A busca por uma estética nova para o teatro argentino é a força motriz da pesquisa do Timbre 4. A companhia de Buenos Aires estreia hoje no Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte, o FIT-BH, o drama Emília. É a continuação da investigação acerca das relações familiares e também da origem de sentimentos como o amor dentro desse núcleo.
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O grupo chega a Belo Horizonte depois de uma temporada de um mês pela França e Itália. Se lá a recepção de Emília já chamou a atenção dos atores, Gabo acredita que a identificação será ainda maior no Brasil. “O público europeu é muito mais frio do que nós, os latinos. O espetáculo é muito emotivo, está apoiado em vínculos amorosos familiares que são levados ao extremo”, explica.
Emília trata do reencontro de um homem feito sua babá. Já idosa, ela necessita de abrigo e vai procurar os antigos patrões. A situação desencadeia no adulto tanto a memória afetiva do passado quanto reflexões sobre o futuro. “A obra é um olhar para a família, colocada em um lugar crítico”, diz o ator. A cenografia abstrata reproduz uma espécie de curral, com paredes invisíveis que permitem ver como as relações funcionam.
Gabo Correa foi especialmente convidado por Claudio para integrar a montagem. Além de ter se interessado pelo personagem – curiosamente também chamado Gabriel – Correa foi seduzido pelo modo como o Timbre 4 pensa e realiza seu teatro.
Não é a primeira vez que os argentinos do Timbre 4 exploram o tema “família”. O primeiro espetáculo com repercussão internacional da companhia fundada em Buenos Aires, em 1999, foi La omisión de la familia Coleman. Na época, rodou o mundo contando a história da impossibilidade da convivência familiar. Desde 2001, o grupo mantém uma sede/escola em Buenos Aires. Sobre ela os fundadores da companhia costumam dizer: “É uma casa. E a casa é uma escola, e a escola é um teatro”.
TIMBRE 4
Terça e quarta, às 20h, na Funarte MG, Rua Januária, 68, (31) 3213-7112. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Desejo e política
A estreia nacional de hoje traz um olhar crítico sobre os anseios pessoais daqueles que viveram o período da ditadura no Brasil. Duas mulheres em preto e branco é baseado em conto do livro de Ronaldo Correia de Brito, com direção do carioca Moacir Chaves. É uma produção feita entre o Rio de Janeiro e o Recife, já que as atrizes Paula de Renor e Sandra Possani são de Pernambuco.
“É uma proposta diferente daquela que a gente vinha fazendo. Queria trabalhar narrativa, e o Moacir já vinha com essa transposição”, comenta Paula. A trama, com pitadas de suspense, começa de maneira até corriqueira: duas mulheres em disputa pelo mesmo homem. No entanto, à medida que a discussão avança as frustrações do passado ganham relevo. “São duas mulheres que nunca se assumiram em nada, nem sexualmente nem politicamente. Não é um texto político, mas a vida delas passa por isso”, completa.
Duas mulheres em preto e branco estreou em setembro do ano passado no Porto Alegre em Cena. Depois disso, passou pelo Cena Contemporânea, de Brasília, e o Filo, de Londrina.
DUAS MULHERES EM PRETO E BRANCO
Terça e quarta, às 20h30. Teatro Marília. Avenida Alfredo Balena, 586, Centro, (31) 3277-4697. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).