Símbolos da extensa produção de Cândido Portinari, os murais que formam 'Guerra e Paz' pontuam, ao mesmo tempo, o ápice de sua obra e o início de seu declínio físico. “Os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que eu já fiz. Dedico-os à humanidade", declarou o pintor sobre a encomenda do Governo Brasileiro, entregue como presente à Organização das Nações Unidas.
Fotos e vídeo divulgados pelo Projeto Portinari, organização responsável pela curadoria dos murais pertencentes à ONU, oferecem um olhar inédito aos bastidores desta criação, que consagrou o brasileiro aos olhos do mundo pouco antes de sua morte precoce, aos 58 anos, em 1962.
Veja fotos de Portinari pintando 'Guerra e Paz'
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Aos 51, Portinari descobria-se vítima de um elemento essencial na composição das tintas com que trabalhava, tão tóxico quanto sua obstinação em completar a criação dupla. Após encerrar Guerra e Paz, em 1957, explorou novas possibilidades de trabalho, entre elas uma série de desenhos em caneta tinteiro que deixou como legado derradeiro perto da morte.
Em 1949, ainda antes de receber o pedido ofical do Governo, Portinari já escrevia sobre a necessidade de um esforço coletivo pela paz no mundo. Impedido de entrar nos Estados Unidos à ocasião da inauguração, teve suas palavras reproduzidas na sede do órgão global que abrigaria sua obra mais simbólica.
"A luta pela Paz é uma decisiva e urgente tarefa. É uma campanha de esclarecimento e de alerta que exige determinação e coragem", alertava o pintor. "Devemos organizar a luta pela Paz, ampliar cada vez mais a nossa frente anti-guerreira, trazendo para ela todos os homens de boa vontade, sem distinção de crenças ou de raças, para assim unidos, os povos do mundo inteiro, não somente com palavras mas com ações, levar até a vitória final a grande causa da Paz, da Cultura, do Progresso e da Fraternidade entre os povos", apelava Cândido Portinari há mais de seis décadas.
Assista vídeo de Portinari durante criação de 'Guerra e Paz':
'Guerra e Paz' em Belo Horizonte
Obras que fazem parte da fase derradeira na produção de Cândido Portinari, os murais Guerra e Paz foram instalados no Cine Brasil, Centro de Belo Horizonte, no começo desta semana. Entregues pelo Brasil à Organização das Nações Unidas em 1957, o conjunto foi instalado em uma áre restrita da sede oficial, em Nova York.
Por muito tempo, a preocupação de autoridades norte-americanas quanto às implicações do pintor com o movimento comunista fizeram com que os quadros ficassem assim ocultos, sem receber atenção em visitas guiadas, com autoria omitida dos vislumbres de turistas. Longe do olhar público, as pinturas foram mantidas acessíveis somente aos diplomatas que chegavam à Assembleia Geral da ONU.
Contudo, uma reforma no edifício levou à criação de uma turnê das obras, iniciada em 2010 com exposições que passaram por São Paulo e Fortaleza, culminando na chegada à capital mineira. A partir de Belo Horizonte, Guerra e Paz entram em itinerância internacional, com passagem prevista pelo Grand Palais, de Paris, no início de 2014, até o retorno à Sede da ONU nos EUA.