Começa nesta sexta-feira, 20, em Ouro Preto a 4ª Semana Guignard, com a apresentação do desenho Noite de São João, às 13h, e exibição, às 20h, do curta Guignard imaginário, de Isabel Lacerda, com a presença da cineasta. Na programação tem festa, concertos musicais e passeio por pontos da antiga Vila Rica que o artista frequentava. Mas a edição de 2014 quer retirar dos bastidores um tema polêmico: a questão da falsificação de obras do artista. O assunto está em discussão em mesa-redonda que vai ser realizada amanhã, às 11h, e que reúne Priscila Freire, colecionadora e presidente do Conselho de Amigos do Museu; Marília Andrés, historiadora; Claudina Morese, do Centro de Conservação e Restauração da UFMG; e Gélcio Fortes, coordenador do Museu Casa Guignard, que sedia o evento.
“É discussão que precisa ser instaurada. A existência de falsificações de obras de Guignard gera boatos sobre o assunto”, afirma Gélcio Fortes, lembrando que reportagem da revista Piauí trouxe endereço de galeria no Rio de Janeiro que tinha falsificações em seu catálogo. O assunto vai ser tratado no debate, sob o ângulo de necessidade de catálogo geral da obra do artista. Trabalho que, observa o especialista, já foi iniciado com um primeiro inventário, realizado há cerca de uma década, coordenado por Isabel Puntel, com acervo mineiro do artista em coleções públicas e privadas, hoje disponível no endereço www1.cultura.mg.gov.br. Algumas obras que deixavam dúvidas quanto à procedência ou com relação à visualidade ficaram de fora do levantamento. O trabalho precisa ser ampliado para abarcar colecionadores do Rio e de São Paulo.
As notícias de falsificação de obras de Guignard já fez com que uma importante curadora, que trabalha com artistas modernistas, deixasse em suspenso um projeto de exposição de obras do artista em BH a partir do acervo existente na cidade. A questão, explica Gélcio Fortes, é um dos impasses em torno da obra de Guignard. O artista deixou de ganhar livro em coleção dedicada à arte brasileira porque uma editora paulista não sabia como lidar com o tema dos direitos autorais relativos à obra. Por um lado, há meio século não aparecem herdeiros; por outro, a obra ainda não é de domínio público.
Rigor
Angelo Oswaldo de Araújo Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), reconhece que há um “clima de inquietação” entre colecionadores, galeristas, restauradores, pesquisadores, museólogos e curadores em relação à aparição, “mais em Minas Gerais, mas também no Rio de Janeiro e em São Paulo”, de obras atribuídas a Guignard que precisam de melhor avaliação para comprovar a autoria. Conta que, depois da morte do artista, em 1962, houve onda de falsificação de obras do pintor ou tidas como dele, gerando sobressalto. A situação foi serenada com a reação do meio da arte, que deixou as pessoas mais alertas.
Nos últimos quatro anos, continua o presidente do Ibram, as preocupações e o tema voltaram devido à aparição de pinturas e desenhos que, visivelmente, merecem exames mais detalhados para serem creditados a Alberto da Veiga Guignard. “O que é faz com que seja necessário que se discuta a questão, já que trabalhos falsificados comprometem o legado do artista”, explica Angelo Oswaldo. Ele sugere a melhor forma de enfrentar a questão: “Todos os envolvidos no campo da arte têm de reagir à situação e ser mais rigorosos na análise das obras atribuídas a Guignard”, defende, reforçando que a estratégia foi bem-sucedida nos anos 1960. “Trata-se de um dos maiores pintores brasileiros do século 20 e um dos ícones de Minas Gerais”, avalia.
O presidente do Ibram diz que a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais precisa retomar o projeto de catalogação geral das obras do artista, já iniciado. Considera que tal pesquisa formaria base de dados e informações que possibilitariam aos estudiosos do artista elementos confiáveis para laudos sobre autenticidade das obras. “É papel da Museu Casa Guignard zelar pela obra do pintor”, afirma. Ele observa ainda que exemplo paradigmático de combate à falsificação foi criação e ações do Projeto Portinari, outro artista que por muitos anos foi vítima de falsificações. Depois do trabalho do projeto, o tema desapareceu das especulações.
