Teatro de Minas Gerais perde espaço no Festival de Curitiba

Mostra de produções do estado foi cancelada por falta de apoio e presença de grupos mineiros é a menor dos últimos anos

por Carolina Braga 18/02/2014 07:00

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Thiago di Nazaré/Mariana Bizzotto/Divulgação
'Sobre atos e palavras', da Cia. Exposta de Teatro, uma das poucas presenças mineiras no Fringe (foto: Thiago di Nazaré/Mariana Bizzotto/Divulgação )

Será que se foi o tempo em que o Festival de Curitiba, um dos maiores do país, servia como vitrine para o teatro mineiro? A julgar pela edição de 2014, parece que aquela moda de chegar a qualquer custo ao Fringe – a mostra paralela do evento –, em busca de projeção nacional, ficou no passado. Pois nem mesmo a Mostra Mineira, realizada há cinco anos com curadoria do Galpão Cine Horto, permaneceu este ano na programação. “A gente teve que interromper por uma questão absolutamente financeira”, justifica Leandro Knoplholz, coordenador geral do evento,marcado para o período de 26 de março a 7 de abril.

“É lamentável, o festival perde muito”, desabafa Chico Pelúcio, diretor do Galpão Cine Horto. A participação do estado será bastante diminuta perto do que já foi um dia. Para a Mostra Oficial foram convidados o Grupo Galpão, com 'Os gigantes da montanha', e Débora Falabella e Yara de Novaes – mineiras radicadas em São Paulo –, que apresentam 'Contrações' na capital paranaense.

Já no Fringe, a zona de risco e independência, a tradicional caravana que chegou a partir de Belo Horizonte com 18 grupos em 2012 e sete em 2013 terá apenas quatro representantes: 'Causos de assombração', da Cia Leo & Leo; 'Sobre atos e palavras' e 'O pelicano', de Luiz Paixão; e 'Só quero ver na Copa', com Geraldo Magela. É um perfil totalmente diferente do que Minas Gerais costumava apresentar no Paraná. As outras oito montagens são de Barbacena, São João del-Rei, Sete Lagoas, Ouro Preto, Juiz de Fora e Santa Rita do Sapucaí.

“A Mostra Mineira era uma ação que apontava um caminho para o Fringe”, lembra Chico Pelúcio. A programação paralela costuma ter cerca de 400 espetáculos de todo o Brasil. Como uma forma de organizar o caos, há cinco anos Pelúcio foi convidado por Leandro a pensar uma reestruturação. Também por questões financeiras, no primeiro momento, não foi possível implementar tudo, mas a ideia de mostras pontuais com curadoria vingou.

Minas puxou a fila e na esteira vieram eventos organizados por coletivos de artistas, instituições e estados. Em 2014, serão 11, entre elas programação dedicada ao teatro capixaba e baiano. É preciso reconhecer, inclusive, que no ano passado a produção da Bahia fez mais barulho do que qualquer outra. Como o negócio deu certo, este ano estarão no Paraná nove produções do estado, além de um catálogo com informações em inglês e espanhol para outras 30 peças produzidas na Bahia em 2013. Pode estar aí a explicação para a interrupção da Mostra Mineira.

Realizada com o apoio da Fundação Cultural do Estado, a Mostra da Bahia teve as despesas divididas com a organização do festival. Como eles racharam as contas, Leandro Knoplholz procurou meios de fazer o mesmo com outras iniciativas. “A gente teve uma arrecadação menor e o festival sempre patrocinou a mostra mineira. Procurei meus parceiros daí para que tentassem com as prefeituras ou com o Estado pelo menos 20% ou 30%, mas não houve eco para a solicitação. Não tivemos como manter”, explica Leandro.

A decisão de interromper a programação mineira pegou alguns grupos de surpresa. Vencedor do Prêmio Estímulo em Artes Cênicas da Fundação Clóvis Salgado, a Cia. Primeira Campainha, por exemplo, alterou as datas de estreia do novo espetáculo, Isso é para dor, com texto e direção de Byron O’Neil, em função de uma possível ida a Curitiba. “Adiantamos a nossa estreia para março para tentar ir, mas sem a mostra fica quase impossível”, diz a atriz Marina Arthuzzi.

Também diretora e iluminadora, Marina já esteve no festival paranaense como convidada e por conta própria. Segundo ela, demorou para conseguir viabilizar um modelo que fosse interessante para os grupos e sem ele fica difícil. “Perdemos a visibilidade. Tínhamos um modus operandi de cooperativismo entre os grupos para viabilizar a mostra, já que ir sozinho fica muito complicado. Fizemos outras vezes e o retorno não foi tão positivo”, diz.

Internacionais marcam presença

Embora seja a programação que dê volume ao Festival de Curitiba, não é de hoje que os organizadores dão sinais de que o Fringe não é visto com o carinho que merece. Ainda que não abale sua característica democrática, certo direcionamento é importante para garantir qualidade mínima das produções. Por outro lado, a Mostra Oficial continua tendo toda a atenção necessária, inclusive com algumas novidades.

Serão 35 espetáculos, entre eles sete estreias nacionais e quatro atrações internacionais. Esse é um aspecto diferente dos outros anos. Os estrangeiros, que nunca tiveram muita vez em Curitiba, estão ganhando destaque. Um deles é 'The rape of Lucrece' ('O estupro de Lucrécia'), baseado em poema narrativo de William Shakespeare e montado pela Royal Shakespeare Company. O espetáculo foi visto pela curadoria no Festival de Edimburgo em 2012.

“Isso vai ser uma tendência nossa. Sem perder a característica nacional, cada vez mais vamos ter atrações internacionais para ver o que está sendo feito fora, mesmo que seja aqui do lado, na Argentina”, diz Leandro. De acordo com o coordenador, o objetivo do festival é sempre fazer um recorte da produção nacional. “Tentamos entender as tendências e compreender o momento.”

Dentro disso, será comum na programação haver espetáculos que transformem realidades em dramaturgia (BR Trans e Se fosse fácil não teria graça), musicais (JIM) e as novas peças de companhias tradicionais (Grupo Galpão, Armazém). O diretor Gabriel Vilella terá duas peças na programação. Além de Os gigantes da montanha, com o Grupo Galpão, tem Um réquiem para Antonio, com Elias Andreato e Cláudio Fontana.

Outro que comparece em dose dupla é o dramaturgo romeno Matéi Visniec. O solo '2xMatei' foi escolhido por Gilberto Gawronsk e Espelho para cegos será apresentado pelo Grupo Teatro dos Novos, do baiano Márcio Meirelles. Este espetáculo esteve em Belo Horizonte no mês passado, na programação do Verão Arte Contemporânea.


MINAS EM CURITIBA

'Algum segredo sobre pássaros' (Barbacena)
'Causos de assombração' (Belo Horizonte)
'O pelicano' (Belo Horizonte)
'Só quero ver na Copa, com Geraldo Magela' (Belo Horizonte)
'Sobre atos e palavras' (Belo Horizonte)
'Palhaço Rosquinha em: Hoje tem alegria' (Juiz de Fora)
'Palhaço Rosinha em: O sonho do palhaço' (Juiz de Fora)
'Causos de brasêro' (Ouro Preto)
'Minha amiga é uma comédia' (Santa Rita do Sapucaí)
'Morte e vida severina' (São Lourenço)
'Fragmentos da alma' (São João del-Rei)
'Mesmo que seja em segredo' (Sete Lagoas)

23º Festival de Teatro de Curitiba

De 26 de março a 6 de abril, em Curitiba. Informações e programação completa no site do evento

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