7ª edição do Festival de Arte Negra começa nesta terça feira

Evento promove espetáculos, oficinas e debates que marcam 18 anos de reflexões das tradições africanas. Programação vai até domingo em diversos pontos da capital mineira

por Carolina Braga 21/10/2013 07:58

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Jair Amaral/EM/D.A Press
Maurício Tizumba (em primeiro plano) elogia a colaboração dos curadores Ricardo Aleixo, Rui Moreira, Makota Kizandembu, Carlandreia Ribeiro e Antônio Sérgio (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
No corre-corre final de produção, enquanto acerta os últimos detalhes do desfile de abertura do Festival de Arte Negra, Makota Kizandembu repete exaustivamente que se trata de uma temporada em que fazeres e saberes estarão à mostra em Belo Horizonte. Maurício Tizumba, diretor artístico da sétima edição do evento, concorda. E acrescenta: “Será um FAN do tamanho das próprias pernas. Como um caracol pensado de dentro para fora”.

Trocando em miúdos, a programação, que ocupará oito espaços de Belo Horizonte até domingo, aposta muito mais em pratas da casa e ações voltadas para formação. “Houve um período em que se privilegiava o lado da celebração, muitas vezes a denúncia, deixando de lado o aspecto da reflexão”, explica o escritor Ricardo Aleixo, também curador desta edição. “Ela é importante porque a cultura negra ficou associada ao folclore, seus aspectos da tradição.”

Maioridade Como salienta Ricardo Aleixo, a mistura de festa e pensamento já é uma demanda da nova geração, que atua e milita a favor das questões relacionadas à arte negra na cidade. Para Maurício Tizumba, essa sétima edição marca o início da “maioridade” do festival. Ele foi criado em 1995, portanto há 18 anos, e desde então a cada ano luta para garantir seu espaço e se diferenciar.

Em 2012, em meio a uma crise na Fundação Municipal de Cultura, órgão responsável por sua realização, discutiu-se muito o tipo ideal de festival. De certa maneira, a temática deste ano – “Um lugar no mundo: Afroamérica” –, responde a esses anseios. Para Tizumba, convidado a assumir a direção artística do festival em 26 de março de 2013, foi uma experiência complexa realizar o FAN com orçamento em torno de R$ 1,2 milhão.

“Acho que me escolheram porque tenho o poder de aglutinar pessoas”, arrisca Tizumba. “Gosto de agregar, essa é a minha história”, completa o ator e músico, fundador do Tambor Mineiro. “Seis meses antes de realizar o evento, não havia espaço. Todos os teatros municipais estão em obras, os particulares, ocupados, as agendas dos artistas também. Então tivemos que pensar bastante”, lembra.

Em maio Tizumba fez a primeira reunião com a comunidade negra e identificou seus principais parceiros nesta empreitada: Ricardo Aleixo, Rui Moreira, Sérgio Pererê, Antônio Sérgio, Makota Kizandembu e Carlandreia Ribeiro, todos curadores setoriais. “Minha grande sacada foi ter escolhido essas pessoas. Eles criaram coisas maravilhosas pra gente”, elogia Maurício Tizumba.

Na agenda

» Entre os destaques da literatura está o debate com o autor argentino Washington Cucurto. Há apenas três anos o país vizinho incluiu afroamericanos e outras etnias na pesquisa oficial da população. Ele é convidado a falar sobre a atual valorização negra na Argentina. Quinta-feira, no Centoequatro.
 
» A bailarina francesa Lénablou vai apresentar o estilo de dança techni ka, enraizado na herança folclórica tradicional de Guadalupe, no Caribe, em uma performance em parceria com Luís Ferron e participação do coletivo Soul, de BH. Sexta-feira, no Centoequatro.

» Foram criados quatro shows inéditos para esta edição. Um deles, Bala da palavra, de Sérgio Pererê, com os tambores mineiros e hip-hop. Todos os shows terão músicas de Marku Ribas, morto em março deste ano. Quarta-feira, no palco principal do Iphan.

