A palavra-chave é diálogo. Entre gerações, entre estilos, entre tradições. É a partir dessa costura que a São Paulo Companhia de Dança, em apenas cinco anos, firma-se como um projeto diferenciado no cenário da dança brasileira. É distinto porque não nasceu necessariamente do desejo de bailarinos e coreógrafos em constituir um grupo. Foi pensada como uma política de fomento artístico do estado de São Paulo, sob a direção da bailarina e pesquisadora Inês Bogéa. Com planejamento e um dos maiores orçamentos do país na área, tem funcionado para além disso.
A agenda de 2014, por exemplo, já está definida. Em São Paulo, serão seis programas, sendo sete coreografias inéditas, com a venda de assinaturas em curso. Os bailarinos estarão em Belo Horizonte a partir de 12 de fevereiro em um amplo programa que envolve oficinas e palestras para educadores, além de apresentações com participação da mineira – e recém-criada – Cia. Sesc de Dança.
Estarão em cartaz por aqui três coreografias: 'Mamihlapinatapai', de Jomar Mesquita; 'Petite mort', de Jirí Kylián; e 'In the midle, somewhat elevated', de William Forsythe. São como palavras, a criação de Henrique Rodovalho para a estreia da Cia. Sesc de Dança, abrirá a noite no Sesc Palladium.
“É um dos projetos mais organizados e bem pensados do setor. Ele não nasceu de maneira empírica, como é costume. A companhia nasce projetada como uma organização empresarial experimentada com objetivos muito claros”, comenta o bailarino e coreógrafo mineiro Rui Moreira. Assim como Jomar Mesquita, da Mimulus Cia. de Dança, o diretor da Cia SeráQuê? foi um dos convidados do Ateliê de coreógrafos e viu de perto como funciona o projeto paulista. Aliar formação de plateia à experimentação é uma constante.
No repertório da companhia convivem tanto obras clássicas como 'Romeu e Julieta', com música de Prokofiev (1891-1953), recém-apresentada em São Paulo, como as criações contemporâneas do Ateliê de coreógrafos. “O ateliê é para que a gente possa dialogar mais de perto com a cena contemporânea brasileira, trocando ideias. Assim vamos decantando saberes”, diz a diretora artística Inês Bogéa.
Foi dela a ideia de chamar coreógrafos de várias partes do Brasil para criar balés curtos para o grupo. Nesse espaço não existem regras, apenas o convite para inovar, testar e crescer. “É muito bacana como temos uma geração potente de coreógrafos com assinatura própria. Alguns deles dialogando com temas muito parecidos”, ressalta Inês. Rafael Gomes e a ex-bailarina do Grupo Corpo Cassilene Abranches são os nomes escolhidos para 2014.
Como Rui Moreira destaca, a São Paulo Companhia de Dança preenche uma lacuna de iniciativas voltadas para a formação de coreógrafos. “Quando esses pensamentos são postos em outro projeto que não é pessoal, tem ganho para todo mundo. A companhia acaba experimentando a variedade de pensamento e cada criador também vai experimentar um pouco como é desenvolver isso em corpos tão treinados”, elogia Rui. Como ressalta, é assim que surgem novos criadores e que outros amadurecem.
Atualmente com 46 bailarinos no elenco, a São Paulo Companhia de Dança tem um grupo com média de 24 anos, com perfis distintos. “Todos têm a base clássica, mas a possibilidade de falar várias linguagens da dança. São poliglotas do movimento”, compara Inês Bogéa. Segundo ela, os integrantes do grupo são artistas capazes de dialogar com propostas variadas. “Procuro artistas que tenham opinião na maneira de se expressar”, resume.
FORMAÇÃO
Em paralelo à agenda de apresentações pelo Brasil, a São Paulo Companhia de Dança mantém cronograma de ações voltadas para pensar o registro e a memória da dança. A cada ano, o livro de ensaios 'Terceiro sinal' ganha edição renovada, com artigos de pesquisadores da área. Completam a coleção a série de 26 documentários Figuras da dança, veiculados pela TV Cultura e canal Arte1. São perfis de bailarinos, coreógrafos e pensadores que constroem a dança brasileira.
