Como a improvisação marca presença em seu trabalho diário?
Quase todo o meu trabalho é sobre improvisação. Trabalho muito desenhando espontaneamente. É bom preparar algo antes de efetivamente desenhar. Comecei a fazer isso porque minha atividade principal é com webcomic e procuro que seja sempre direto. Iniciei naturalmente desenhando e publicando on-line.
Pedro Hutsch Balboni, do site João e Joaninhas, gostaria de saber se você acha possível conceber um modelo de negócios para a área de webcomics.
Sim. Mas não sou a pessoa mais adequada para falar sobre isso. Não sigo nenhum modelo econômico. Minha webcomic é totalmente livre, sem publicidade, detesto publicidade. São basicamente meus desenhos e tenho que pagar para colocá-los on-line. É paixão mesmo, e boa vontade. Algumas pessoas me ajudam. Programadores colaboram com o leiaute e a programação. Tenho um amigo que trabalha nisso e lida com a parte de informática. Neste momento, meu site não me custa mais nada. O que gera renda é a publicação das webtiras em livros. Mas há outros caminhos. Uma autora americana, por exemplo, permite a impressão do livro diretamente do site dela. Outra americana vende camisetas, canecas e coisas desse tipo sobre o trabalho dela. Tenho um amigo que criou, durante dois anos, um esquema de assinatura. Por 3 euros/mês, o leitor recebe uma webcomic todo dia.
Criador do site Levados da Breca, Wesley Samp tem curiosidade de saber se você acompanha o cenário de webcomics e se acredita que os artistas têm publicado primeiro na internet e depois no livro físico.
É difícil dizer, porque há algumas diferenças. Nos Estados Unidos, por exemplo, os quadrinhos são vendidos diretamente para o tablet. Por que não? Na França, ainda temos tradição de quadrinhos em livros. Acredito que o francês não esteja pronto para a publicação na internet. Ainda precisamos muito do livro. Também ainda é o único modo economicamente viável de sobreviver. Não conheço nenhum artista francês que viva somente de webcomic. Nos últimos anos, muita gente publicou na internet e os editores ficaram interessados. Os que faziam mais sucesso foram escolhidos para serem publicados. Alguns funcionaram bem no livro, mas nem tanto. Somos todos quadrinistas profissionais com trabalhos prévios antes de ir para a internet.
Aqui no Brasil, muita gente começa publicando pela internet...
Isso é bom e poderia ocorrer mais na França. É o meio mais fácil para começar, quando você é jovem e quer mostrar o trabalho. É fácil de fazer, de mandar por e-mail, compartilhar. Acho que mais pessoas devem tentar isso. É um modo lógico de conseguir visibilidade. A web é muito mais eficaz nisso. Não digo que a internet seja melhor, não é. É mais eficiente para a comunicação, para espalhar pelo mundo.
Guilherme Bandeira, do site Objetos Inanimados, pergunta sobre o futuro das tirinhas em jornal. Você acredita que as webcomics serão capazes de reduzir a publicação em periódicos?
Acho que os jornais estão decaindo, em geral. Não sei como funciona no Brasil, mas na França todos os jornais enfrentam crise. As pessoas consomem notícias na internet e não mais no impresso. Acredito que, no que se refere ao quadrinho, primeiro se trata de tradições diferentes. Na França, por exemplo, temos mais tradição de livros. E também tradição de desenhos de imprensa, satíricos. Os periódicos mantêm alguns cartunistas. Curiosamente, são mundos diferentes. De um lado artistas cartunistas, de outro cartunistas da imprensa. Não frequentamos os mesmos espaços, nem os mesmos festivais. Vejo agora versões on-line de jornais convidando desenhistas para ter blogs.
Como você vê o futuro dos quadrinhos?
Ah, não sei, talvez me tornando uma estrela de cinema, todo mundo lendo quadrinhos por todas as partes. Na França, alguns editores têm tentado encontrar relação mais próxima com artistas. Acho que nunca tivemos momento melhor. Tem-se publicado muito e há muito dinheiro. Em compensação, nunca foi tão difícil bancar uma autoria. Não para mim, sou sortudo, mas para jovens que surgem agora. Os direitos de autor estão realmente em baixa em comparação com o passado. É muito estranho, porque existem mais autores e, em compensação, estão cada vez mais pobres. Espero que haja solução para isso. Os editores tentam manter as bases para publicações impressas ou on-line. Os artistas argumentam que os custos da web são bem mais baixos, já que não têm gastos com impressões, distribuição, publicidade. E pergunta: se é assim, por que continuam nos descontando o mesmo? As negociações estão travadas. Muitos artistas se deram conta de que eles mesmos podem fazer os sites, publicar.
Destaques de hoje no FOQ
>> 11h30: Faça você mesmo, com Gabriel Góes, Fábio Zimbres, Marcatti, Gustavo Duarte.
>> 13h30: Conversa em quadrinhos com José Aguiar e Flix.
>> 14h: Conversa em quadrinhos com Lucas Libânio e Duke.
>> 14h30: OuBaPo: improvisações em quadrinhos com apresentação de Felipe Assumpção, vilão especialmente convidado, Boulet e os artistas Lu Cafaggi, Pedro Cobiaco, Cris Eiko, Lucas Libânio e Magno Costa, no Auditório Gutemberg Monteiro.
>> 16h: Faroeste, com Fabiano Barroso, Ivo Milazzo, Rafael Albuquerque, Magno Costa e Marcelo Costa.
>> 17h: Sessão de autógrafos com George Pérez, no estande Comix.
>> 18h: Translaerte, com Rafael Coutinho, Laerte, Marcelo Miranda, Mariamma e Letícia Barreto.
>> 20h: sessão de autógrafos com Laerte, na Praça Mauro Martinez.
>> 20h: Argentina, com Eduardo Risso, Sebastián Fiumara, Max Fiumara, Jok, Julian Totino e Salvador Sanz.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE QUADRINHOS
Último dia, das 9h às 22h. Serraria Souza Pinto. Av. Assis Chateaubriand, 809, Floresta, (31) 3213-3434. Entrada franca.
Desafio
Vencedor do troféu HQMIX 2013, Wagner de Souza aceitou o desafio do Estado de Minas para relacionar o FIQ e a cidade. Eis a versão HQ de uma batalha fictícia no Pirulito da Praça 7, com direito a gigante e voadora. Junto com Daniel Esteves e Wanderson de Souza, Wagner faturou prêmio de publicação independente com o trabalho KM Blues.