FIQ confirma vocação de principal evento do gênero no país

Para artistas e editores, setor vive seu melhor momento e a tecnologia é importante aliada

por Carolina Braga 18/11/2013 08:25

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Renato Weil/EM/D.A Press
Espaço da Serraria Souza Pinto recebeu público de aficionados vindo de vários estados brasileiros (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
Teve anúncio inesperado, talentos revelados, veteranos respaldados e muita, muita gente consumindo – e produzindo – quadrinhos. Isso sem contar os personagens malucos que andaram circulando pelos corredores da Serraria Souza Pinto desde quinta-feira. Mais que atrair nerds de plantão, se o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) tem a fama de ser um termômetro do que se tem feito hoje no mundo, as perspectivas apresentadas em 2013 são interessantes.


“Mostra que o quadrinho nacional vive seu melhor momento. Já pode ter tido algum tempo em que se vendeu mais, que tínhamos artistas como Henfil e Ziraldo com reconhecimento público gigantesco, mas, em termos de criatividade e diversidade, nunca vivemos um momento tão importante”, analisa Afonso Andrade, coordenador de quadrinhos da Fundação Municipal de Cultura. Se é assim, o que esperar do futuro?

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"O FIQ promove o encontro entre pessoas que leem, pessoas que fazem e pessoas que produzem%u201D, Laerte, cartunista homenageado (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
“Não tenho uma linha de raciocínio sobre o que vem daqui para a frente. O que está acontecendo hoje, para mim, já é futuro suficiente”, brinca o cartunista Laerte, homenageado desta edição. Por mais que ele não pense mais inovações para o próprio trabalho, o que esteve posto em mesas e debates durante a oitava edição do FIQ sinaliza diversidade de linguagens, gêneros, estilos de traços e também uso cada vez mais intenso da internet para disseminar tanto conteúdo.

Para o norte-americano George Pérez, não se deve pensar o futuro dos quadrinhos separadamente da evolução de toda a mídia eletrônica. Seja em papel, na internet ou em aplicativos. “Qualquer coisa que faça as pessoas lerem é sempre bom”, defende. Editor da publicação independente Revista Prego, Alex Vieira ressalta que a produção nacional anda tão diversa que as criações já não se prendem às regras ditadas pelo mercado. Que, aliás, muda em alta velocidade.

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"Qualquer coisa que faça as pessoas lerem é sempre bom", George Pérez, quadrinista norte-americano (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
O autor tem tanta liberdade para fazer seu trabalho que pode escolher a plataforma que quiser para trabalhar. Tem a galera da internet e estão surgindo alguns aplicativos. Estamos fazendo a experiência de colocar o conteúdo no iPad e no iPhone. É completamente diferente. É para somar, não substituir”, garante Alex. O aplicativo da Prego está em fase final de testes.

Caçador de talentos, Sidney Buman, editor da Graphic MSP, se surpreendeu com a qualidade do que viu no FIQ 2013. “Tem gente que do ano passado para cá evoluiu a olhos vistos, de maneira assustadora. O pessoal está crescendo em ritmo muito acelerado. Começamos a vislumbrar um cenário em que todos os gêneros de quadrinhos serão publicados no Brasil”, aposta.

O que chamou a atenção do veterano Gabriel Bá foi o público. “Ele já se acostumou a vir aqui procurar por artistas e coisas novas. Acho que o que mudou nesta edição foi a quantidade de artistas acreditando mais na possibilidade de mostrar o trabalho. O público está aberto”, diz. “Vejo gerações distintas de quadrinistas. Tem gente de 35 que já tem uma carreira, outros como eu, que estão começando, e moleques de 17 e 18 que nem pensam em fazer faculdade. Quadrinho hoje não é mais uma opção só para segundo emprego, hoje já dá para pensar em viver dele”, avalia Luís Felipe Garrocho.

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Leandro Duarte e Isa Rocha foram a caráter. Não eram os únicos (foto: Renato Weil/EM/D.A Press)
Em relação à edição passada, a organização do FIQ no espaço da Serraria Souza Pinto mudou um pouco e os corredores estavam mais largos para facilitar a movimentação dos visitantes. Para a próxima edição, Afonso Andrade já pensa em aprimorar a área de autógrafos. “O FIQ é um processo em contínuo aperfeiçoamento”, diz. A tenda climatizada montada ao lado do espaço principal foi um acerto. Mas o mais desconfortável do FIQ continua sendo o forte calor no interior da Serraria Souza Pinto. Mas, convenhamos, mudar o clima de Belo Horizonte já seria tarefa para super-herói.

Bidu vai virar livro

A oitava edição do FIQ trouxe a Belo Horizonte nomes de peso do cenário internacional, como George Pérez e Ivo Milazzo, mas foi a prata da casa que chamou mais atenção. Em uma visita surpresa à Serraria Souza Pinto, o homenageado da edição passada, Mauricio de Sousa, chegou para anunciar que o projeto de produção de graphic novels com seus personagens, divulgado no FIQ 2011, não só deu certo como cresceu.

Além de novas edições de Astronauta, de Danilo Beyruth e Cris Peter, e 'Turma da Mônica', de Lu e Vitor Cafaggi,  serão lançadas em livro as histórias de 'Papa Capim', por Marcela Godoy e Renato Guedes, 'Turma da Mata', de Greg Tocchini, Davi Calil e Artur Fujita, 'Penadinho', de Cris Eiko e Paulo Crumbim, e Bidu, esta feita pela dupla mineira Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho.

“É assustador de um jeito sensacional”, diz Garrocho, que não segurou as lágrimas na sexta-feira, quando a notícia veio a público. “É uma responsabilidade muito grande, porque são quadrinhos que a gente cresceu lendo. Tive um cachorro chamado Bidu por causa dele. Mas se for parar para pensar nisso não sai. O trabalho agora é tentar concentrar em fazer o melhor que a gente puder em um personagem que é icônico, mas que precisamos tratar um pouco como se fosse nosso, respeitando toda a história dele”, completa Damasceno.

Eduardo e Luís Felipe foram pioneiros no uso da plataforma de crowdfunding para produzir o primeiro livro, 'Quadrinhos rasos'. A obra foi lançada no FIQ 2011 e os autores entregaram o trabalho em mãos para Mauricio de Sousa. O editor do selo Graphic MSP, Sidney Gusman, já estava de olho nos artistas. A dupla trabalha no projeto que ainda não tem uma data de lançamento. Segundo Gusman, os livros serão impressos na China e não há como precisar quando estarão prontos para o mercado brasileiro. A ideia de Mauricio de Sousa é também transformar as graphic  novels em filme.

 

 

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