Fruto de parceria de mais de 20 anos com a Fundação Pontedera de Teatro, da Itália, onde tem como orientador e mestre Roberto Bacci, a Trilogia Pirandello que Cacá Carvalho traz a Belo Horizonte é, segundo o ator, muito mais do que sugere o conjunto de três obras do autor italiano, considerado o pai do chamado teatro do absurdo.
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Adaptada da novela homônima do autor, 'O homem com a flor na boca' foi originalmente escrita para dois atores, mas a dramaturgia de Stefano Geraci transformou o segundo personagem/ouvinte no espectador. Em cena, um homem comum, a bordo de um trem, com uma necessidade incontrolável de falar a todo momento, para tudo e para todos, os detalhes que ele percebe da vida.
Já em 'Poltrona escura', no qual Cacá interpreta três contos de Pirandello (“Os pés na grama,” “O carrinho de mão” e “O sopro,” do livro Berecche), mostra como é inquietante o olhar divertido, lúcido e cruel do autor sobre a condição humana. Finalmente, em Umnenhumcemmil, que Cacá estreou nacionalmente na edição do ano passado do FIT – Palco & Rua, de Belo Horizonte, o personagem Vitangelo Moscarda decide fazer um autoexperimento que consiste, única e exclusivamente, na destruição da própria imagem social.
O mergulho do ator brasileiro no universo pirandeliano, como faz questão de dizer Cacá, ultrapassa o do autor conhecido no Brasil por espetáculos como 'Seis personagens à procura de um autor' e 'Esta noite se improvisa'. Além da oportunidade de trabalhar na terra de Pirandello, o ator brasileiro teve o privilégio de conhecer pessoalmente Alessandro D’Amico, herdeiro dos direitos autorais do dramaturgo, que o assistiu em Roma encenando 'O homem com a flor na boca'.
Máscaras
Na oportunidade, D’Amico sugeriu 10 novelas, entre as quais Cacá escolheu as três, de humor negro e cáusticas, que deram origem ao espetáculo 'A poltrona escura', que ele teve a chance de apresentar, inclusive, na casa em que viveu o autor, em Roma. No camarim, instalado onde era o quarto de Luigi Pirandello, Alessandro D’Amico advertiu que era chegada a hora de Cacá Carvalho entrar em outro universo do autor, ao levar para o palco a adaptação do último romance de Pirandello, o mais difícil deles, que ele teria levado 11 anos para concluir. Daí nasceu a montagem de 'Umnenhumcemmil', com a qual Cacá Carvalho conclui a trilogia.
Para o ator, ao memorizar um texto, à medida que vai refletindo sobre o mesmo ele vai se tornando corpo, fé e memória. “É uma reflexão que eu me faço toda vez que me pego falando o texto: afinal, para quantas pessoas já falei isto? É preciso não ser repetitivo, mas fiel àquilo que o autor criou há tantos anos”, avalia Cacá. Até a trilogia ele nunca havia feito um texto de Pirandello.
De acordo com o ator, a verdadeira fonte do teatro pirandeliano são as novelas. “O gigante da montanha', que o Galpão acaba de montar, por exemplo, vem de uma novela”, diz Cacá, que, coincidentemente, havia dirigido o grupo mineiro em Partido, inspirada em Ítalo Calvino. “Pirandello é um desses homens que fazem uma radiografia da condição humana, com todas as suas fraquezas e grandezas”, afirma o ator, lembrando que, nas novelas, às vezes, o autor italiano faz isso de forma contundente e direta, embora nos textos teatrais ele tenha optado pela forma alegórica. “O objeto central do trabalho dele é o homem. Nada além disto”, conclui, lembrando que o autor italiano questiona, sobretudo, a identidade humana, quantas máscaras inventamos para sobreviver.
TRILOGIA PIRANDELLO – CACÁ CARVALHO
'O homem com a flor na boca', hoje, às 20h; 'Poltrona escura', amanhã, às 21h; 'Umnenhumcemmil', sábado, às 21h. Teatro Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
O movimento
Na capital mineira, Cacá Carvalho aproveitará a oportunidade para fechar a programação do projeto Off Cena, do qual é convidado, com oficina sobre o que vem a ser uma ação. “Será sobre o princípio do movimento”, antecipa. O evento (inscrições estão encerradas) será realizado amanhã e sábado, no Espaço Multiuso do Sesc Palladium.