Exposições transformam Belo Horizonte em imensa galeria de arte, oferecendo um painel da produção visual contemporânea. Há mostras que usam artifícios de fácil comunicação para entretenimento e diversão, como A magia de Escher, em cartaz no Palácio das Artes. Outras apostam em linguagem mais desconcertante, a exemplo das instalações de grande porte do projeto BH Ásia. As recentes inaugurações do Cine Theatro Brasil Vallourec (com o painel Guerra e paz, obra-prima de Candido Portinari) e da Galeria de Arte do Espaço Cultural do Minas Tênis Clube (com homenagem ao centenário da artista Tomie Ohtake) ajudaram a movimentar o calendário. Cai por terra a velha máxima de que não há nada para fazer em BH.
O cidadão tem à disposição atrações gratuitas e de qualidade.
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A fila na porta do recém-reinaugurado Cine Theatro Brasil Vallourec anuncia: algo lá dentro está diferente. O espetáculo em que se transformou a visita ao antigo cinema restaurado e ao painel Guerra e paz, de Candido Portinari, mudou a rotina da Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte. Um pouco mais adiante, no Palácio das Artes, algo semelhante ocorre com a exposição A magia de Escher. Diariamente, centenas de pessoas têm tumultuado – no bom sentido – aquelas galerias para conferir as criações do artista holandês, mestre da ilusão de ótica.
Em frente à rodoviária, há certa estranheza diante da obra de Tatzu Nishi. “Uma casa no alto de uma torre não se encontra em qualquer lugar”, comenta Eliane Soares, professora em Contagem. À espera do ônibus, ela e os sobrinhos Gabriela e Rafael se encantaram com a ousadia do artista japonês. “Achei legal, porque a casa tem chaminé que solta fumaça. Fico imaginando como se chega lá em cima”, diz a garota.
A gigantesca instalação de Nishi é parte da exposição de arte pública BH Ásia, que mudou a rotina de cartões-postais da cidade. Enquanto na Barragem Santa Lúcia uma ilha artificial com vegetação natural e coberta de tinta negra chama a atenção, na Praça do Papa, o que faz o povo parar é um enorme barco, criação do indiano Subodh Gupta. Inspirado no fato de Minas não ter mar, ele instalou sua embarcação ao pé da montanha.
O estudante de engenharia Rafael Cordeiro veio de São Luís, capital do Maranhão, passar quatro dias em BH. Quando chegou à Praça do Papa, viu-se diante da vista panorâmica da metrópole repleta de prédios. E não teve como não se impressionar diante do grande barco saindo da montanha. “Fiquei curioso. Achei interessante, pois quando estamos em alto-mar também avistamos o horizonte. É como se essa obra de arte fincada na montanha abrisse, simbolicamente, as portas da cidade para novas descobertas”, filosofa o maranhense.
Estratégia A boa fase cultural de Belo Horizonte tem origem em uma série de investimentos recentes em novos espaços e eventos. Também é efeito da estratégia, que se revelou acertada, de dar mais atenção às artes visuais. Contrariando a tendência até então predominante de apostar em programação de forte apelo popular, a opção foi valorizar exposições e instalações de arte conceitual. Tem dado certo. Há muito tempo não se via tanta gente nas ruas, praças e espaços expositivos em busca de divertimento gratuito e de qualidade.
A professora de matemática Jeanne D’Arc de Almeida Ferreira reservou a última quinta-feira para visitar as exposições. Primeiro, foi ao Palácio das Artes. De lá seguiu para o Cine Theatro Brasil Vallourec e depois chegou à rodoviária. Ficou encantada. “Antigamente, era difícil fazer um roteiro desses, pois havia pouca coisa para ver. Hoje não”, comemora.
TOUR PEDAGÓGICO ENCANTA ALUNOS
As atrações são descentralizadas. Na Avenida Afonso Pena, elas vão da Praça do Papa ao outro extremo, na rodoviária. Há opções também na Barragem Santa Lúcia, na Região Centro Sul, e nos museus do Circuito Cultural da Praça da Liberdade. As atrações gratuitas têm atraído público do interior.
