Quando a Mundana Companhia (SP) esteve no Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de BH (FIT-BH) no ano passado, apresentando 'O idiota – Uma novela teatral', de Fiódor Dostoiévski, provocou um estardalhaço e lotou todas as apresentações, mesmo a peça tendo sete horas de duração. Quase um ano depois, o grupo retorna a Belo Horizonte, no mesmo Espaço Centro e Quatro, e novamente com texto de autor russo. Mas desta vez a produção terá um tempo menor – três horas e 20 minutos, com direito a intervalo – mas promete fazer o mesmo sucesso na cidade. A estreia é nesta quinta-feira e o espetáculo fica em cartaz até segunda-feira.
'O duelo', inspirado em novela de Anton Tchekhóv, aborda a desavença entre duas ideologias em meio à suposta divisão entre civilização e barbárie. Ou seja, o conflito entre duplos díspares, mas complementares. Rússia versus Cáucaso; humanismo versus determinismo. A história, inquietante e surpreendente, ocorre sob o calor quase alucinógeno do litoral do lendário Mar Negro.
Produzida pelos atores Aury Porto e Camila Pitanga – que mergulhou de cabeça no projeto –, a montagem traz ainda nomes como o de Pascoal da Conceição, Sergio Siviero, Carol Badra, Vanderlei Bernardino, Guilherme Cazavara, Fredy Allan e Otávio Ortega. A direção é de Georgette Fadel.
Boa parte do processo de preparação do elenco se deu fora da capital paulista, sede da trupe. Depois de um período em São Paulo, quando a Mundana realizou palestras abertas ao público, os atores seguiram para o sertão do Ceará, onde moraram durante seis semanas, realizando ensaios e oficinas com a participação dos moradores de cidades da região.
“Fomos ao interior do Brasil para ensaiar porque estávamos procurando um lugar com um cenário humano e antropológico parecido com a novela de Tchekhóv. Na história, todos os personagens são russos e moram no Cáucaso, e a gente quis experimentar isso também. Atores do Rio e de São Paulo se deslocaram para o sertão, um lugar estranho a eles, que foi o nosso Cáucaso, uma região periférica do ponto de vista capitalista. Tudo ajudou a compor o espetáculo”, acredita Aury Porto.
Experimental
Além de servir como residência temporária e ser palco de debates e discussões, o Nordeste acabou sendo o lugar da estreia de 'O duelo', que passou por Fortaleza, Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e João Pessoa. No mês passado, a Mundana começou a seguir para o Centro-Sul do país. Depois de Brasília, a montagem chega a Minas. Em outubro, será a vez de São Paulo. “O público brasileiro ainda não conhece o teatro. A plateia que costuma frequentar peças está cada vez mais escassa e viciada. E quando a gente apresenta um teatro mais experimental, mais sangue no olho, um trabalho mais apaixonado e coletivo, oferecemos uma qualidade que não é muito comum. Esse teatro vigoroso é para quem não conhece teatro”, ressalta Aury.
Se em 'O idiota' os espectadores se deslocavam por vários ambientes junto com os artistas, em 'O duelo' o público fica sentado nas arquibancadas, que fazem parte da encenação. “As pessoas sentem como se estivessem dentro da peça. E o interessante é que muita gente comenta que mesmo com mais de três horas de espetáculo elas nem sentem o tempo passar. Isso é bacana”, acrescenta o ator.
Camila Pitanga, que se impressionou com o trabalho do grupo, participou de todo o processo de criação e ensaios e se integrou inteiramente à companhia. Ela confessa que nunca tinha passado por uma experiência profissional como essa. “Com relação ao processo de pesquisa, já tinha vivenciado algo semelhante, mas essa coisa da vida cigana, esse desafio que envolveu uma curva dramática muito grande, foi novidade. Foi algo bem vertiginoso”, reconhece a atriz.
O duelo
Local: Espaço Cento e Quatro
Endereço: Praça Ruy Barbosa, 104, Centro
Apresentações quinta-feira, sexta-feira, domingo e segunda-feira, às 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 12 anos
No sábado não haverá espetáculo devido à Virada Cultural
Informações: (31) 3213-2015.
