrantes do Grupo Galpão, Quatroloscinco , Teatro do Comum, Grupo Teatro Invertido, Cia. do Chá, Cia. Cinco Cabeças e outros. Mesmo envolvido com a causa, Guto sabe que a mobilização não é capaz de alterar o cenário sem ações práticas.

“É um começo, mas não pode ficar somente nisso. A questão do Cit-Ecum é um bom exemplo: rapidamente fizeram abaixo-assinado e deram encaminhamento para a campanha. Teve uma continuidade e as ações efetivas foram tomadas”, diz. Em São Paulo, os resultados práticos começam mesmo a aparecer. O movimento pela manutenção da sede do Cit-Ecum (Centro Internacional de Teatro), localizado na Rua da Consolação, teve importantes conquistas semana passada.

Os diretores do espaço, em parceria com a Cooperativa Paulista de Teatro, entraram com dois pedidos distintos no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo para garantir o funcionamento do espaço. O primeiro é para o tombamento do prédio como patrimônio cultural e o segundo solicita registro do mesmo como bem imaterial. Os documentos foram acatados e os processos estão em andamento.

Colaborador da campanha no Rio de Janeiro, o produtor Michel Blois conta que a especulação imobiliária invadiu a cidade com tudo. “O Rio de Janeiro, que já era carente de equipamentos de teatro, que nem sequer conseguia abrigar sua própria produção, perdeu alguns espaços culturais nos últimos anos: Teatro Glória, Teatro Villa-Lobos (com três salas), Teatro Serrador (fechado desde o fim da ocupação da Cia Alfândega 88) e Sala Tônia Carrero, no Teatro Leblon (sem programação há alguns meses e sem previsão para voltar a funcionar)”, lista. Segundo ele, muitos artistas aderiram à campanha, mas ela ainda é desconhecida da maioria da categoria.

Só virtual

Em Belo Horizonte, por enquanto, a ação da classe artística tem sido a troca de fotos nos perfis das redes sociais e depoimentos acalorados, também no ambiente virtural. Ainda não há qualquer ação efetiva ou procedimento legal em andamento. “Faltam dois meses para o fechamento do Klauss Vianna e se não acontecer nada sabemos que ninguém vai ficar sensibilizado, porque as pessoas estão se movimentando apenas na rede social”, ressalta Guto Muniz.

Segundo Andréa Anhaia, representante do Fórum Permanente da Dança, desde o início do ano passado a questão foi tratada em reuniões tanto com o município como com a Secretaria de Estado da Cultura. “Ficaram nos devendo respostas. Porém, como são tantos os nossos pleitos e quase nenhuma resposta, fica difícil acompanhar tudo”, reconhece. O tema circula nas listas de discussões do fórum. Segundo Andréa, bailarinos, coreógrafos e produtores envolvidos na cadeia da dança começam a articular um abaixo-assinado. “A ideia é mandar para o Tribunal de Justiça, a única instância à qual ainda não levamos a questão para ser discutida”, afirma.

Negociação é a saída


O momento é oportuno para a mobilização da categoria. Hoje, o desembargador Pedro Bitencourt Marcondes assume a presidência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. A cerimônia está marcada para 17h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Ainda que o posicionamento da instituição continue o mesmo em relação ao futuro do Teatro Klauss Vianna, parece haver espaço para negociações.

O imóvel na Avenida Afonso Pena foi desapropriado e declarado de utilidade pública, segundo acordo entre o Governo de Minas e o TJMG. Com isso, a operadora de telefonia teve de sair do prédio. Os projetos culturais do Oi Futuro, que antes ocupavam o Teatro Klauss Vianna e as galerias no andar térreo do edifício, serão instalados no Palacete Dantas, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Com a mudança, o Teatro Klauss Vianna, recentemente reformado, deverá ser desativado para atender às demandas internas do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Pedro Bitencourt Marcondes, de 51 anos, é o mais jovem presidente da história do TJMG. Embora as principais metas da gestão sejam a implantação do processo eletrônico, gestão otimizada com foco no planejamento e investimento no aperfeiçoamento dos recursos humanos, não exclui um olhar mais sensível para a cultura. A questão do fechamento do teatro Klauss Vianna, de acordo com informações que circulam de pessoas ligadas ao Tribunal de Justiça, que preferem não se identificar, ainda pode ser revertida.

enquanto isso...

Teatros públicos fechados

Depois de receber espetáculos do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de BH, o FIT-BH 2014, os teatros Francisco Nunes e Marília estão sem programação. As atrações serão escolhidas por edital público. De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, serão as mesmas regras para os dois espaços. A expectativa é de que em até 30 dias as inscrições para ocupação dos teatros sejam abertas. Até o resultado dos editais, o Chico Nunes e o Marília estão, mais uma vez, de portas fechadas.

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