“Acreditamos que sempre devemos trabalhar para apresentar a dança ao público e também ampliar as pessoas que conhecem dança, gostam de ver e têm vontade de conversar sobre ela”, diz Bogéa. É por isso que em cada cidade que passam fazem questão de realizar encontros didáticos com professores.
Para completar a série de ações, outra iniciativa é a Dança em rede, espécie de Wikipedia da dança, mantido no site da companhia. O banco de dados traz informações de profissionais que se dedicam ao ofício. A participação é aberta a todos, mas há uma equipe de pesquisadores dedicada a confirmar as informações publicadas. “A São Paulo acaba sendo uma companhia que atua em diferentes vertentes da dança. Há uma pluralidade de ações possíveis na nossa área”, completa.
DOIS LADOS
A escolha da Cia. Sesc de Dança como parceira na temporada de Belo Horizonte é estratégica. Para os paulistanos, reforça a política de diálogo com outras praças. Recém-criado, o balé mineiro foi pensado nos moldes do exemplo paulistano. “Nossa proposta foi exatamente ter um perfil versátil, que perpassa por estilos diferentes: clássico, neoclássico e contemporâneo”, apresenta Maria Elisa Medeiros, gerente da Cia. Sesc de Dança. Depois da estreia, em agosto, o grupo se prepara para a primeira turnê pelo interior de Minas. Em janeiro, 'São como palavras' passará por unidades do Sesc de Uberlândia e Uberaba, antes do encontro com a companhia paulista. “Foi um convite bem-vindo. A SP é uma companhia que já é referência”, reconhece Maria Elisa.
Números
29 coreografias
390 apresentações
60 cidades
6 países
26 documentários
5 livros de ensaios
TEORIA E PRÁTICA
Uma das idealizadoras e diretora artística da São Paulo Companhia de Dança, Inês Bogéa (à direita) foi bailarina do Grupo Corpo entre 1989 e 2001. Quando encerrou a carreira nos palcos, foi crítica de dança até 2007. Em paralelo, manteve atividade acadêmica – é doutora em artes pela Unicamp – e como escritora e organizadora de livros especializados. Entre eles, Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo (Cosac Naify), O livro da dança (Companhia das Letrinhas) e Contos do balé (Cosac Naify). É autora dos documentários Renée Gumiel, a vida na pele (2005), Maria Duschenes – O espaço do movimento (2006) e Roseli Rodrigues – poesia em movimento (2011), entre outros.
* A repórter viajou a convite da São Paulo Companhia de Dança
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Estarão em cartaz por aqui três coreografias: 'Mamihlapinatapai', de Jomar Mesquita; 'Petite mort', de Jirí Kylián; e 'In the midle, somewhat elevated', de William Forsythe. São como palavras, a criação de Henrique Rodovalho para a estreia da Cia. Sesc de Dança, abrirá a noite no Sesc Palladium.
“É um dos projetos mais organizados e bem pensados do setor. Ele não nasceu de maneira empírica, como é costume. A companhia nasce projetada como uma organização empresarial experimentada com objetivos muito claros”, comenta o bailarino e coreógrafo mineiro Rui Moreira. Assim como Jomar Mesquita, da Mimulus Cia. de Dança, o diretor da Cia SeráQuê? foi um dos convidados do Ateliê de coreógrafos e viu de perto como funciona o projeto paulista. Aliar formação de plateia à experimentação é uma constante.
No repertório da companhia convivem tanto obras clássicas como 'Romeu e Julieta', com música de Prokofiev (1891-1953), recém-apresentada em São Paulo, como as criações contemporâneas do Ateliê de coreógrafos. “O ateliê é para que a gente possa dialogar mais de perto com a cena contemporânea brasileira, trocando ideias. Assim vamos decantando saberes”, diz a diretora artística Inês Bogéa.
Foi dela a ideia de chamar coreógrafos de várias partes do Brasil para criar balés curtos para o grupo. Nesse espaço não existem regras, apenas o convite para inovar, testar e crescer. “É muito bacana como temos uma geração potente de coreógrafos com assinatura própria. Alguns deles dialogando com temas muito parecidos”, ressalta Inês. Rafael Gomes e a ex-bailarina do Grupo Corpo Cassilene Abranches são os nomes escolhidos para 2014.
