Autores a caminho de Frankfurt para uma das principais feiras editoriais do mundo

Como país homenageado, Brasil aposta na conquista de novos mercados

por Carlos Herculano Lopes 05/10/2013 00:13

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AFP PHOTO / DANIEL ROLAND
Feira do livro na Alemanha é uma das mais importantes do mundo (foto: AFP PHOTO / DANIEL ROLAND)

A partir de quarta-feira, a cidade de Frankfurt, na Alemanha, estará vestida de verde e amarelo. O motivo é dos mais nobres, com direito de ser comemorado: até dia 13, o Brasil será o país homenageado na famosa feira do livro da cidade, uma das mais importantes do mundo. O evento, além de seu charme, será oportunidade de realização de negócios que envolverão alguns milhões de euros, centenas de editoras, escritores e agentes literários de 111 países confirmados, além de outros segmentos culturais.


O estande brasileiro ocupa 700 metros quadrados e reunirá 170 expositores, enquanto o pavilhão reservado ao país terá 2,5 mil metros quadrados. A participação do Brasil foi organizada pelos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores, Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Nacional de Artes (Funarte) e Câmara Brasileira do Livro (CBL). Os organizadores esperam receber 300 mil visitantes.

Karine Pansa, presidente da CBL, afirma que as expectativas comerciais são excelentes. "O Brasil, até então comprador de direitos autorais, passa a vendê-los no exterior", avalia. Mas não apenas a literatura brasileira, representada por 70 autores de diversos estados, dará tom especial à festa. Para aguçar ainda mais o interesse dos alemães e visitantes de outros países, haverá festivais gastronômicos com a presença de chefs do país, além de shows, exibição de filmes e peças de teatro. A programação começou em 23 de agosto, com apresentação do rapper paulista Criolo. Desde setembro, o projeto Street-art Brazil colore as ruas de Frankfurt. Doze brasileiros apresentam grafites na fachada do Museu Schirn Kunsthalle, de um banco, pontes e quartel de polícia.


A ministra da Cultura, Marta Suplicy, participará da abertura oficial da feira. "Esta é uma extraordinária oportunidade para o Brasil fortalecer sua imagem cultural e literária na Europa", afirma ela. Na solenidade, como representantes dos escritores falarão os romancistas Luiz Ruffato, mineiro de Cataguases, e a carioca Ana Maria Machado, presidente da Academia Brasileira de Letras.

Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, diz que a escolha dos participantes não foi fácil e contemplou, entre outros critérios, autores com obras traduzidas no exterior. "A seleção representa a criação literária brasileira sem qualquer estereótipo, mas destacando o domínio criativo", diz ele.

A presença mineira será representativa em Frankfurt e inclui também nomes ligados às áreas de gastronomia, dança, cinema e música. No dia seguinte à abertura, na companhia de Marina Colasanti, será a vez de a belo-horizontina Angela-Lago dar o seu recado na palestra "Lirismo e ironia". Autora de dezenas de livros dedicados ao público infantojuvenil, ela planeja manter contatos com leitores e educadores alemães. "Espero que os ouvintes gostem da nossa conversa. Vou adorar conhecer bibliotecas e as crianças. Quero ver também o que há de novo na área de e-books e aplicativos para meninos e meninas que estão aprendendo a ler".

Quadrinhos Outro que também viajou para a Alemanha foi o desenhista Marcelo Lélis, ilustrador do Estado de Minas. Sexta-feira, ele participa da mesa "Brasil e sua cena de quadrinhos" ao lado de Fernando Gonzales e Lourenço Mutarelli. Lélis destaca a valorização dos quadrinhos pelos organizadores do evento, lembrando que essa arte, há pouco tempo, sofria forte discriminação por parte dos educadores. "Felizmente, vivemos outro momento. Até mesmo o governo brasileiro tem reconhecido a importância das histórias em quadrinhos como processo de alfabetização e difusão de conteúdos didáticos e literários. A prova está no convite para irmos a Frankfurt", comemora. Na mala de Lélis seguirão também algumas tintas, pincéis e papéis para que ele possa desenhar o país anfitrião.

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
"O governo brasileiro tem reconhecido a importância dos quadrinhos como processo de alfabetização e difusão de conteúdos didáticos e literários. A prova está no convite para irmos a Frankfurt" - Marcelo Lélis (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Para a escritora Maria Esther Maciel, professora de literatura brasileira na UFMG e cronista do EM, participar da Feira de Frankfurt é estimulante "e até um pouco assustador". A romancista e ensaísta diz que o evento alemão pode expandir a literatura brasileira para novos mercados. "O Brasil está num momento bastante favorável aos olhos do mundo, e isso desperta o interesse das pessoas para a nossa cultura. A presença de tantos escritores e artistas na feira mostra que não somos apenas o país do futebol, das praias e do carnaval. Somos tudo isso e muito mais".

Entre outros mineiros que marcarão presença nas discussões da Feira de Frankfurt estão os escritores Adélia Prado, Ziraldo, Ruy Castro, Fernando Morais, José Murilo de Carvalho e Affonso Romano de Sant’Anna. Há muitos anos vivendo no Rio de Janeiro, Affonso participa da mesa-redonda "Sátira canibal" com o poeta brasiliense Nicolas Behr. Também viajam para a Alemanha Nélida Piñon, Carlos Heitor Cony, Paulo Lins, Marçal Aquino, Ronaldo Correia de Brito e João Filho.

SABOR MINEIRO Literatura à parte, Minas estará presente em outras frentes em Frankfurt. O cineasta Helvécio Marins Jr. vai exibir o longa-metragem Girimunho, codirigido por Clarissa Campolina e coprodução com a Alemanha. Marins participará de debate com Peter Schultz, doutor em literatura brasileira. Na área de gastronomia, Maria Coeli Simões Pires vai falar sobre a produção de queijo artesanal no Brasil, sobretudo na região do Serro mineiro, onde nasceu. O chef Eduardo Avelar ministrará palestra sobre a cozinha terroir (expressão criada para classificar pratos típicos microrregionais, de territórios específicos), com suas influências indígenas e de imigrantes. O chef Ivo Faria vai falar sobre a cozinha do cerrado e das tradições culinárias de Minas. A comitiva do estado conta também com os chefs Antonio Basile e Ari Kespers.

Três perguntas para...
Lúcia Riff - agente literária


1 - O que a Feira de Frankfurt pode significar para a literatura brasileira?
Desde que é feito o anúncio do homenageado, como é o caso do Brasil, muitas editoras começam a se mobilizar e a procurar títulos daquele país. Então, há aumento de contratos de autores dos países homenageados. Não se pode perder essa oportunidade. O que se espera não são contratos pontuais, mas o início de um processo. Ou seja: mais e mais contratos no futuro. E mais interesse por nossa literatura por parte da Alemanha e do resto do mundo.

2 - O que a feira representa para os autores?

Todos os convidados estão muito felizes. O saldo será altamente positivo e vamos todos aproveitar muito, mesmo que possamos, aqui ou ali, sofrer um pouco com a exaustão ou as dificuldades naturais de um evento como esse.

3 - Qual é a receptividade à literatura brasileira no exterior?

Não vamos nos iludir, achando que todas as portas estão abertas, porque não é bem assim. Há um interesse, sim, isso é fato. Mas como esse interesse é de parte de poucas editoras e para a publicação de um ou de dois livros por ano, no máximo, nosso caminho até o contrato não é dos mais fáceis. De todo modo, a situação está infinitamente melhor, sobretudo por conta da bolsa de tradução concedida pela Biblioteca Nacional.

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