'Hamlet' se apresenta no FIT e impressiona pela precisão de elementos

Montagem do grupo alemão Berliner Ensemble encantou o público mineiro mesmo com breve falha nas legendas

por Carolina Braga 19/05/2014 08:09

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Guto Muniz/Divulgação
A trupe de Berliner Ensemble domina todos os elementos em cena (foto: Guto Muniz/Divulgação)
Em alguns momentos, na estreia de 'Hamlet', do Berliner Ensemble, no Palácio das Artes, a plateia ficou a ver navios por problemas técnicos na legendagem. Mas por mais que não desse para entender direito o que se passava na DR entre o príncipe da Dinamarca e sua então amante Ofélia, naquela altura já era impossível não estar completamente entregue à encenação do diretor Leander Haussmann. É impressionante.

À moda brechtiniana, a montagem deixou a reverência à Shakespeare de lado. Se apropria da tragédia de tal modo a ponto de destacar o cinismo presente na “loucura” do protagonista. Aliás, em toda a situação que ronda a ânsia de vingança de Hamlet. O entendimento que o ator Christopher Nell tem do personagem é tão sofisticado que ele não desperdiça uma única chance de dizer que também é possível rir de toda aquela situação.

Logo no prólogo, Nell brinca com a frase mais famosa do personagem: “Ser ou não ser, eis a questão”. A partir dessa inversão acompanhamos a transformação do menino abalado pela morte do pai, pelo rápido casamento da mãe com o tio e pelas primeiras confusões amorosas, no homem cruel – e extremamente violento – em busca do que para ele é justiça. A adaptação de Steffen Sünkel para o texto clássico valoriza esse processo de “amadurecimento”.

É impressionante como o Berliner Ensemble domina com precisão todos os elementos da montagem. Do elenco – impecável – à movimentação no palco, aos gestos, à iluminação e demais recursos cênicos que maneja. Não tem nada simples. A trilha sonora é executada ao vivo pela dupla Apples in Space. Na parte técnica, sai fumaça da roupa do rei fantasma, jorra sangue da parede, papéis voam pelo palco e tudo roda. O cenário é composto por paredes que se deslocam por controle remoto em todo o espaço cênico. No entra e sai de gente, no mexe e remexe, nada parece gratuito. É uma coreografia milimétrica que envolve o espectador ao longo das quase 3h40 de encenação.

O Hamlet do Berliner Ensemble é daqueles espetáculos que deixam imagens marcadas na mente para sempre. No programa entregue no teatro, o grupo diz considerar o convite para se apresentar em Belo Horizonte como uma abertura não oficial da Copa do Mundo. Se ainda vale a brincadeira com o futebol, eis, até agora, o golaço do Fit-2014.

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