Festa e filmes
A Semana Guignard surgiu de festa de são-joão, realizada em frente ao Museu Casa Guignard, que existe há sete anos. Alude não somente a festejo junino, que o artista imortalizou em algumas pinturas, mas ao Morro de São João, frequentado pelo pintor, por oferecer uma bela vista de Ouro Preto. Diz a lenda que a primeira bandeira que chegou a Ouro Preto teria acampado no local.
Obra contemporânea que integra a programação da semana é o filme Guignard imaginário, de Isabel Lacerda. “Trata-se de pintor singular, que falou muito da alma brasileira. Para mim, é artista contemporâneo, no sentido de estar presente como referência da cultura brasileira”, observa a cineasta.
O diretor do Museu Guignard recorda que Mário de Andrade, exilado no Rio, procurando alguma referência que o fizesse sentir que estava no Brasil, colocou na parede do quarto a pintura A família do fuzileiro, que comprou em 1938. “Agora estou no Brasil”, teria afirmado o escritor paulista.
“Coleção pública com quase 200 obras do artista é a do Museu Casa Guignard”, afirma Gélsio Fortes. A instituição foi criada por decreto em 1964 e inaugurada em 1987, com obras doadas por empresas e acervo que estava guardado na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) desde a morte do pintor.
Estão no local violão decorado pelo artista, um autorretrato, o retrato de Chica da Silva e paisagem de grande formato de Minas Gerais. Joia da coleção é o Álbum para Amalita, um conjunto de 111 cartões dedicados a uma das musas do artista. E também 136 fotos de Luiz Alfredo, repórter da revista O Cruzeiro, seguindo Guignard pelas ruas de Ouro Preto.
Programação
» Sexta-feira, 20 de junho
13h – Exposição do desenhom Noite de São João, de Guignard.
20h – Exibição do curta Guignard imaginário e bate-papo com a diretora Isabel Lacerda.
» Sábado, 21 de junho
11h – Mesa-redonda “Guignard: percursos, significados e inventário de sua obra”.
16h30 – Observação do pôr do sol e concerto do Coral do Instituto Federal de Minas Gerais, na Capela do Morro de São João.
» Dia 24
19h – Noite de são-joão, em
frente ao Museu Casa Guignard. Festa com música, dança e comidas típicas juninas.
» Dias 25, 26 e 27
Das 14h às 17h – Oficina de desenho “Observação da paisagem de Ouro Preto”.
16h – Mostra de cinema.
4ª Semana Guignard
De 20 a 27, no Museu Casa Guignard, Rua Conde de Bobadela (antiga Rua Direita), 110, Centro, Ouro Preto, (31) 3551-5155. Entrada franca.
“É discussão que precisa ser instaurada. A existência de falsificações de obras de Guignard gera boatos sobre o assunto”, afirma Gélcio Fortes, lembrando que reportagem da revista Piauí trouxe endereço de galeria no Rio de Janeiro que tinha falsificações em seu catálogo. O assunto vai ser tratado no debate, sob o ângulo de necessidade de catálogo geral da obra do artista. Trabalho que, observa o especialista, já foi iniciado com um primeiro inventário, realizado há cerca de uma década, coordenado por Isabel Puntel, com acervo mineiro do artista em coleções públicas e privadas, hoje disponível no endereço www1.cultura.mg.gov.br. Algumas obras que deixavam dúvidas quanto à procedência ou com relação à visualidade ficaram de fora do levantamento. O trabalho precisa ser ampliado para abarcar colecionadores do Rio e de São Paulo.
As notícias de falsificação de obras de Guignard já fez com que uma importante curadora, que trabalha com artistas modernistas, deixasse em suspenso um projeto de exposição de obras do artista em BH a partir do acervo existente na cidade. A questão, explica Gélcio Fortes, é um dos impasses em torno da obra de Guignard. O artista deixou de ganhar livro em coleção dedicada à arte brasileira porque uma editora paulista não sabia como lidar com o tema dos direitos autorais relativos à obra. Por um lado, há meio século não aparecem herdeiros; por outro, a obra ainda não é de domínio público.
