Personagens de Marvel Comics saem das páginas dos quadrinhos e ganham forma nas mãos do belo-horizontino Hélder Moreira, primeiro brasileiro a esculpir para a famosa editora. Radicado nos Estados Unidos, o escultor traz pela primeira vez a Belo Horizonte as estatuetas produzidas exclusivamente para o selo, em uma exposição que abre nesta sexta-feira, 4, e segue até o dia 17 de novembro, no espaço Oi Futuro. A mostra dá largada ao 8º Festival Internacional de Quadrinhos – FIQ, e a entrada é gratuita.
A exposição apresenta sete modelos produzidos por Hélder para a Marvel: Machine Man, Omega Red, Terrax, Titanium Man, Mangog, Destruidor e Destruidor Thor. Os personagens foram criados em escala 1/7, com as esculturas variando entre 28 e 30 cm de altura, e fazem parte do acervo oficial da editora responsável por títulos como 'Os Vingadores', 'X-Men' e 'Capitão América'.
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Fã de quadrinhos, Hélder esculpe miniaturas desde 1998. Em 2000, ele decidiu levar a vida para os Estados Unidos, na tentativa de firmar seu nome no mercado internacional. “Mudei para os Estados Unidos para esculpir, mas fiz todo tipo de serviço por lá”, explica o artista, que trabalhou como pedreiro e garçom no exterior. “Nas horas vagas, apresentava minhas obras em feiras convenções de quadrinhos como a Comic Con, em San Diego, até um dia atrair os olhos da Marvel”, completa.
Confira as esculturas de Hélder Moreira!
A chance surgiu oito anos depois quando Andy Bowen, presidente da Bowen Designs, descobriu as esculturas de Hélder. “Mostrei o meu trabalho para o Andy em uma convenção. Ele já conhecia alguns trabalhos meus e se interessou pelas obras”, conta. “Hoje sou contratado da Bowen Designs, que é responsável por produzir as miniaturas oficiais da Marvel”.
O artista explica que toda miniatura produzida para a Marvel leva um número de série, selo de autenticidade do estúdio e a assinatura do artista. “Desta forma dá para diferenciar as esculturas oficiais das réplicas. No Brasil ainda são poucas as lojas que vendem as estatuetas oficiais, mas o trabalho tem se difundido aos poucos”, conta.
Criando um modelo
O processo de criação das estatuetas leva de 20 dias a um mês e é completamente artesanal. As miniaturas são esculpidas em chavant ou supresculpey – massas usadas em modelos das indústrias de cinema e games, e o método é o mesmo utilizado pela escultura tradicional.
Assim como nos quadrinhos, a obra nasce como um rascunho em um pedaço de papel. Depois de fazer vários desenhos do modelo e acertar o conceito, o artista põe a mão na massa e esculpe a estatueta. O modelo “cru”, ou seja, sem camadas de tinta, é enviado então para a sede da Marvel, na Califórnia.
Após a aprovação da Marvel, a estatueta ganha três cópias – duas pintadas e uma crua – duas das quais são enviadas para a China, onde são usadas como modelo para produção em massa. “Quando elas são utilizadas para o cinema e games elas também são digitalizadas no computador, nos EUA”, completa Hélder.
Escultura em ascensão
Para Hélder, o reconhecimento crescente dos escultores começa a sair das convenções e ganhar o gosto do público, mas ainda é difícil competir com desenhistas e ilustradores pela fama. Além do tempo maior de produção das obras, o transporte das peças para divulgação é outra dificuldade enfrentada pelos artistas. “Para o desenhista é mais fácil ir a uma convenção, ele coloca o desenho na pasta e vai embora. Já o escultor tem mais trabalho em manusear suas peças, que são tridimensionais”, explica.
Ele acrescenta ainda que o reconhecimento de brasileiros na área tem crescido cada vez mais. “O pessoal está começando a se acostumar com a arte e percebem que tem brasileiro fazendo este trabalho também”.
Orgulhoso de sua nacionalidade, o artista fica feliz com o reconhecimento de seu trabalho no exterior. “É bom mostrar que o Brasil tem mais a oferecer além de samba e mulher pelada”, brinca.
Sucesso em Hollywood
O reconhecimento do talento de Hélder ultrapassou a barreira dos quadrinhos foi parar em Hollywood. Ao ver a escultura do Destruidor criada pelo mineiro, o diretor de 'Thor', Kenneth Brannagh, se encantou pelo trabalho, e o modelo foi usado como inspiração para a versão do filme. “Ele viu a estatueta exposta na sede da Marvel e apaixonou com o modelo”, conta. “Quis fazer uma versão bem próxima dos quadrinhos e como não havia uma versão tridimensional do vilão, eles acharam o conceito bacana e quiseram usar na produção”.
Resultado – a estatueta foi digitalizada e protagonizou uma das principais cenas do filme do herói, estrelado por Chris Hemsworth e Anthony Hopkins em 2011. “Foi muito legal ver o filme e saber que tinha um dedinho meu lá na produção”, comenta o artista.
Inspiração
A paixão de Hélder pelos quadrinhos veio do pai, Carlos Alves Moreira, falecido em outubro de 2012, vítima de câncer. “Voltei para o Brasil ano passado para cuidar dele, e ele sempre apoiou meu trabalho. Esta deve ser a minha última exposição no Brasil, e será dedicada a ele”, diz o mineiro, que está de mudança para o Canadá, onde vai montar um estúdio. “Gosto muito do meu país, mas infelizmente o mercado está lá fora, e eu devo segui-lo”, completa.
A exposição em Belo Horizonte tem um significado especial para o escultor, que é apaixonado pela cidade e por Minas Gerais. “Fico orgulhoso de ter fincado a minha bandeira brasileira lá na Marvel, e orgulho maior ainda de trazer este trabalho para o Brasil e, especialmente, em BH. Mesmo morando fora, sou mineiro mesmo e não nego”, afirma. “Meus amigos brincam comigo que sou tão apaixonado, que um dia vou criar uma escultura em cima de um queijo”, finaliza.
Serviço
Exposição de esculturas de Hélder Moreira para a editora Marvel
Local: Espaço Oi Futuro, Avenida Afonso Pena 4001, térreo
Data: de 4 de outubro a 17 de novembro
Abertura: 4 de outubro, às 19h, com bate-papo com o artista.
Visitação: de Terça a domingo, de 11h às 18h. A entrada é gratuita.
8º Festival Internacional de Quadrinhos - FIQ
De 13 a 17 de novembro, na Serraria Souza Pinto. A entrada é gratuita. Informações e programação no www.fiqbh.com.br