Os trabalhos de Lorenzato que vão ser apresentados, como explica Antônio Carlos, foram selecionados considerando o percurso artístico do mineiro, com todos os temas que ele pintou: favelas, naturezas-mortas e paisagens. “Ainda hoje fico surpreso com o trabalho dele”, conta. O galerista e pesquisador tem cerca de 170 obras do artista. Está na mostra uma escultura e pinturas sobre formas de cimento, caixa de papelão e tela, além de reconstituição do ateliê do artista. A museografia, com bom humor, recria árvore com quadros pendurados nos galhos, evocação ao hábito do artista de secar as pinturas no quintal de sua casa.
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“Levei um susto com o que vi. Os temas eram banais, mas cresciam muito na pintura dele”, acrescenta Antônio Carlos Figueiredo. “Fiquei muito impressionado com o desassombro com que Lorenzato misturava várias técnicas para conseguir o resultado que estava buscando”, afirma. O artista era homem que tinha humor, erudição, falava francês, “não era burro como as pessoas pensavam”, observa. “Era homem que tinha seus requintes, só que morando na periferia. Gostava de conversar sobre arte, era bom ouvinte, tomava Campari e fazia nhoque”, exemplifica.
O sonho de Lorenzato, continua Antônio Carlos, era ser pintor. Ele mesmo contava que teve contato com as artes na Europa, onde, na juventude, visitou museus e conheceu artistas e técnicas. Como pintor de paredes, sabia fazer tanto pintura decorativa quanto lisa. Mas só pôde se dedicar à arte a partir de 1956, depois de acidente, ao cair de uma escada, que fez com que ele se aposentasse. “Considerava que foi um mal necessário, que permitiu seguir o caminho que ele queria trilhar”, recorda. A ironia de Lorenzato, conta, pode ser vista em algumas telas. Como a que estampa o trecho de ferrovia com uma mulher, que traz no verso a frase: “única mulher que andou na linha”.
O pintor, conta Antônio Carlos, estabelecia preço único para qualquer obra: meio salário mínimo. Medida de homem que tinha vida simples, modesta, vivia com um salário mínimo e nunca perdeu de vista a questão da sobrevivência e da circulação de sua arte. Até 1970, estima o galerista, Lorenzato foi “totalmente desconhecido” e considerado uma “curiosidade artística” pela diversidade de suportes que utilizava. “A partir de então, graças ao boca a boca, o trabalho começou a aparecer aqui e ali.” É do início da década de 1980 a condição de unanimidade entre os artistas, que foram seus primeiros admiradores.
Vida e obra
Amadeo Luciano Lorenzato nasceu em 1º de janeiro de 1900, em Belo Horizonte. Filho de imigrantes italianos, foi educado na capital e tornou-se pintor de parede. Em 1920, a família voltou para a Itália, fugindo da gripe espanhola. Em Arsiero, localidade próxima a Vicenzo, o artista tem contato com as atividades artísticas da época. Em 1926, na companhia do pintor e caricaturista holandês Cornelius Keesman, perambulou pela Europa de bicicleta, visitando igrejas e palácios. Em 1948, voltou ao Brasil com a mulher e o filho e se instalou no Rio de Janeiro, tendo trabalhado no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, como pintor.
A partir de 1950, Lorenzato passa a viver e trabalhar em Belo Horizonte, na construção civil. Exerceu o ofício até 1956, quando teve uma perna fraturada em queda da escada. A partir de então, dedica-se à pintura. Sua produção só começa a se tornar pública a partir de 1964. É de 1967 a primeira exposição individual do artista, no Minas Tênis Clube, organizada pelo crítico e jornalista Palhano Júnior por indicação de outro crítico, Sérgio Maldonado. Os primeiros admiradores de Lorenzato foram os artistas – Amilcar de Castro, Marcos Coelho Benjamim, Cláudia Renault e Carlos Bracher, entre outros. Vários deles trocaram obras com Lorenzato.
Amadeo Lorenzato – 'Celebração do Cotidiano'
Pinturas, objetos, fotos e vídeo. Abertura sexta-feira. Centro de Arte Popular Cemig, Rua Gonçalves Dias, 1.608, Funcionários, (31) 3222-3231. Terças, quartas e sextas-feiras, das 10h às 19h; quintas-feiras, das 12h às 19h; sábados e domingos,
das 12h às 19h. Até 9 de março. Entrada franca.