'Callas' chega a Belo Horizonte quatro meses depois da estreia no Rio de Janeiro. Silvia Pfeifer divide o palco com Cássio Reis, numa montagem que vem sendo tratada como documentário cênico. Isso porque as diversas passagens da vida da imperatriz do bel canto são narradas em 60 minutos. E olha que a vida dela foi trágica.
“É uma mulher que já nasceu rejeitada pela família, porque a mãe queria que fosse um menino. Ela passou pela depressão nos EUA, em 1929, os pais se separaram depois disso e ela voltou a viver na Grécia, onde passou pelo drama da Segunda Guerra”, conta a atriz.
A trama é construída sobre fatos reais, mas parte de uma situação ficcional: o encontro da cantora com um jornalista – interpretado por Cássio Reis – às vésperas da inauguração de uma exposição em homenagem à soprano. É também um dia decisivo na existência da cantora lírica, como o público vai descobrir.
Na conversa em tom confessional, Callas revela detalhes da carreira e também da vida pessoal. Naquele momento, a diva já estava longe do mundo operístico internacional. À medida em que conta passagens marcantes, deixa cair as máscaras e se revela uma mulher frágil, carente. O fim do conturbado casamento com Onassis e a morte do filho são algumas das lembranças narradas pela protagonista.
“Para quem conhece a história de Callas, o espetáculo é mergulho nesse universo dramático. Para aqueles que não sabem muito sobre ela, é uma grande oportunidade de conhecer quem foi essa mulher. O espectador vai descobrir um mundo fascinante”, assegura Cássio. Ele garante que foi o que aconteceu com ele e também com Silvia Pfeifer.
Antes de serem convidados para a montagem, o que os atores conheciam sobre Maria Callas se resumia à informação de que ela foi uma soprano muito famosa. A peça despertou o interesse em conhecer mais. Aí foram livros, filmes e vários vídeos da internet. Silvia Pfeifer conta que tem tido esse mesmo retorno do público. As pessoas saem do teatro com vontade de saber mais sobre a vida e a carreira de Callas.
Ritmo e sincronia Por mais que a peça trate da existência de uma cantora, 'Callas' não é um musical. Mesmo assim, o ritmo da montagem é calculado em detalhes. Silvia e Cássio não cantam, mas ficam o tempo inteiro em cena e completamente ligados a tudo que se passa. São 111 projeções, entre vídeos, frases, fotos e outros elementos cênicos.
“Tudo tem que ser sincronizado. Antes de estrear tinha o meu medo pessoal, mas também o que dizia respeito ao coletivo. Aquela concepção cênica pede que tudo esteja bem encaixadinho”, diz Silvia. “É uma série de precisão. Não podemos errar nem uma fala, porque pode comprometer a peça inteira”, completa Cássio.
A dinâmica criada por Marília Pêra envolve pelo menos cinco trocas de roupa aos olhos do público. Os figurinos de Sônia Soares são reproduções de peças que a cantora usou na época. A trilha sonora de Paulo Arguelles traz fragmentos das árias interpretadas por Callas em vários momentos de sua trajetória nos palcos.
Callas
Com Silvia Pfeifer e Cássio Reis, direção de Marília Pêra. Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h. Teatro Bradesco, Rua da Bahia 2.244, Lourdes, (31) 3516-1360. Plateia 1 e 2, R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia); plateia 2, R$ 50 (valor promocional limitado a 20% da capacidade da casa).
SAIBA MAIS
Diva absoluta
Maria Callas nasceu em 2 de dezembro de 1923, em Nova York, e morreu aos 53 anos, vítima de ataque cardíaco, em 16 de setembro de 1977. Registrada Maria Cecilia Sofia Anna Kalogeropoulou, era filha de imigrantes gregos e devido a dificuldades econômicas teve que regressar à Grécia com a mãe, em 1937. Estudou no Conservatório de Atenas. Despontou no canto lírico em 1948, com a interpretação da ópera Norma, de Bellini. Dois anos depois, ganhou projeção internacional e começou a apresentar-se regularmente nas mais importantes casas de espetáculo dedicadas à ópera, como o La Scala, Covent Garden e Metropolitan. Parou de cantar em 1965, quando conheceu o magnata grego Aristóteles Onassis. Callas revolucionou a história da ópera e é considerada a maior cantora lírica do século 20.