Se há uma experiência da qual nenhum ser humano escapa é a de ser filho de alguém. Muito por isso, será inevitável se identificar com pelo menos uma das 10 situações propostas em 'Esta criança', espetáculo que a Cia. Brasileira de Teatro, dirigida por Márcio Abreu, traz a Belo Horizonte este fim de semana. Novidade em relação a montagens anteriores – caso de 'Vida' (2010), 'Oxigênio' (2010) e 'Isso te interessa?' (2011) – é a presença de Renata Sorrah no elenco.
saiba mais
É com detalhes que ela conta como foi o encontro com a trupe paranaense. “Começou no Rio, no Teatro Tom Jobim. Fui ver 'Vida'. Saí de lá arrebatada e com o sonho de trabalhar com eles”, recorda-se. Não precisou muito esforço – nem mesmo tempo – para transformar o desejo em realidade. “Eles têm uma maneira de ver o mundo, o teatro, que é muito especial. Isso me encantou”, diz Renata. Logo começaram as trocas de mensagens, de referências e, claro, as identificações apareceram.
'Esta criança' é prova não só de que o encontro foi possível, como também que ele é poderoso. Há cerca de um ano, as histórias sobre pais e filhos escritas pelo francês Joël Pommerat conquistam plateias pelo Brasil. A montagem recebeu cinco indicações ao Prêmio Shell, além de outras quatro ao APTR. Não é difícil imaginar o porquê desse êxito.
Primeiro, o espetáculo trata de tema que, de uma forma ou outra, estará próximo de você. Depois, porque dá continuidade à pesquisa de Márcio Abreu e de seus companheiros de grupo sobre a construção da presença do ator em cena. Em terceiro lugar porque Renata Sorrah se entregou ao projeto como se trabalhassem juntos há muito tempo.
“Ela é uma mulher de teatro, uma pesquisadora, tem uma disponibilidade rara. O conjunto desses fatores nos colocou em diálogo muito rápido. Não precisou de tempo para adaptação, já entendemos os respectivos códigos e formamos uma família”, comenta o diretor. Além de Renata, estão em cena Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson Rocha. Eles se revezam nos papéis de pais e filhos.
Há tempos o que tem despertado o interesse de Márcio Abreu é levar o que for essencial para a cena. Sendo assim, em Esta criança ele põe em prática exercício conferir o mesmo peso a cada um dos elementos: luz, cenário, texto, atuação. Não se trata de uma trama com clímax ou grandes curvas dramáticas. A atenção – e cumplicidade do espectador – são conquistadas a partir da forma como o ator se coloca.
Joël Pommerat é considerado um dos principais nomes da dramaturgia contemporânea francesa. Renata Sorrah conheceu a obra dele por indicação de Ariane Mnouchkine, fundadora do Théâtre du Soleil. A escrita direta e sem psicologismos de Pommerat é o que chama a atenção da atriz.
“São encontros de família. Situações entre pais e filhos, sobre o nascimento, o medo de repetir os pais, e o que os pais querem dos filhos. Toca de tal maneira e é tão bonito porque lança luz sobre as relações humanas”, elogia Renata Sorrah. “É muito sutil, simples. As construções são para criar pontes com as pessoas que estão ali. Não tem muito mistério”, completa o diretor.
VEM AÍ
Depois de mergulhar na dramaturgia francesa, Cia. Brasileira e Renata Sorrah se dedicarão à uma peça da safra contemporânea de Israel. Será a montagem de Krum, de Hanoch Levin. “Será um elenco grande. O texto é lindo”, adianta a atriz.
Esta Criança
Data: Sexta, 4 e sábado, 5 às 21h; domingo, às 19h.
Local: Teatro Bradesco. Rua da Bahia 2.244, Lourdes,
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).
Informações: (31) 3516-1027.