Grupo Corpo apresenta novo espetáculo, 'Triz', que estreia no Palácio das Artes no fim do mês

Coreografia foi criada por Rodrigo Pederneiras a partir do mito da espada de Dâmocles

por Ana Clara Brant 10/08/2013 10:28

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Depois de muitos anos, companhia mineira vai lançar turnê na terra natal (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Não havia cenário, figurino nem iluminação. Mas, só com a trilha sonora de Lenine (belíssima, por sinal) e a coreografia intensa de Rodrigo Pederneiras, o Grupo Corpo estava lá. A prestigiada companhia de dança mineira deu uma prévia, nesta sexta-feira, na sede do grupo na Avenida Bandeirantes, no Mangabeiras, do que será o seu novo espetáculo, 'Triz', que tem estreia nacional e mundial no Palácio das Artes, em 30 de agosto. Já há um bom tempo eles não iniciavam a temporada pela cidade natal. “É bacana estrear em casa, com os amigos e a família. Nem me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu”, comentou Paulo Pederneiras, responsável pela cenografia e a iluminação.

Veja mais fotos do ensaio de 'Triz', do Grupo Corpo


Pegando como mote a história mitológica da espada de Dâmocles, suspensa por um tênue fio de crina de cavalo, Rodrigo criou a produção no limite, inclusive, de sua capacidade física. Quando começou a desenvolver o balé, o coreógrafo se recuperava de uma cirurgia de rompimento do menisco do joelho esquerdo e, com a perna imobilizada, teve dificuldades de demonstrar com o próprio corpo os movimentos que queria transmitir. “O início do processo foi complicado. Esse limite da urgência, essa impaciência comigo mesmo. Quando eu comecei, mal andava. Se não fossem os bailarinos, eu não teria terminado. Eles me ajudaram muito, vocês nem podem imaginar. Ajudaram a criar, e um criava em cima do que o outro fazia. Sem dúvida, eles são os melhores bailarinos do mundo”, frisou.

METÁFORA
Rodrigo revela que esse medo de não conseguir realizar o que pretendia fez com que ultrapassasse certos limites e, por isso, esse aspecto do por um triz e por um fio estão presentes em tudo. Não só na coreografia, mas na trilha, nos figurinos — a cargo mais uma vez de Freusa Zeichmester — e no cenário, como lembra Paulo Pederneiras. Com 15 quilômetros de cabo de aço, o cenógrafo ergueu uma arquitetura cênica que alude à presença soberana dos instrumentos de cordas da trilha, ao mesmo tempo em que se impõe como poderosa metáfora das limitações impostas à equipe de criação e aos intérpretes do Grupo Corpo na construção de Triz. “Vamos ter também no palco esse limite do que é espetáculo e o que é ensaio. A iluminação vai focar nisso e quem está no bastidor é que na verdade está recebendo a luz”, adianta Paulo.

Depois de estrear em BH e passar pelo Rio de Janeiro, o Grupo Corpo faz uma pausa em território brasileiro e segue para o Sudeste asiático e o Leste europeu, com programas diferenciados. Em Bangcoc (6 de outubro) e Cingapura (11 e 12 de outubro), apresentam Sem mim e Onqotô e, em Moscou (16, 17 e 18 de outubro), Sem mim e Parabelo “Os próprios bailarinos comentaram que este é o balé mais difícil que eles já dançaram na vida. Ainda temos alguns ajustes a fazer até o dia 30, mas o básico é isso aí. Estamos ansiosos”, resumiu Rodrigo Pederneiras.

Serviço: A turnê começa no Palácio das Artes, na capital, em 30 e 31 de agosto e 1 e 3 de setembro. Na sexta, sábado e domingo às 20h30 e, no domingo, às 19h. Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Informações: (31) 3263-7400 e www.fcs.mg.gov.br. Os ingressos começam a ser vendidos na terça, dia 13/8. Outros dias no Brasil: 7 a 10 de setembro no Rio de Janeiro (Theatro Municipal) e 20 a 24 e 26 a 29 de novembro em São Paulo (Teatro Alfa).

A tarefa de Lenine

As trilhas sonoras dos balés do Corpo sempre são um capítulo à parte. E com Triz não poderia ser diferente. Pela segunda vez, coube ao músico pernambucano Lenine essa importante tarefa (a primeira foi com Breu, em 2007). Concebida como uma única peça de 10 movimentos, a trilha foi construída apenas com instrumentos de corda como berimbau, balalaica, violino, violão, cítara, rabeca e bandolim. Além de Lenine, a produção musical é assinada por seu filho, Bruno Giorgi, que também atua como músico em diversas faixas, e contou com a participação do violonista francês Nicolas Krassik, do Quinteto da Paraíba, formado por Yerko Tabilo e André Araújo (violinos), Ronedilke Dantas (viola), Caio Diniz (violoncelo) e Xisto Medeiras (contrabaixo), registradas in loco, o estúdio Peixe Boi, em Campina Grande. A trilha tem, inclusive, sons das vozes, da respiração e até dos pés dos bailarinos.

“Lenine se tornou quase um irmão. É uma grandeza rara em todos os sentidos, seja como pessoa e como artista. Triz e Breu têm trilhas completamente distintas. Acho que na de estreia, ele se sentiu mais fora do eixo, porque tinha uma liberdade para fazer o que quiser. E isso, curiosamente, não é fácil. Breu é mais chão, impacto, e ele usou muito frevo. Já em Triz, tem leveza e impacto, leveza e impacto, o tempo todo. Como só utiliza cordas, tirando a nota única do piano no final, ele chega até a ser um pouco clássico. Mas ficou maravilhoso”, pontua Pederneiras.


SAIBA MAIS: espada e fortuna
A inspiração de Triz é o mito de Dâmocles, cortesão bastante bajulador na corte do tirano Dionísio, de Siracusa. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda essa sorte, sendo servido em ouro e prata, atendido por belas mulheres e servido com as melhores comidas. No meio de todo o luxo, Dionísio ordenou que uma espada fosse pendurada sobre o pescoço de Dâmocles, presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Ao ver a espada afiada suspensa diretamente sobre sua cabeça, Dâmocles perdeu o interesse pela excelente comida e pelas mulheres e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado. A espada de Dâmocles é uma alusão frequentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade desse poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente.

Assista a um trecho do ensaio:


 

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