O plano era absolutamente banal: tocar a campainha. Se ela atendesse, bem, os dois teriam a chance de vê-la frente a frente em seu próprio habitat. Só que não houve retorno algum depois de alguns chamados. E o mais improvável de tudo: a chave estava embaixo do tapete da entrada. Foi mais fácil que tirar doce de criança. Dessa maneira, em outubro de 2008, Rachel Lee, de 18 anos, e Nick Prugo, 17 anos, entraram na casa dos sonhos (deles, é claro). Sem alarde algum, encontraram-se dentro da casa de Paris Hilton, imóvel localizado em Mulholland Oaks, um condomínio fechado na Califórnia (EUA). Fizeram uma limpa geral. Levaram bolsas, roupas, sapatos, acessórios.
Reportagem
A autora da matéria que deu origem ao longa-metragem, Nancy Jo Sales, acabou estendendo a história para o livro-reportagem homônimo, lançado agora no Brasil. O retrato é estarrecedor porque, além de ir atrás dos personagens, a jornalista busca entender sua motivação. “Foi tão fácil...não fizemos nada de tão ruim...não matamos ninguém...não foi assassinato”, afirmou Nick Prugo, um dos poucos integrantes da gangue que permitiu ser entrevistado pela autora. Jovens que não eram ricos como boa parte de sua vizinhança (Calabasas, subúrbio endinheirado de Los Angeles), mas tinham boa situação financeira, não tinham objetivo maior do que vestir roupas de grife, ir a festas e dirigir carrões. E usar drogas de vez em quando, nada muito diferente do que os famosos a quem roubavam.
No relato, Nancy Jo Sales vai mostrando como a geração Bling Ring se comporta: obsessão por celebridades, narcisismo exacerbado, total falta de objetivos reais. “Era uma dessas histórias mais estranhas do que a ficção, que tocam fundo no espírito de uma época, e no seu ponto mais sensível, abordando temas como crime, juventude, celebridade, internet, redes sociais (os garotos alardeavam suas façanhas no Facebook), reality shows e a própria mídia... Os limites entre ‘celebridade’ e ‘realidade’ estavam desaparecendo num ritmo vertiginoso”, escreveu a autora.
De Nancy Jo Sales. Editora Intrínseca, 272 páginas. R$ 24,90 (impresso) e R$ 14,90 (e-book).
A gangue, cinco anos depois
• Alexis Neiers
Condenada a 180 dias de prisão, a ex-participante de reality show cumpriu 30 dias, além de três anos de liberdade condicional. No fim de 2010, foi novamente presa, por posse de heroína. Hoje com 21 anos, é casada (conheceu o marido no AA) e mãe. Sua vida está documentada no site itsalexisneiers.com. No cinema, é interpretada por Emma Watson, a mocinha de Harry Potter.
• Nick Prugo
Sem papas na língua, o integrante da Bling Ring entregou tudo para a polícia e a imprensa. Não contestou os arrombamentos nas casas de Lindsay Lohan e Audrina Patridge. Deixou a prisão em abril, pouco antes do lançamento do filme de Sofia Coppola em Cannes.
• Jonathan Ajar
Mais velho dos integrantes e com passagens anteriores pela polícia. Hoje é superativo nas redes sociais (com o apelido de Jonnie Dangerous).
• Diana Tamayo
Com pena cumprida, incluindo 60 dias de serviço comunitário, hoje afirma ser fiel devota a Deus. E dos exercícios físicos também.
• Rachel Lee
Apontada por Nick Prugo como a líder da Bling Ring, recebeu a maior sentença de todos: quatro anos de prisão. Cumpriu metade da pena e entrou em liberdade condicional no fim de março.
• Courtney Ames
Outra que levou sentença leve: três anos de liberdade condicional e 60 dias de serviço comunitário. Sumiu do mapa.
• Roy Lopez
Cumpriu 100 dias na prisão e hoje seu paradeiro é desconhecido.