» O cinema do Centoequatro vai exibir os documentários 'Paz no mundo camará' (2012), de Carem Abreu e Jorge Moreno, sobre a capoeira angola; e 'Raça' (2013) de Joel Zito e Megan Mylan, entre outras produções.

Detalhes na programação no site do evento.

Entrando nos eixos

O FAN 2013 se divide em seis eixos: literatura, artes da cena, artes visuais, música, cinema e moda. Todos oferecem oficinas e debates, além de apresentações artísticas. Inspirada no evento paralelo que já ocorre durante o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), a Mostra Movimentos Urbanos ganhou uma nova edição. Foi um “aperitivo” para as atrações que a partir de amanhã à noite integram a programação oficial.

A abertura será com algo inédito na história do FAN: um desfile de moda. Organizado por Makota Kizandembu, vai mostrar produção afrobrasileira do setor. A partir das 19h, sete marcas especializadas apresentam suas coleções com trilha sonora executada ao vivo pelos violonistas Alisson Salvador e Nat Rodrigues. O cantor Carlos Negreiro também participa, à capela. Além disso ela está à frente de um workshop de turbante.

“Será um encontro de mulheres que estão saindo da invisibilidade e trabalham com a arte de torcer. Vamos contar as histórias de como o turbante chegou, como foi parar na cabeça dos homens”, resume Makota. Aliás, essa invisibilidade feminina é algo que será debatido intensamente. Todos os eixos temáticos vão destacar o papel das mulheres. Reforçam essa vertente o show 'Cantoras', com participação de 12 mulheres e direção de Sérgio Pererê; uma experiência gastronômica comandada por Mametu Mukamba e a instalação 'deumlugarnomundo', com 10 mulheres.

Maurício Tizumba ressalta ainda a expectativa de ver o espetáculo 'Carolina: o luxo do lixo'. A peça, do ator Wilson Rabelo, é baseada no livro 'Quarto de despejo'. É uma homenagem aos 100 anos da autora Carolina Maria de Jesus, “uma escritora negra que foi empregada. Os livros dela estão no mundo inteiro, em vários idiomas”, destaca Tizumba.

Programação

Terça-feira

Funarte MG (Rua Januária, 68, Floresta). Entrada franca. Informações: (31) 3277-4366
• 9h – Laboratório Inno Sorsy e contadores de história.
• 10h– Ciclos de capacitação artística (Lénablou e Luís Ferron)
• 19h – Mostra Brasil Afro-Moda

Praça da Savassi
•  12h – 'Pessoas invisíveis', com Chica Reis, Meibe Ferreira Rodrigues

Centoequatro (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro, ). Entrada franca. Informações: (31) 3222-6457
• 14h – Oficina Estruturas de encadernação contemporânea, com Lúcia Pires Kubitschek
• 17h – Exposição deumlugarnomundo
• 17h – Ojá Mercado de Cultura
• 20h30 – Sessão de cinema: 'Raça'. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).
• 23h – Bar do FAN: Lançamento do CD Djun, com Alcione Alves, Chico Cereno, Fernando Ferreira, Isabela Leite, Marcos Nascimento, Matheus Bahiense, Nara Torres, Pedro Martins e Zal Idrissa Sissoko.

Palco principal do Iphan (Rua Januária, 68, Floresta). Entrada franca. Informações: (31) 3277-4366
• 19h30 – Superfícies Efêmeras
• 20h – DJ Sankofa (Gana) e DJ Rafael Roots e Superfícies Efêmeras
• 21h30 – Roda de sopros com Leonardo Brasilino, Juventino Dias, Guto Ferreira, Alaércio Martins, Leonardo Lana, Jonas Vítor, Bruno de Oliveira, Tiago Ramos, Aldo Silva, Gleisson Queiroz, Roberto Júnior e Isaac Macedo

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