Chichico Alkmim (1886 –1978) é personalidade marcante dos primórdios da fotografia em Minas Gerais. Nas primeiras décadas do século 20, criou extensa galeria de fotos com imagens de pessoas e famílias de Diamantina. Há quase uma década, a obra desse fotógrafo vem sendo redescoberta. Depois de ganhar o livro 'O olhar eterno de Chichico Alkmim' (2005), o baú do artista volta a ser aberto com a exposição 'Paisagens humanas – Paisagens urbanas', que será inaugurada nesta terã-feira, às 19h, no café do Memorial Minas Gerais Vale. A mostra traz 20 impressões de imagens feitas por ele e disponibiliza outras 70 em três monitores de computador. O público verá fotos inéditas, além daquelas publicadas no volume dedicado a ele.
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“A obra de Chichico Alkmim conjuga o fascínio dele pela fotografia, a busca de aperfeiçoamento e criação”, defende Verônica. Esse último aspecto se destaca em razão da necessidade de suprir a falta de acesso à tecnologia e informação, pois o fotógrafo trabalhou a vida inteira no interior de Minas. Verônica conviveu com o avô, mas na época em que ele havia deixado as câmeras. Recorda-se, ainda hoje, das temporadas de férias na casa de Chichico em Diamantina, que tinham “como recreio” momentos em que a família sentava e abria caixas, guardadas no porão, cheias de fotos. Todos se dedicavam a identificar quem estava na imagem. “É responsabilidade e prazer cuidar desse patrimônio. Gostaria de provocar mais novos olhares sobre a obra de Chichico Alkmim”, diz.
Verônica França está desenvolvendo pesquisa sobre o vestuário nas fotografias do avô. “Para fotografar, ele montava uma cena. Tinha no estúdio adereços – golas de renda, flores, sombrinhas etc. – usados pelas pessoas na hora de posar. Esses elementos acabam dando dimensão estética que vai além do registro”, argumenta. Tais cuidados, afirma a artista, vêm muito da personalidade do fotógrafo. “Ele foi um homem de poucas palavras, muito observador, que valorizava a beleza e que mergulhou de corpo e alma na fotografia. A delicadeza, sutileza e respeito pelo outro são a assinatura dele”, analisa. O fato de não ser realizada mostra ampla, explica a curadora, deve-se à necessidade de estruturação jurídica do acervo, essencial para que os projetos possam avançar.
Livro
Criado em 2005, o projeto Chichico Alkmim tem o objetivo de preservar, divulgar e promover a obra do fotógrafo. O primeiro passo foi o lançamento do livro 'O olhar eterno de Chichico Alkmim', com cerca de 70 imagens. Atualmente, busca-se instituição que possa abrigar, organizar e tratar o acervo estimado em 5 mil negativos em vidro, de modo a permitir o acesso de pesquisadores. Todas as imagens receberam pré-digitalização, mas apenas 150 passaram pelo processo completo.
Vida de fotógrafo
Francisco Augusto Alkmim nasceu em 1886 em Bocaiúva, em uma fazenda na área rural. Com a decadência dos negócios da família, mudou-se para Diamantina em busca de meios para sobreviver. Na cidade histórica, levou adiante o interesse pela fotografia, aproveitando-se de informações obtidas com um padre. Estudou com pioneiros como Passig e Bonfioli e se aprimorou lendo manuais sobre o assunto. Em 1913, abriu o próprio estúdio, que, por duas décadas, foi o único em Diamantina. O instrumento de trabalho era uma máquina de fole 13x18. Com ela registrou batizados, casamentos, vistas de cidades, funerais, festas populares e religiosas.
O material fotográfico – inclusive os frágeis negativos de vidro – vinha do Rio de Janeiro e de São Paulo em lombo de burro e, a partir de 1914, de trem. Na década de 1930, eles passam a ser adquiridos em Diamantina, na loja Foto Werneck, na Rua Jogo de Bola. Durante toda a carreira, Chichico sofreu de limitações físicas nas mãos, que não o impediram de trabalhar.
Estima-se que tenha fotografado até 1955. O fotógrafo morreu em Diamantina, em 1978.
Depoimentos
Memória
“Chichico foi um ser humano de grandiosidade incalculável. Era uma simpatia. Lembro-me dele sempre vestido de terno de casimira, colete e gravata. Tinha sempre uma palavra carinhosa e de alegria para as pessoas. Era homem caseiro, sempre no ateliê que ficava na parte de baixo de sua casa. Todos o conheciam e valorizavam seu serviço, porque era importante a foto da primeira comunhão, da formatura no colégio e de outros momentos marcantes. Dentro da máquina, com aquele pano preto na cabeça, era um artista. Era ‘o’ fotógrafo de Diamantina. Ele sabia como nos transformar em meninas bonitas.”
Helena Bastos 6 anos, professora
Poética
“O trabalho de Chichico Alkmim é um documento poético-visual. Ele não foi só um fotógrafo, mas diretor de cena. Não fotografava as pessoas com roupas sujas, fazia arranjos florais para as modelos, cuidava em deixar a pessoa à vontade. São finezas que fazem dele um autor, com estética própria. Está nas fotos, ainda, a luz do hemisfério sul, de janelas abertas, muito bonita e quase renascentista. Como usou negativos grandes, as fotos têm ampla escala tonal e grande riqueza de detalhes e texturas.”
Tibério França otógrafo e curador da mostra
Olhar
“Chichico Alkmim é fotógrafo da linhagem dos grandes da época, com estética maravilhosa, que permite várias leituras. O que chama a atenção é o modo como ele explora o olhar. Ele tem um olhar que expõe de maneira documental toda a dimensão da cultura barroca e cristã. Os anjinhos, por exemplo, são o congelamento da pureza como valor ideal para atingir eternidade tipicamente cristã.”
Stélio Lage siquiatra e psicanalista
Paisagens Humanas – Paisagens urbanas
Exposição de fotos de Chichico Alkmim.
l Abertura nesta terça-feira, às 19h, no Café do Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, s/nº). Terça, quarta, sexta-feira e sábado, das 10h às 18h; quinta-feira, das 10h às 22h; domingo, das 10h às 16h. Entrada franca. Até dia 16 de fevereiro.
l No dia 21, às 19h, Verônica Alkmim França e Fernando Alkmim, netos de Chichico, dão depoimentos sobre a obra do fotógrafo.