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Todos os trabalhos da mostra são dos últimos dois anos. A intensa produção tem explicação. “Estou totalmente dedicado ao trabalho de arte”, afirma João Castilho, contando que deu um tempo em atividades acadêmicas – tanto aulas quanto pesquisas. Belo Horizonte recebe a segunda versão de exposição já apresentada em São Paulo, que manteve estrutura e ganhou alterações. As obras buscam intensa relação, “de diálogo ou conflito”, com o espaço onde estão inseridas, em ocupação feita com apoio de arquiteto. “Tenho buscado parcerias criativas”, explica o artista, que tem trabalhado com videomakers e artistas gráficos. Os trabalhos foram realizados a partir de diferentes procedimentos: desde fotomontagens até apropriação de imagens, passando por criação de situações originais. Em todo os casos sem dirigir leituras e procurando imagens que tragam novas questões.
“Não sou mais um fotógrafo viajante, trabalho com situações casuais, que acontecem na minha frente. Hoje uso a câmara para realizar uma ideia. No geral, tudo que está nas imagens é construído”, frisa João Castilho. Exemplo de seu processo pode ser imagem de pequena árvore em botinas, que tem ar de acaso, mas foi feita por ele para ser fotografada. “É ampliação do uso da fotografia e modo de trabalhar que me permite mais controle sobre o que faço”, explica. Ele tem participado de bienais (de Curitiba e do Masp) e esteve nas mostras Elóge du vertige, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris; e Mythologies, na Shiseido Gallery, em Tóquio. Tem obras em acervos dos museus de Arte Moderna de São Paulo, Bahia e Pampulha (MAP), Coleção Itaú e Musée du Quai Branly, entre outras insituições.
Palavra de artista
• Questões
“Errância, exílio, violência, deslocamento, relação com a natureza, mídia, conflitos etc. estão no que faço. De forma indireta, ainda que possa me valer também de linguagem direta. São metáforas, construções poéticas de linhas tortas para abrir questões. Trabalho temas existenciais e políticos da vida e da morte, do bem e do mal, da inocência e da culpa. Em preto e branco, mais interessada em contraste do que explorar tons de cinza; ou com cor mais controlada, chamando para os assuntos que estou tratando de forma mais concentrada.”
“Abismo é vídeo, mostra uma pequena embarcação tripulada por homens negros. Ruma, lentamente, para o desconhecido. Pensamos nas embarcações que saem do Norte da África para o Sul da Europa, nas embarcações que deixam Cuba em direção à Flórida e nas centenas de embarcações que deixaram a África rumo às Américas. É trabalho que alude a navios negreiros, mas que se refere a todas as errâncias, exílios, travessias, fugas, deslocamentos. Estamos vivendo assim, inclusive os artistas.”
• Universalidade
“É difícil achar o artista contemporâneo em casa, pois ele faz muitos trabalhos em outros países. Trânsito que é bom, porque permite contaminações, creolização do mundo, cria possibilidade de trabalhar com coisas mais universais. Minhas obras trazem um ponto de vista, senão brasileiro, pelo menos do Sul do mundo. Vejo as coisas daqui, mas não estou buscando uma especificidade latino-americana, onde sempre gostam de situar o que fazemos. Que vemos o mundo de outro ângulo, para mim é claro, mas trabalho com questões universais.”
Caos mundo
Fotos, vídeos e instalações de João Castilho. Quarta-feira, das 18h às 22h, na Funarte MG, Rua Januária, 68, Floresta, (31) 3213-3084. Terça a sábado das 13h às 21h. Até 6 de dezembro. Entrada franca.
Livro como suporte
João Castilho lança em 5 de dezembro o catálogo da exposição 'Caos mundo' e, se tiver autorização da Funarte, seu quarto livro: 'Hotel tropical'. Trata-se de ensaio fotográfico de 2011, sobre hotéis do interior do Brasil que revelam confusão enorme de tempos. Em alguns, reforma e demolição convivem, assim como abandono e funcionamento do local, além haver convivências de elementos os mais diversos. “Meu interesse é por arquiteturas erráticas, do dia a dia, sem projeto, que quebram a lógica da uniformização das grandes redes de hotéis que faz com que um imóvel seja a mesma coisa em qualquer lugar do mundo”, conta.
“Trato o livro como meio para trabalhos artísticos, como faço com as fotos, vídeos e instalações”, explica Castilho. Ele situa suas publicações, três delas edições do autor, no campo do chamado livro de artista, edições artesanais ou de pequenas tiragens, que fazem do livro suporte para trabalhos experimentais. Conta que 'Peso morto', um dos títulos, traz inclusive fotos que ele nunca expôs. O volume é um livro de imagens que esconde um fundo falso. O trabalho fez com que o artista, ao passar por um aeroporto, fosse visto com desconfiança por fiscais. O mineiro teve de explicar que o estranho objeto era obra de arte.