A partir da ideia “Dança que mobiliza transforma”, o FID 2013 não destaca estilos nem trabalha com temas. O negócio é provocar, instigar o olhar e a mente. “Os espetáculos não fazem concessões. Têm comprometimento com o corpo, não é blablablá”, alerta Banana. Serão 11 criações, seis internacionais, em cartaz em cinco espaços de Belo Horizonte.
“Esse paraíso é um espaço de liberdade, e de uma liberdade que não se submete à lógica, à coerência, etc., em que o heterogêneo e o contraditório naturalmente se infiltram, como nos sonhos, nos quais, por dinâmicas contraditórias de repressão e desejo, surgem imagens não lógicas, mas poéticas. Meus trabalhos criam espaço para que o público projete sua imaginação. Assim, cada um lê segundo a sua sensibilidade, experiências, expectativas, e quanto mais distantes, entre si (e do que projetei), tanto melhor”, diz Marlene.
Além de 'Paraíso – Colecção privada', o grupo apresentará outros dois trabalhos: 'Urizen', de Luís Guerra de Laocoi, e 'Guintche', também de Marlene Monteiro Feitas. Também do exterior virão 'Panaibra Gabriel Canda', de Moçambique – que chamou atenção na última edição do festival Cena Contemporânea de Brasília – ; 'Iris Erez', de Israel; e 'Benoit Lachambre', do Canadá. “Meu esforço é de trazer alguma coisa que faça diferença”, diz Adriana Banana.
Sentidos Deste grupo a presença de Benoit Lachambre merece destaque. Desde a década de 1970, ele estuda modos de buscar a autenticidade do gesto na dança. Para isso, desenvolve trabalho apurado a partir dos sentidos humanos. Snakeskins, o espetáculo dele, foi escolhido para encerrar o FID 2013, no fim de semana que vem. Trata-se de performance multisensorial, com vídeos e música ao vivo.
“A figura do Benoit é muito marcante. Ele veio na primeira edição, em 1996, e volta 18 anos depois. Vai ser muito bom para ver não só a evolução dele, mas também do público da cidade em relação à dança contemporânea”, observa Carla Lobo, diretora executiva e idealizadora do evento ao lado de Adriana Banana. Pela primeira vez, outros sentidos humanos serão estimulados: três criações têm o cheiro como elemento dramatúrgico e em uma delas também há comida em cena. Quatro espetáculos não são recomendados para menores de 18 anos, o que significa serem criações para impactar o público adulto.
Nacionais Em alguma medida, todas as atrações do FID têm pesquisa ligada ao corpo. Os paulistanos da Key Zetta e Cia se apoiam na corporalidade para refletir qual o agradecimento seria justo, nos dias de hoje, na coreografia batizada 'Obrigado por vir'. O carioca André Masseno, por sua vez, pesquisou a contracultura dos anos 1960 e 70 para elaborar 'O confete da Índia'.
“O 'O confete da Índia' surgiu como ponto de partida para revisitar o movimento contracultural e comportamental nos anos 1960 e 70, que recebeu o nome de desbunde. Mas não fica apenas abordando o passado. É sobre como pensar a questão da repressão do corpo, de uma vida alternativa, de como experenciar o corpo em cena e de como confrontar isso com a nossa realidade”, comenta André. Segundo ele, o resultado é bastante peculiar e pode surpreender. “O público entra e não sabe o que vai acontecer”. Aliás, essa parece ser uma máxima do FID.
SAIBA MAIS - Fidinho
Se não há concessões na programação dedicada aos adultos, o mesmo vale para os espetáculos recomendados para as crianças. Serão dois: primeiro, o português Tritone, de Silvia Real, e, na semana que vem, Buraco, da curitibana radicada na Alemanha Elisabete Finger. “É um espetáculo que não trata a criança de modo infantilóide. É simples”, comenta Adriana Banana. Tritone é a segunda parte de uma trilogia. A curadora compara a montagem a um filme de Jacques Tati dançado. A ludicidade é um ponto forte na coreografia, que pretende transportar o público para um pequeno hotel. Depois do espetáculo, Sílvia Real e Sérgio Pelágio vão dar uma oficina sobre o processo de criação deles.
TERRITÓRIO MINAS
Destaque na semana que vem, a mostra dedicada a fomentar a dança em Minas terá duas estreias. Hyenna – Não deforma, não tem cheiro, não solta as tiras é a segunda criação solo assinada pelo coreógrafo e intérprete Tuca Pinheiro. O espetáculo é uma discussão política, fruto de pesquisa que ele fez no Brasil e na Alemanha. Já Trans-Amazônia, de Tiago Gambogi, é a tradução em espetáculo da viagem que o performer fez durante seis meses pela rodovia Transamazônica. O Território Minas é destaque no fim de semana derradeiro do FID.
Programação
Paraíso – Colecção privada, com o coletivo Bomba Suicida (Portugal). Espetáculo de Marlene Monteiro Freitas
» Sexta e sábado, às 21h. Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras, (31) 3229-3131.
Tempo e espaço: Os solos da marrabenta, de Panaibra Gabriel Canda (Moçambique)
» Sábado e domingo, às 19h30. Funarte MG, Galpão 1, Rua Januária, 68, Floresta, (31) 3213-7112.
Tritone, de Silvia Real (Portugal)
» Sábado e domingo, às 16h. Funarte MG, Galpão 3, Rua Januária, 68, Floresta, (31) 3213-7112.
Obrigada por vir, com Key Zetta e Cia (São Paulo)
» Sábado e domingo, às 18h. Teatro Alterosa, Avenida Assis Chateaubriand, 499, Floresta, (31) 3237-6611.
O confete da Índia, com André Masseno (RJ)
» Sexta e sábado, às 23h, e domingo, às 21h. Gruta! Espaço de Arte, Rua Pitangui, 3.613 C, Horto, (31) 2511-6770.
Ingressos: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia)
Informações: www.fid.com.br.