Troca de experiências
Segunda-feira, os atores da Mundana têm compromisso com a classe teatral de BH. “Queria realizar um encontro com o pessoal daí, para conversar sobre o teatro de Minas e do Brasil,” propõs o ator Pascoal da Conceição a um grupo de amigos no Facebook. Foi o que bastou para o momento dedicado à troca de experiências ser marcado. Será no Espaço Cento e Quatro, às 15h, aberto a quem quiser ouvir e contar um pouco sobre a vida no palco. A entrada é franca.
Três perguntas para...
Camila Pitanga
Atriz
Por que você quis embarcar nessa vida mundana, no bom sentido? O que a cativou no projeto?
Assisti a 'O idiota' duas vezes e adorei o espetáculo. E tenho amigos em comum com o Aury. Acabei me aproximando do grupo e a proposta de pesquisa deles me interessou muito, ou seja, essa forma de experimentar, de ousar. E o Aury ficou tocado com o meu interesse. Quando ele me trouxe 'O duelo', amei não só o texto, mas tudo o que ele propunha. O processo de ensaio no interior do Ceará, as oficinas. E vamos ficar nessa vida mundana por um bom tempo (risos). Depois de BH, seguimos para São Paulo e, em fevereiro, é a vez do Rio.
Como foi a experiência de morar seis semanas no sertão cearense?
Essa coisa de todo o elenco ficar junto durante todo esse tempo foi muito importante. Ficamos mais unidos, compartilhamos muita coisa. Moramos em casas de famílias da região e percorremos três cidades, onde promovemos debates e oficinas. Tivemos uma imersão muito interessante, trabalhando no projeto de pesquisa, dando aula e oferecendo oficinas. A cada semana tinha que apresentar uma etapa do processo para aquela comunidade. Tinha ensaio aberto e debatíamos sobre a atualidade.
O que isso trouxe de respostas para vocês?
A gente chegou a morar em cidades que nem teatro tinham, mas com um repertório de cultura muito forte na música, no folclore. A troca de experiências foi fantástica, porque ao mesmo tempo em que a gente dava aulas e oficinas, a população local nos dava um retorno e falava o que estava faltando na cidade, o que queria com relação à cultura. A gente rodou bastante, movimentou e provocou mudanças por lá. Um dos lugares chegou a criar um grupo teatral devido à nossa presença. Em outro, foi prometida a construção de um teatro. Isso foi extraordinário. Sem dúvida, é uma experiência que me enriqueceu não só como atriz, mas como ser humano.
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Produzida pelos atores Aury Porto e Camila Pitanga – que mergulhou de cabeça no projeto –, a montagem traz ainda nomes como o de Pascoal da Conceição, Sergio Siviero, Carol Badra, Vanderlei Bernardino, Guilherme Cazavara, Fredy Allan e Otávio Ortega. A direção é de Georgette Fadel.
Boa parte do processo de preparação do elenco se deu fora da capital paulista, sede da trupe. Depois de um período em São Paulo, quando a Mundana realizou palestras abertas ao público, os atores seguiram para o sertão do Ceará, onde moraram durante seis semanas, realizando ensaios e oficinas com a participação dos moradores de cidades da região.
“Fomos ao interior do Brasil para ensaiar porque estávamos procurando um lugar com um cenário humano e antropológico parecido com a novela de Tchekhóv. Na história, todos os personagens são russos e moram no Cáucaso, e a gente quis experimentar isso também. Atores do Rio e de São Paulo se deslocaram para o sertão, um lugar estranho a eles, que foi o nosso Cáucaso, uma região periférica do ponto de vista capitalista. Tudo ajudou a compor o espetáculo”, acredita Aury Porto.