A professora de literatura e português Maria de Lourdes Domingues, por exemplo, reservou um dia para viajar com os alunos de Pedro Leopoldo para BH. Eles vieram conferir a exposição Fernando Sabino: 90 anos, que levou até um vagão para a Praça da Liberdade. “Quis mostrar aos alunos um pouco desse escritor. A intenção é revelar, em sua própria terra natal, as coisas maravilhosas que ele escreveu. Em seguida, os estudantes terão de escolher um dos livros de Sabino para ler”, revela.
A aula ao ar livre fez sucesso. “Ver tudo isso aumenta a nossa cultura”, reconhece Thaís Funes, aluna do Instituto Lacoan, de Pedro Leopoldo, depois de entrar no labirinto gigante com paredes cobertas por textos de Sabino. Outra que se entusiasmou com o passeio foi Isabella Alves. “Além de a exposição ser legal, adorei a arquitetura do CCBB”, destacou ela, referindo-se ao Centro Cultural do Banco do Brasil. Aberto em agosto, esse espaço homenageia o autor de O encontro marcado.
A professora Maria de Lourdes aprovou o tour cultural. “Além de quebrar a rotina da sala de aula, atividades assim aproximam o aluno do autor, despertando neles o prazer da literatura”, comenta. “O nosso ser mineiro está representado pela obra de Fernando Sabino”, concluiu a jovem Thaís, depois de sair do labirinto montado no CCBB.
Cine Theatro Brasil
O painel Guerra e paz, de Portinari, é a atração do novo espaço cultural da Praça Sete. Ele pode ser visitado até 24 de novembro.
>> Praça Sete, Centro
De terça a domingo, das 10h às 19h. Fecha às 20h. Visitas guiadas a cada 60 minutos. Entrada franca.
Informações: (31) 3201-5211.
Rodoviária
No estacionamento, chama a atenção a obra do japonês Tatzu Nishi, do projeto BH Ásia. Enorme chaminé tem em seu topo uma casa em tamanho real. Até 8 de dezembro.
>> Praça Rio Branco, nº100 - Centro
Centro de Arte Contemporânea e Fotografia
Até 17 de novembro, o espaço exibe a mostra As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro (1940 –1960).
l Av. Afonso Pena, 737, Centro.
Terça a sábado, das 9h30 às 21h;
domingo, das 16h às 21h.
Informações: (31) 3236-7363.
Palácio das artes
A obra de Escher ficará em cartaz até 17 de novembro nas galerias da Fundação Clóvis Salgado. Filas comprovam o encanto despertado pelo artista. Entrada franca.
>>Av. Afonso Pena, 1.537, Centro.De terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h.
Informações: (31) 3236-7400.
Minas Tênis Clube
A nova galeria da capital homenageia o centenário de Tomie Ohtake com uma exposição panorâmica.
>> Rua da Bahia, 2.244, Lourdes.
De terça a sábado, das 10h às 20h; domingo, das 11h às 19h.
Informações: (31) 3516-1027.
Praça da Liberdade
Homenagem aos 90 anos do escritor Fernando Sabino
>> Vagão Cultural. De terça a domingo, das 9h às 21h.
>> CCBB. De quarta a segunda, das 9h às 21h.
>> Anexo da Biblioteca Pública Estadual. Rua da Bahia, 1.889,
2º andar, Funcionários. De segunda a sexta, das 8h às 20h; sábado, das 8h às 12h.
>> Museu das Minas e do Metal. Terça e quarta e de sexta a domingo, das 12h às 18h; quinta, das 12h às 22h.
Barragem Santa Lúcia
A chinesa Jennifer Wen Ma mudou a paisagem: instalou uma ilha artificial
no meio do lago. Das 10h às 18h, um pedalinho conduz o público para perto
da obra. Até 8 de dezembro.
>> Av. Arthur Bernardes, Bairro Santa Lúcia
Praça do Papa
O indiano Subodh Gupta instalou um enorme barco ao ar livre, aos pés da montanha. Parte do projeto BH Ásia, a obra tem chamado a atenção. Ela pode ser vista até 8 de dezembro.
>> Praça Governador Israel Pinheiro, Bairro Mangabeiras