Um verdadeiro festival de artes visuais está em cartaz em Belo Horizonte. O público tem à disposição grandes exposições coletivas e trabalhos de alta qualidade assinados por uma centena de artistas. Elas põem em foco a produção contemporânea com sua babélica mistura de imaginários, revelando temas fundamentais da arte como múltiplas formas de criação, história, identidade, memória e representação.
AMÉRICA
Até 11 de agosto, Mira! ficará em cartaz no Centro Cultural UFMG. A mostra reúne 127 obras de 54 artistas de 27 etnias de cinco países – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru. Maria Inês de Almeida, curadora da exposição e diretora do espaço mantido pela Universidade Federal de Minas Gerais, explica que a maioria deles tem de 20 a 30 anos. Vários são premiados, com carreira em ascensão. Há nomes consagrados, como Flávio Ochoa, considerado um dos grandes escultores da Bolívia.
Mira! foi dividida em três núcleos: Cosmovisões , Paisagens e História e violência. “Indígenas vivendo de arte é novidade até nas aldeias”, observa Maria Inês. “Se na Semana de Arte Moderna de 1922 vimos artistas brancos antropofagizando a arte indígena, agora criadores indígenas fazem o mesmo com estéticas de outras culturas”, explica ela. O projeto partiu do Núcleo de Pesquisas Literaterras, dedicado à literatura feita por autores indígenas, iniciativa apoiada pelo Itamaraty.
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INTERNACIONAL
Há muito tempo Belo Horizonte não recebia exposições tão instigantes quanto as organizadas pelo Festival Internacional de Fotografia (FIF) em cartaz no Museu Mineiro, no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, no Espaço Cento e Quatro e em estações de metrô.
Até 25 de agosto, o público poderá conferir o talento de 32 artistas de 19 países. Detalhe: sem confinamento da fotografia a um procedimento estabelecido, para usar a feliz expressão dos curadores do FIF. Todos os projetos e realizações são criativos. Vale a pena ler os pequenos textos com a proposta do autor afixados junto das fotos. De forma surpreendente, eles sintetizam a observação poética e o olhar crítico sobre o mundo dos trabalhos, além de sua dimensão estética e social.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Maria Inês de Almeida
. Curadora de Mira!
O que já se sabe sobre arte indígena e o que vale a pena conhecer?
Quando se pensa em arte indígena, pensa-se em artesanato, em repetidores de tradições. Ninguém está atento ao indígena como criador moderno e contemporâneo, com visão singular, crítica e pessoal da história e da sociedade. Temos dificuldade de pensar o índio como indivíduo, sempre o generalizamos. O que existe, de carne e osso, são pataxós, crenaques, ticunas e quetchuas. A exposição traz artistas inseridos numa paisagem cultural, viventes e contemporâneos, convivendo com todos os problemas mundiais, sobretudo os ecológicos, além de questões pertinentes à vida e às relações humanas.
Criadores inseridos em tradição cultural, eles falam língua que não é majoritária, vêm de civilização com cosmologia e mundo próprios, mas vivem no mundo globalizado. Moram na aldeia, mas expõem em São Paulo. Tanto se usa a tela feita de casca de árvore quanto se pinta sobre ela com tinta industrializada fosforescente comprada na cidade, de última geração, como faz qualquer artista. As obras trazem informações ricas e diversificadas de várias matrizes culturais. Acima de tudo, matriz de pensamento e de relação com a arte marcada por vivência que chamamos genericamente de indígena.
Que aspectos merecem ser observados em Mira!?
Como o xamanismo – o contato com outras esferas, passagens e traduções de outras dimensões – é forte gerador de arte para os indígenas. Depois, nota-se a relação com a história e a violência da colonização, marcada pela perda do território originário, por massacres de populações e pela doutrinação com o objetivo de eliminar crenças e valores próprios. E, ainda, a força da ligação dos trabalhos com o território, a paisagem, as árvores e os bichos. É íntima a relação dessa arte com a natureza.
MIRA!
Centro Cultural UFMG, Av. Santos Dumont, 174, Centro, (31) 3409-8290. De segunda a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 18h.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA
Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, Av. Afonso Pena, 737, Centro. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h. Museu Mineiro, Av. João Pinheiro, 342, Funcionários. Terça, quarta e sexta-feira, das 10h às 19h; quinta-feira, das 12h às 21h; sábado e domingo, das 12h às 19h. Cento e Quatro, Praça Rui Barbosa, 104, Centro. De terça-feira a domingo, das 14h às 22h. Estações do metrô de Belo Horizonte. Informações: www.fif.art.br
FOTOGRAFIA BRASILEIRA
Em cartaz até 25 de agosto, no Palácio das Artes. Reúne 89 obras de 48 artistas. O curador Eder Chiodetto “apagou” a distinção entre pioneiros e novíssimos criadores para evidenciar o uso da foto com objetivo plástico e estético, descomprometido com o registro documental. O resultado é exuberante. Veem-se nomes históricos (Geraldo Barros) e aqueles que começam a ter sua obra mais bem conhecida (Germano Lorca) junto de representantes da nova cena da fotografia em BH, saudada com a imagem de Pedro Motta na fachada externa da galeria.
COLEÇÃO ITAÚ
Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h.
FAIANÇA
Bordallianos do Brasil está em cartaz no Museu de Artes e Ofícios. Notável artista gráfico, o português Rafael Bordallo Pinheiro (1846 –1905) deixou obra extensa, influente e admirada. Na mostra em cartaz em BH podem-se ver faianças artísticas, aspecto pouco conhecido do trabalho dele. O projeto reúne peças de Bordallo e releituras de sua obra por artistas contemporâneos brasileiros e portugueses, a partir de moldes das peças originais. O choque entre a arte atual e a porcelana tradicional gerou um conjunto de insólita exuberância.
BORDALLIANOS DO BRASIL
Museu de Artes e Ofícios, Praça da Estação, s/nº, Centro, (31) 3248-8600. Terça e sexta-feira, das 12h às 19h; quarta e quinta-feira, das 12h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 11h às 17h. Até dia 30.