Para o mineiro Fred Melo Paiva, a busca pelas histórias únicas — e reais — de seus personagens passa pelas respostas às questões que ele chama de 'interesses universais'. "Quero saber o que eles vivem, como eles pensam, como eles lidam com dinheiro, sexo e amor", exemplifica. Neste sábado, 24, o autor lança em Belo Horizonte a compilação 'Bandido Raça Pura', em que reúne 36 textos que funcionam como perfis de famosos, anônimos e animais.
"Eu escolhi os textos a partir do que gosto mais. Não foi por veículo, nem por cronologia, mas a seleção naturalmente acabou cobrindo o período da última década", explica Paiva. Colunista do Estado de Minas, corroteirista e apresentador de 'O infiltrado' e repórter com passagens por Playboy, Veja e IstoÉ, o belo-horizontino coleciona experiências multifacetadas no jornalismo, como editor do suplemento Aliás, no Estado de S. Paulo, além das revistas TPM e Trip.
A atuação em canais com perfis tão diferentes conferiram-lhe facilidade de adaptação aos meios de seus personagens. "Sempre que saí para fazer um perfil, independente de ser sobre uma celebridade ou um anônimo, fui com interesse pelo ser humano", aponta o escritor. A simplicidade no contato de Fred com seus alvos de estudo se reflete na sensação de proximidade do leitor com as mini-biografias, publicadas em veículos com públicos diversos. "O anônimo não me deu mais ou menos trabalho do que o ilustre ou a celebridade. Talvez apenas aquela dificuldade natural que a gente tem de se aproximar das pessoas que são mais assediadas", pondera Fred.
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Contudo, os personagens inusitados por natureza são os que ocupam a outra ponta da tríade de 'Bandido Raça Pura'. Fred Melo Paiva se dispôs a abordar o comportamento e interpretar os sinais emitidos por animais, com a mesma destreza aplicada na descrição de pessoas.
"Quando saí para fazer perfis de bichos, encarava como se estivesse indo de encontro a um ser humano", ele afirma. "Levava questões parecidas na abordagem: como eles lidam uns com os outros, como vivem. Procurava por características que a gente também tem, enquanto animais que somos", declara o jornalista.
A exemplo do que ocorreu no contato com tanta gente, a experiência de descrever e interpretar os seres irracionais também exigiu adaptação do autor no convívio com seus personagens. "Fiquei três dias na Paraíba, para traçar o perfil de urubus. Estive lá, sentei, observei como eles comiam, como eles me olhavam", recorda-se.
A partir da imersão no ambiente dos animais, Fred permitia-se preencher lacunas nos relatos, uma vez que os retratados não podiam ser entrevistados. "Eu procurava lidar com eles tendo em mente o que pretendia escrever. Me colocava como ser humano e descrevendo-os como se também fossem seres humanos", explica.
"A gente costuma pressupôr que as pessoas têm determinado tipo de caráter. Cachorro é outro tipo de gente, cada raça também tem sua própria índole", expõe Paiva. Para escrever sobre o cão que dá nome ao livro, o autor colocou-se no lugar do animal, criando uma espécie de memória póstuma do ser abatido. "O perfil do pitbull está escrito como se ele falasse. Ele se dirige ao leitor como um cara marrento", descreve.
Para o lançamento de 'Bandido Raça Pura' em BH, sua cidade natal, Fred Melo Paiva promove sessão de autógrafos na Livraria Dom Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi), às 11h deste sábado, 24, A compilação de perfis sucede o livro de crônicas 'O atleticano vai ao paraíso', que marcou a estreia do mineiro no mercado editorial.