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A mostra, que será aberta ao público nesta quarta-feira, com curadoria do artista José Alberto Nemer, é como um retrato da obra de G.T.O.. Contará com 30 trabalhos, esculpidos em madeira, com dimensões entre 30cm e 260cm, além de uma curiosidade: uma peça rara executada em pedra-sabão. A criação do artista, como bem explica o curador, é espécie de “síntese da miscigenação brasileira, na qual o artista retrata seus antepassados indígenas, misturados a escravos, senhores, reis, soldados e outras figuras. As composições têm, quase sempre, uma simetria ritualística, onde os personagens se embaralham numa ordem de absoluta harmonia. São totens, rodas, capelas, pequenas cenas oníricas e enigmáticas”.
O resultado das esculturas, que tanto impressionam colecionadores, galeristas, críticos e o público, veio de um processo intuitivo. Autodidata, G.T.O. iniciou-se na arte com uma história parecida aos pares de ofício. Certo dia, aos 55 anos, sonhou em construir uma grande igreja. Daí em diante, iniciou a busca pela representação na madeira das referências vindas de sonhos, como um legado divino e uma missão. A trajetória é um pouco mais conturbada. Aos 28 anos, saiu de Divinópolis para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como moldador, funileiro e fundidor. Ao retornar para a cidade mineira, em 1951, conseguiu emprego como vigia noturno no Hospital São José, onde foi internado para tratamento de saúde. Um pároco, então, encomendou-lhe a que seria a primeira escultura, uma imagem para a Igreja do Bom Jesus.
Não demorou para aparecer a forma que o tornou conhecido. O que fazia era recorrer à figura humana – imagem de si mesmo – esquemática e repetida, inserida dentro de símbolos geométricos do círculo ou do quadrado, para conceber esculturas em forma de totens ou mandalas. Vez por outra, subvertia o conceito, lembrando-se da imagem da igreja de seu sonho seminal, para conceber capelas com a mesma iconografia. Também recorria às formas das correntes como metáforas de elos e ainda às figuras humanas. Frequentemente, concebia figuras cuja mão espalmada tocava a outra figura, simbolizando algo como o ciclo da vida. A relação com o divino também o inspirava. “Este aqui é Jesus Cristo trazendo o povo nas barbas”, dizia apontando para iconografia recorrente.
GTO 100 Anos
Exposição em homenagem ao centenário do artista Geraldo Teles de Oliveira (G.T.O.). Abertura nesta terça-feira, às 10h, no Centro de Arte Popular – Cemig (Rua Gonçalves Dias, 1.608, Lourdes). A mostra, com entrada gratuita, pode ser visitada até 29 de dezembro, às terças, quartas e sextas, das 10h às 19h. Quintas, das 12h às 21h. Sábados e domingos, das 12h às 19h. Informações: (31) 3222-3231.
Três perguntas para Mário Teles
Filho de G.T.O.
Qual a lembrança mais forte do seu pai?
Foi de um fato que ocorreu em 1974. Meu pai e eu participamos de uma exposição no Palácio das Artes. Ganhou um prêmio internacional, mas, por motivo de saúde, não o recebeu. Como não foi, adiou-se três vezes a entrega, por oito meses. Daí em diante se tornou um artista conhecido mundialmente, mesmo sem ter estudo, sem ver trabalho de ninguém, sem conhecer nada de arte até os 55 anos. Isso foi em 1965.
Como ele criava suas esculturas?
O pai criava índios, pau de sebo, pirâmide. Depois começou a fazer os homenzinhos cumprimentando o povo. A roda da vida se tornou conhecida no Brasil. À medida que o mundo vai girando o povo vai girando junto. Era uma pessoa humilde, simples e não tinha estudo. O que vinha na cabeça colocava no papel, no papelão, e ia criando. Porque não tinha madeira na hora. Depois é que ia buscar. Dizia que era Deus quem lhe ensinava. Dizia que Deus lhe deu criatividade para conseguir manter o filho.
Por que a obra dele precisa ser lembrada?
Por ser uma pessoa simples e humilde e ter toda a força de vontade de expressar sua arte. Não se pode esquecer um artista como ele. Deixou seu nome na história. A luta agora é para que a Prefeitura de Divinópolis disponibilize um funcionário da Secretaria de Cultura para ajudar a abrir o museu. Ele fica fechado e só abro quando me ligam.