A capa da edição do Jornal Estado de Minas desta sexta-feira, 20, inspirada na arte gráfica de Maurits Cornelis Escher (1898-1972), conseguiu reproduzir sensação parecida à de estar diante das obras do mestre holandês dos paradoxos e da ilusão de ótica. A repercussão nas redes sociais, entre leitores e especialistas foi intensa ao longo do dia.
Veja fotos da exposição 'A magia de Escher'
A curiosidade maior foi saber como se produziu esta página, idealizada para valorizar e chamar a atenção para a exposição que, até o dia 17 de novembro, ocupa as principais galerias do Palácio das Artes, com 85 obras, entre gravuras originais, desenhos e fac-símiles, pertencentes à coleção da Fundação Escher, na Holanda.
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O próximo passo foi compreender e aplicar esta modulação para reconstruir a ideia do fluxo contínuo que aparece na capa. “A intenção foi chegar ao efeito do infinito”, explica. Recurso este bastante explorado por Escher, em litografias como Cascata, de 1961. Ela é assim descrita pelo artista: “A água de uma cascata que move a pedra do moleiro corre em suave zigue-zague por uma calha montada entre as torres até formar a cascata e cair novamente.”
Como a primeira página do jornal reproduz as manchetes dos cadernos, foi necessário aguardar a produção de todo o jornal, para, só depois, finalizar a capa. Por isso, somente a segunda edição do Estado de Minas ganhou o recurso gráfico que tanto chamou a atenção dos leitores. Álvaro Duarte, editor de arte do jornal, explica que a ideia surgiu pela grandiosidade de Escher e da exposição. “A tendência é criar algo novo para o leitor. Ousar, sempre que possível, tanto editorial quanto graficamente. Tentamos criar um fluxo de produção do jornal que não se sabe de onde começa nem termina. Desenvolvida pelo ilustrador Quinho, a arte reproduz páginas que se dissolvem em letras formando textos que, por sua vez, dão origem às páginas”, explica.
O efeito instigou leitores e especialistas. O designer paulista Felipe Galindo, que está em Minas a trabalho, achou o recurso, sobretudo para os que conhecem a produção de Escher, capaz de ressaltar a exposição. O psiquiatra Augusto Nunes Filho é outro que se surpreendeu ao receber o jornal em casa. “Criaram um procedimento gráfico completamente baseado em Escher. A base do trabalho é a Fita de Moebis, elemento gráfico que não se sabe o começo nem fim, o símbolo do infinito, que também aparece na última página do Grande sertão veredas. Ficou muito bonita.” Segundo ele, que conferiu a mesma mostra enquanto esteve em São Paulo, a capa conseguiu reproduzir a sensação de estar diante da obra do mestre. “Ficou intrigante”, sintetiza.
O curador da exposição, Pieter Tjabbes, holandês radicado no Brasil, achou a ideia “genial”. “Conseguiu linkar uma expressão artística e uma brincadeira da perspectiva às chamadas das reportagens sobre um ciclo político que parece não ter fim após o julgamento do mensalão. Achei interessante a simbologia. Não quero julgar os políticos antes do final do julgamento, mas todo processo leva a crer que a água política continuará correndo pelos mesmos canais e deverá voltar à origem”, compara.
A magia de Escher
Até 17 de novembro, nas galerias Alberto da Veiga Guignard, Arlinda Corrêa Lima e Genesco Murta do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De terça a sábado, de 9h30 às 21h; domingo e feriados, 16h às 21h. Entrada gratuita. Classificação livre. Informações: (31) 3236-7363.