A falta de pesquisa mais apurada sobre o mercado brasileiro de HQ não impede o curador do 8º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ 2013), Afonso Andrade, de constatar o franco desenvolvimento do setor. “Além da produção autoral recente, a autopublicação tem crescido muito, assim como o interesse das grandes editoras e a propagação via internet”, comemora ele.
O 8º FIQ será realizado de 13 a 17 de novembro, na Serraria Souza Pinto, em BH, com entrada franca. O cartunista paulista Laerte Coutinho será o homenageado desta edição, com exposição sobre sua trajetória. Desde que optou pelo crossdressing (vestir-se de mulher), ele vem chamando a atenção, assim como alguns de seus personagens, adeptos da mesma prática.
É o caso da coletânea 'Muchacha', que o cartunista considera seu primeiro graphic-folhetim, e da personagem Muriel.
Afonso Andrade diz que o 8º FIQ vai mostrar a tradição de um gênero que passa de geração para geração. Laerte, por exemplo, tem um filho quadrinista: Rafael Coutinho. Foram programados mostra com 100 personagens icônicos desenhados por artistas da HQ mundial, homenagem ao cartunista Marcelo Lelis (do Estado de Minas), oficinas, mesas, debates e lançamentos.
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Um exemplo desse vigor está nos irmãos Luciana e Vitor Cafaggi, convidados pela Mauricio de Sousa Produções para “reinterpretar” a Turma da Mônica na graphic novel 'Laços'. “Sempre que tinha de fazer algo chato, tipo ir ao médico ou cortar o cabelo, meus pais me compensavam com uma revistinha da Mônica ou do Homem-Aranha, da Disney, Luluzinha... Eu lia tudo”, revela Vitor, filho de um advogado e de uma dentista.
Vitor garante: “Nunca teve tanta gente boa e tanta variedade de estilos. Lu e eu estamos no meio disso tudo, fazemos quadrinhos com a nossa cara”. Ele cita os colegas Paulo Crumbim, Cristina Eiko, Pedro Cobiaco, Dalts, Magenta King, Marcelo e Magno Costa, Eduardo Damasceno e Azeitona. Os jovens mineiros Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho acabam de lançar 'Cosmonauta Cosmo!' (Miguilim). Na web, destaca-se o paulista Ricardo Tokumoto, que mora em BH há alguns anos.
O veterano Laerte Coutinho diz que há muita gente surgindo em zines, livros, blogs e sites. “Se posso falar em nome de uma geração – não deveria poder –, nós fizemos a nossa parte na criação de uma imprensa popular, na tradição de 'Pif-Paf', 'O Pasquim' e de revistas de quadrinhos de humor e de ação. Enfim, participamos de movimentos sociais e ocupamos as bancas com produção que encontrou eco na vida das pessoas”, conclui.
O ‘ESQUENTA’ DO FIQ
>> Galeria GTO do Sesc Palladium
Mostra Entre ideias e rascunhos, com trabalhos dos jovens artistas João Marcos, Eduardo Pansica, Vitor e Luciana Cafaggi e Pedro Cobiaco. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. De terça-feira a domingo, das 9h às 21h. Até 15 dezembro. Informações: (31) 3214-5350.
>> Oi Futuro
Trabalhos de Helder Moreira para a Marvel. Avenida Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras. De terça-feira a domingo, das 11h às 18h.
Até 17 de novembro.
Informações: (31) 3229-3131.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
LAERTE - Cartunista
Até que ponto os quadrinhos têm sido influenciados por ferramentas tecnológicas que atualmente dominam o mundo?
Não diria que essas ferramentas dominam o mundo. Algumas instituições e grupos dominam o mundo e recorrem, entre outras formas de poder, a ferramentas tecnológicas. Mas a linguagem dos quadrinhos está, sim, sintonizada com a época em que vivemos e vem interagindo com as novidades.
Os quadrinhos são mesmo capazes de passar de geração para geração, de pai para filho, tal como ocorreu com você?
Quadrinhos são um forma de expressão, não uma cultura. Sua participação na cultura de um povo passa de geração em geração segundo os mesmos padrões que valem para outras áreas, como literatura, música, cinema. No Brasil, essas transmissões se dão de forma meio irregular, por características de nossa formação. Não acho que dê para analisar uma situação geral com base em experiências familiares. Claro que fico bem contente com o trabalho do Rafael.
Em que as novas gerações diferem da sua?
Principalmente na quantidade de meios de que dispõem para publicar trabalhos. Em compensação, as formas de vínculo de trabalho e remuneração são menos concretas – onde, nos anos 1970, havia terreno profissional a ser conquistado, hoje é preciso inventar formas de realização, criar empreendimentos, fundar movimentos. É bom dizer também que esses procedimentos não excluem a participação de pessoas da minha geração. Quer dizer, não é como se nós, velhinhas, pudéssemos relaxar enquanto a “nova geração” mete mãos à obra.