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Menos mal. “Chamaram o negão aqui!”, conta Danilo, que há um ano tem a difícil missão de dar voz ao dono das cordas vocais mais potentes da MPB. Há 15 anos, o Brasil tem saudades de Tim Maia. Prova disso é a repercussão do musical em sua homenagem, que estreou em 2011 e bateu a marca de 360 mil espectadores.
Escrito por Nelson Motta, autor da biografia 'Vale tudo – O som e a fúria de Tim Maia', e dirigido por João Fonseca, o espetáculo volta ao Palácio das Artes para curta temporada de quinta a sábado.
Artista com personalidade forte, timbre peculiar e compositor de clássicos, Tim Maia obrigou Danilo a passar por verdadeira metamorfose – física e psíquica. Inicialmente, o ator, de 30 anos, assistiu aos últimos espetáculos com Tiago Abravanel. Àquela altura, não poderia fazer algo diferente do primeiro protagonista.
Danilo chegou até a mudar o timbre de sua voz. “Foi a parte mais difícil. Adquiri um grave que não é meu à custa de aulas e mais aulas. Até hoje faço essas lições. É ginástica: estiquei os músculos para deixá-los firmes, o que me permite cantar daquele jeito.”
Emocionalmente, mudou tudo também. “Tim Maia tinha este grande trunfo: sempre mandava na situação. Era o dono da verdade, não havia quem o convencesse do contrário. Para ser assim, você tem de ser folgado. É o personagem”, resume.
O ator pesa 120kg e mede 1,75m. Para “ganhar” e “perder” peso recorre a truques – e a muita técnica. “É postura corporal: pareço mais magro por causa do jeito como fico em pé e por causa do figurino. ‘Engordo’ porque recorro à respiração mais ofegante, com andar lento e também ajudado pela roupa. A fase mais decadente do Tim me exige imenso esforço. Fico morto”, revela ele.
A maratona é pesada. No Rio de Janeiro, o espetáculo tinha duas sessões aos sábados. “Chego às 15h30 e saio à 1h do teatro. Vou dormir às 3h. Minha vida tem sido assim”, resume.
Motown O espetáculo aposta na música preta brasileira, como Tim Maia gostava de chamar a sua MPB particular. Influenciado pelo som da Motown – que projetou artistas negros como Stevie Wonder, Marvin Gaye e o grupo Jackson Five, de Michael Jackson –, o cantor e compositor carioca se tornou o soul man nacional. A trilha sonora traz clássicos de sua carreira, como 'Primavera', 'Eu amo você', 'Chocolate', 'Azul da cor do mar' e o “hino” 'Vale tudo'.
À frente de 10 atores que interpretam 25 hits, Danilo agradece ao “Síndico”. Afinal de contas, ele garantiu seu emprego pelos próximos meses – algo raro numa profissão de altos e baixos. O salário está acima da média. “Integrantes do coro de um espetáculo de grande porte ganham de R$ 2,5 mil a R$ 4,5 mil. O protagonista pode chegar a R$ 30 mil. Dá para viver bem”, conta.
Mas não é fácil ingressar nesse grupo seleto. Haja preparo, avisa Danilo. “É necessário ter disciplina, estudar e sempre se renovar, senão o ator fica obsoleto de um mês para o outro. Tenho de estudar canto, dança e atuação”, enumera. Danilo está consciente de que, a cada dia, surgem jovens aspirantes ao estrelato. “Não tem essa de dar sorte. Sorte é estar preparado na hora certa”, conclui.
Personagem da notícia
Tim Maia
cantor e compositor
Eterno Síndico
O cantor e compositor Tim Maia (1942 – 1998) introduziu o soul na MPB. Com seu estilo inconfundível, marcou a música brasileira. De temperamento difícil, envolveu-se em inúmeras confusões e polêmicas. Jovem, foi deportado dos Estados Unidos, acusado de roubar um carro e flagrado com drogas. De volta ao país, passou maus bocados antes do sucesso. Estourou em 1970 com a canção Primavera, fundou a gravadora Vitória Régia e brigou por direitos autorais. Tim virou “folclore” por cancelar shows horas antes de entrar no palco. Do “conterrâneo tijucano” Jorge Benjor ganhou o apelido “Síndico”, eternizado na canção W/Brasil. Ultimamente, a homenagem mais insólita a “dom Maia” veio de Gal Costa, que imita seu vozeirão em 'Um dia de domingo', no show 'Recanto'.
Assista a trecho do musical 'Vale tudo – O som e a fúria de Tim Maia':