Experimental
Além de servir como residência temporária e ser palco de debates e discussões, o Nordeste acabou sendo o lugar da estreia de 'O duelo', que passou por Fortaleza, Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e João Pessoa. No mês passado, a Mundana começou a seguir para o Centro-Sul do país. Depois de Brasília, a montagem chega a Minas. Em outubro, será a vez de São Paulo. “O público brasileiro ainda não conhece o teatro. A plateia que costuma frequentar peças está cada vez mais escassa e viciada. E quando a gente apresenta um teatro mais experimental, mais sangue no olho, um trabalho mais apaixonado e coletivo, oferecemos uma qualidade que não é muito comum. Esse teatro vigoroso é para quem não conhece teatro”, ressalta Aury.
Se em 'O idiota' os espectadores se deslocavam por vários ambientes junto com os artistas, em 'O duelo' o público fica sentado nas arquibancadas, que fazem parte da encenação. “As pessoas sentem como se estivessem dentro da peça. E o interessante é que muita gente comenta que mesmo com mais de três horas de espetáculo elas nem sentem o tempo passar. Isso é bacana”, acrescenta o ator.
Camila Pitanga, que se impressionou com o trabalho do grupo, participou de todo o processo de criação e ensaios e se integrou inteiramente à companhia. Ela confessa que nunca tinha passado por uma experiência profissional como essa. “Com relação ao processo de pesquisa, já tinha vivenciado algo semelhante, mas essa coisa da vida cigana, esse desafio que envolveu uma curva dramática muito grande, foi novidade. Foi algo bem vertiginoso”, reconhece a atriz.
O duelo
Local: Espaço Cento e Quatro
Endereço: Praça Ruy Barbosa, 104, Centro
Apresentações quinta-feira, sexta-feira, domingo e segunda-feira, às 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 12 anos
No sábado não haverá espetáculo devido à Virada Cultural
Informações: (31) 3213-2015.
Troca de experiências
Segunda-feira, os atores da Mundana têm compromisso com a classe teatral de BH. “Queria realizar um encontro com o pessoal daí, para conversar sobre o teatro de Minas e do Brasil,” propõs o ator Pascoal da Conceição a um grupo de amigos no Facebook. Foi o que bastou para o momento dedicado à troca de experiências ser marcado. Será no Espaço Cento e Quatro, às 15h, aberto a quem quiser ouvir e contar um pouco sobre a vida no palco. A entrada é franca.
Três perguntas para...
Camila Pitanga
Atriz
Por que você quis embarcar nessa vida mundana, no bom sentido? O que a cativou no projeto?
Assisti a 'O idiota' duas vezes e adorei o espetáculo. E tenho amigos em comum com o Aury. Acabei me aproximando do grupo e a proposta de pesquisa deles me interessou muito, ou seja, essa forma de experimentar, de ousar. E o Aury ficou tocado com o meu interesse. Quando ele me trouxe 'O duelo', amei não só o texto, mas tudo o que ele propunha. O processo de ensaio no interior do Ceará, as oficinas. E vamos ficar nessa vida mundana por um bom tempo (risos). Depois de BH, seguimos para São Paulo e, em fevereiro, é a vez do Rio.
Como foi a experiência de morar seis semanas no sertão cearense?
Essa coisa de todo o elenco ficar junto durante todo esse tempo foi muito importante. Ficamos mais unidos, compartilhamos muita coisa. Moramos em casas de famílias da região e percorremos três cidades, onde promovemos debates e oficinas. Tivemos uma imersão muito interessante, trabalhando no projeto de pesquisa, dando aula e oferecendo oficinas. A cada semana tinha que apresentar uma etapa do processo para aquela comunidade. Tinha ensaio aberto e debatíamos sobre a atualidade.
O que isso trouxe de respostas para vocês?
A gente chegou a morar em cidades que nem teatro tinham, mas com um repertório de cultura muito forte na música, no folclore. A troca de experiências foi fantástica, porque ao mesmo tempo em que a gente dava aulas e oficinas, a população local nos dava um retorno e falava o que estava faltando na cidade, o que queria com relação à cultura. A gente rodou bastante, movimentou e provocou mudanças por lá. Um dos lugares chegou a criar um grupo teatral devido à nossa presença. Em outro, foi prometida a construção de um teatro. Isso foi extraordinário. Sem dúvida, é uma experiência que me enriqueceu não só como atriz, mas como ser humano.