Como Rui Moreira destaca, a São Paulo Companhia de Dança preenche uma lacuna de iniciativas voltadas para a formação de coreógrafos. “Quando esses pensamentos são postos em outro projeto que não é pessoal, tem ganho para todo mundo. A companhia acaba experimentando a variedade de pensamento e cada criador também vai experimentar um pouco como é desenvolver isso em corpos tão treinados”, elogia Rui. Como ressalta, é assim que surgem novos criadores e que outros amadurecem.
Atualmente com 46 bailarinos no elenco, a São Paulo Companhia de Dança tem um grupo com média de 24 anos, com perfis distintos. “Todos têm a base clássica, mas a possibilidade de falar várias linguagens da dança. São poliglotas do movimento”, compara Inês Bogéa. Segundo ela, os integrantes do grupo são artistas capazes de dialogar com propostas variadas. “Procuro artistas que tenham opinião na maneira de se expressar”, resume.
FORMAÇÃO
Em paralelo à agenda de apresentações pelo Brasil, a São Paulo Companhia de Dança mantém cronograma de ações voltadas para pensar o registro e a memória da dança. A cada ano, o livro de ensaios 'Terceiro sinal' ganha edição renovada, com artigos de pesquisadores da área. Completam a coleção a série de 26 documentários Figuras da dança, veiculados pela TV Cultura e canal Arte1. São perfis de bailarinos, coreógrafos e pensadores que constroem a dança brasileira.
“Acreditamos que sempre devemos trabalhar para apresentar a dança ao público e também ampliar as pessoas que conhecem dança, gostam de ver e têm vontade de conversar sobre ela”, diz Bogéa. É por isso que em cada cidade que passam fazem questão de realizar encontros didáticos com professores.
Para completar a série de ações, outra iniciativa é a Dança em rede, espécie de Wikipedia da dança, mantido no site da companhia. O banco de dados traz informações de profissionais que se dedicam ao ofício. A participação é aberta a todos, mas há uma equipe de pesquisadores dedicada a confirmar as informações publicadas. “A São Paulo acaba sendo uma companhia que atua em diferentes vertentes da dança. Há uma pluralidade de ações possíveis na nossa área”, completa.
DOIS LADOS
A escolha da Cia. Sesc de Dança como parceira na temporada de Belo Horizonte é estratégica. Para os paulistanos, reforça a política de diálogo com outras praças. Recém-criado, o balé mineiro foi pensado nos moldes do exemplo paulistano. “Nossa proposta foi exatamente ter um perfil versátil, que perpassa por estilos diferentes: clássico, neoclássico e contemporâneo”, apresenta Maria Elisa Medeiros, gerente da Cia. Sesc de Dança. Depois da estreia, em agosto, o grupo se prepara para a primeira turnê pelo interior de Minas. Em janeiro, 'São como palavras' passará por unidades do Sesc de Uberlândia e Uberaba, antes do encontro com a companhia paulista. “Foi um convite bem-vindo. A SP é uma companhia que já é referência”, reconhece Maria Elisa.
Números
29 coreografias
390 apresentações
60 cidades
6 países
26 documentários
5 livros de ensaios
TEORIA E PRÁTICA
Uma das idealizadoras e diretora artística da São Paulo Companhia de Dança, Inês Bogéa (à direita) foi bailarina do Grupo Corpo entre 1989 e 2001. Quando encerrou a carreira nos palcos, foi crítica de dança até 2007. Em paralelo, manteve atividade acadêmica – é doutora em artes pela Unicamp – e como escritora e organizadora de livros especializados. Entre eles, Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo (Cosac Naify), O livro da dança (Companhia das Letrinhas) e Contos do balé (Cosac Naify). É autora dos documentários Renée Gumiel, a vida na pele (2005), Maria Duschenes – O espaço do movimento (2006) e Roseli Rodrigues – poesia em movimento (2011), entre outros.
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