Rigor
Angelo Oswaldo de Araújo Santos, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), reconhece que há um “clima de inquietação” entre colecionadores, galeristas, restauradores, pesquisadores, museólogos e curadores em relação à aparição, “mais em Minas Gerais, mas também no Rio de Janeiro e em São Paulo”, de obras atribuídas a Guignard que precisam de melhor avaliação para comprovar a autoria. Conta que, depois da morte do artista, em 1962, houve onda de falsificação de obras do pintor ou tidas como dele, gerando sobressalto. A situação foi serenada com a reação do meio da arte, que deixou as pessoas mais alertas.
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O presidente do Ibram diz que a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais precisa retomar o projeto de catalogação geral das obras do artista, já iniciado. Considera que tal pesquisa formaria base de dados e informações que possibilitariam aos estudiosos do artista elementos confiáveis para laudos sobre autenticidade das obras. “É papel da Museu Casa Guignard zelar pela obra do pintor”, afirma. Ele observa ainda que exemplo paradigmático de combate à falsificação foi criação e ações do Projeto Portinari, outro artista que por muitos anos foi vítima de falsificações. Depois do trabalho do projeto, o tema desapareceu das especulações.
Festa e filmes
A Semana Guignard surgiu de festa de são-joão, realizada em frente ao Museu Casa Guignard, que existe há sete anos. Alude não somente a festejo junino, que o artista imortalizou em algumas pinturas, mas ao Morro de São João, frequentado pelo pintor, por oferecer uma bela vista de Ouro Preto. Diz a lenda que a primeira bandeira que chegou a Ouro Preto teria acampado no local.
Obra contemporânea que integra a programação da semana é o filme Guignard imaginário, de Isabel Lacerda. “Trata-se de pintor singular, que falou muito da alma brasileira. Para mim, é artista contemporâneo, no sentido de estar presente como referência da cultura brasileira”, observa a cineasta.
O diretor do Museu Guignard recorda que Mário de Andrade, exilado no Rio, procurando alguma referência que o fizesse sentir que estava no Brasil, colocou na parede do quarto a pintura A família do fuzileiro, que comprou em 1938. “Agora estou no Brasil”, teria afirmado o escritor paulista.
“Coleção pública com quase 200 obras do artista é a do Museu Casa Guignard”, afirma Gélsio Fortes. A instituição foi criada por decreto em 1964 e inaugurada em 1987, com obras doadas por empresas e acervo que estava guardado na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop) desde a morte do pintor.
Estão no local violão decorado pelo artista, um autorretrato, o retrato de Chica da Silva e paisagem de grande formato de Minas Gerais. Joia da coleção é o Álbum para Amalita, um conjunto de 111 cartões dedicados a uma das musas do artista. E também 136 fotos de Luiz Alfredo, repórter da revista O Cruzeiro, seguindo Guignard pelas ruas de Ouro Preto.
Programação
» Sexta-feira, 20 de junho
13h – Exposição do desenhom Noite de São João, de Guignard.
20h – Exibição do curta Guignard imaginário e bate-papo com a diretora Isabel Lacerda.
» Sábado, 21 de junho
11h – Mesa-redonda “Guignard: percursos, significados e inventário de sua obra”.
16h30 – Observação do pôr do sol e concerto do Coral do Instituto Federal de Minas Gerais, na Capela do Morro de São João.
» Dia 24
19h – Noite de são-joão, em
frente ao Museu Casa Guignard. Festa com música, dança e comidas típicas juninas.
» Dias 25, 26 e 27
Das 14h às 17h – Oficina de desenho “Observação da paisagem de Ouro Preto”.
16h – Mostra de cinema.
4ª Semana Guignard
De 20 a 27, no Museu Casa Guignard, Rua Conde de Bobadela (antiga Rua Direita), 110, Centro, Ouro Preto, (31) 3551-5155. Entrada franca.