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Foram 14 anos em cartaz na campanha com o 'Na virada do sexo'. O ator não vai fazer o espetáculo este ano porque o personagem rodriguiano demanda uma caracterização que não ficaria bem com o protagonista da comédia. Amauri sabe que terá fãs saudosos pela frente, mas está confortável com a escolha. “É uma linguagem que abri para mim. Quero aprender isso”, diz, reconhecendo que saiu totalmente de sua zona de conforto.
“Tomei um susto quando entrei em cena, porque você vai fazendo o espetáculo e não ouve um sussurro da plateia. Na comédia, você faz gracinha e é imediato”, compara. Se ele gostou tanto de fazer, quem reclama sobre a ausência de 'Na virada do sexo' este ano é imediatamente convidado a também ampliar o olhar. “E falo: acho que você vai se assustar comigo. A minha mãe se assustou”, conta.
A preferência do público pelos espetáculos de riso certo é clara. Na lista dos mais vendidos, montagens veteranas desta temporada, como 'Acredite um espírito baixou em mim' (em cartaz desde 1999) ou Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso' (na campanha desde 2000), continuam campeãs. Entre as 10 mais procuradas há apenas duas peças que estrearam no ano passado, entre elas 'Lisbela e o prisioneiro'. O único drama, ou melhor, fábula trágica, também estreante é 'Os gigantes da montanha', do Grupo Galpão.
Linguagem
“É inegável que 99% da propaganda na campanha é de comédia. É sempre a mesma coisa. Seria muito interessante uma modificação desse cenário”, sugere o ator Assis Benevenuto, do grupo Quatroloscinco. Na expectativa pela estreia de 'Encontro com Pedro Juan', dia 6 de fevereiro, no Ideal Café Teatro, em Santa Tereza, o diretor do grupo 171, Henrique Limadre, pensa de modo semelhante. Para ele, apesar de a campanha ser um evento muito democrático, sem curadoria, ainda é preciso rever o modo como são cobradas as taxas.
Todo espetáculo que se interessa em participar deve pagar uma quantia fixada em um salário mínimo. O problema é que o valor é o mesmo para uma montagem comercial, capaz de atrair público de milhares de espectadores, e um espetáculo mais intimista. Variáveis como tamanho do espaço, duração da temporada ou mesmo a linguagem do espetáculo ainda não entram em questão. “Esse é um drama que a gente tem. Acho que a campanha tem coisas legais. Temos que reconhecer que são 40 anos e ao mesmo tempo é preciso se reinventar”, diz Henrique Limadre.
“A campanha tem como dever ser vanguarda. Já que um dia ela propôs uma coisa que parecia louca, que era vender ingressos em Kombis, tem hoje o dever e o poder de mostrar coisas que o público nunca imaginou que veria e que seria tão interessante como as comédias”, afirma o ator e diretor Diego Bagagal. Como ele ressalta, já há algo sendo feito nesse sentido.
Incentivo
Tanto 'Em louvor à vergonha', espetáculo de Diego Bagagal, como 'Get out', de Assis, fazem parte do grupo de espetáculos especialmente convidados pelos organizadores da campanha para estar em cartaz em uma mostra voltada para o teatro de pesquisa realizada na sede da Funarte. Ela foi batizada de Projeto Troca. Trata-se de uma tentativa de incentivar que cada vez mais dramas e montagens que sejam fruto de investigação ingressem na programação.
Na primeira experiência que teve na campanha com os colegas do Quatroloscinco, Benevenuto lembra de pequenas plateias, de no máximo 15 pessoas. Desta vez, nas duas semanas em que esteve em cartaz com o monólogo 'Get out', surpreendeu-se com a média de 60 espectadores por sessão em espaço com capacidade para 75. No último domingo, a sessão esteve esgotada. “Acho que alguma coisa está mudando, muito por parte do público mesmo”, observa.
“Sinto que há uma vontade de diálogo”, diz Diego Bagagal. Na temporada que fará a partir de 6 de fevereiro na Funarte, está isento da taxa única, além de ficar com 80% do que for arrecadado com a bilheteria. “Se não fosse assim, entraria em prejuízo pelo número de pessoas. Seria arriscado, porque preciso de intimidade. A campanha não lucra com esses espetáculos. Existe uma porta para um teatro que vai propor questionamentos”, constata.
“A ideia foi sempre a de ampliar para discutir. Não é para reforçar nada, é para mostrar que existe e que a campanha tem isso tudo”, explica Beto Plascides, coordenador dos eventos especiais da Campanha de Popularização. Segundo ele, o sucesso dos espetáculos de comédia na programação é uma escolha natural do público. Por isso, a organização tem se esforçado para destacar sua versatilidade.
Plascides reconhece que o crescimento acaba demandando ajustes. Por isso, também como parte dos projetos especiais, são realizadas rodas de conversas. A primeira discutiu a política pública de Belo Horizonte voltada para o setor. No dia 27, a Campanha de Popularização de 2015 estará na pauta. “Queremos levantar as questões a serem discutidas na assembleia do Sindicato dos Produtores em Artes Cênicas (Sinparc) em março. Acho que flexibilizar é sempre necessário. Precisamos unir e encontrar uma maneira de viabilizar todas as vertentes”, pondera.
Rir é bom negócio
Dos 10 espetáculos mais vistos da Campanha de Popularização, nove são comédias
» 'Acredite um espírito baixou em mim' – 10.384
» 'Como sobreviver em festas e recepção com buffet escasso' – 6.180
» 'O marido da minha mulher' – 4.208
» '10 maneiras incríveis de destruir seu casamento' – 4.019
» 'Meu tio é tia' –3.893
» 'As barbeiras' – 2.642
» 'Comédia di buteco' – 2.601
» 'Perigo, mineiros em férias!' – 2.320
» 'Os gigantes da montanha' (fábula trágica) – 2.158
» 'Lisbela e o prisioneiro' – 1.828